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Quero mostrar que somos normais, diz Miss Trans Israel

Em Tel Aviv

13/09/2016 13h51

Árabe, israelense, cristã e transexual: Talleen Abu Hanna, que encarna muitas identidades conflitantes no Oriente Médio, viaja nesta terça-feira (13) para Barcelona, na Espanha, para concorrer ao título de Miss Trans Star 2016, o concurso de beleza trans mais importante da Europa.

A jovem de 22 anos é procedente de Nazaré, uma cidade com minoria de população árabe cristã no norte de Israel, país que representará neste fim de semana ao lado de outras 28 candidatas de todo o mundo após se credenciar ao vencer em maio a primeira edição local do Miss Trans.

"Eu adoro viver em Israel, porque a sociedade deste país aceita a mudança. Sinto-me privilegiada. Tenho amigas do mundo árabe que não podem mudar, que têm que ir para outros lugares para que possam ter uma vida como mulheres. Tenho muita sorte", disse Talleen horas antes de embarcar rumo a Barcelona, onde já esteve em duas ocasiões.

A liberdade de poder ser como deseja, de se vestir como quiser, de escolher seu gênero e de não ser discriminada pesa para ela mais que o conflito entre palestinos e israelenses.

Poucos são os árabes-israelenses dispostos a representar o país em algum âmbito e, muito menos, a vestir a estrela de Davi, símbolo do judaísmo, mas ela garante que irá fazê-lo com orgulho, porque este é o lugar onde alcançou seu maior desejo: ser mulher.

Talleen reconheceu que ainda falta muito para ser feito no país, no qual existem entre 2 e 2,5 mil mulheres transexuais, segundo o Escritório LGBT de Tel Aviv, a cidade mais aberta para este coletivo em todo o Oriente Médio e que pouco tem a ver com o resto de Israel e, em particular, com Jerusalém, reduto de três religiões.

Enquanto fala, Talleen exibe uma tatuagem em seu punho direito que diz "minha mãe" em árabe, a única de sua família e de seu entorno que lhe deu apoio incondicional desde que passou a mostrar muito cedo, sem esconder, "um comportamento muito feminino", de acordo com seus próprios relatos.

Seu pai não aceita sua escolha e ela mantém com suas irmãs uma relação muito distante, mas as dificuldades não abalaram seu espírito combativo, que lhe rendeu o título de Miss Trans Israel, com um emotivo discurso sobre a beleza dos seres humanos.

"Nós queremos expressar nossas ideias, nossas vidas. Devemos elevar nossa mensagem, com mais força, para transformar a perspectiva da sociedade. Cada um tem seu mundo e podemos viver a nossa maneira, sem incomodar os demais", disse Talleen.

"Ganhe quem ganhar, o importante é que a vencedora transmita uma mensagem de paz e de honra. Que nos represente como pessoas normais e não como gente que sofre de alguma loucura ou transtorno", afirmou a jovem.

Talleen entende que o concurso trans não tem a ver só com moda e beleza, mas a coloca "em uma posição" na qual ela representa "toda a comunidade LGBT no mundo".

"Quero mostrar que somos como todos, que somos normais, que podemos trabalhar", concluiu a jovem.