Refugiado sírio vive "inferno burocrático" no Líbano
Susana Samhan.
Dbaye (Líbano), 25 out (EFE).- Fazia duas semanas que Mohammed não dormia, e a cada dia que passa sua ansiedade aumenta porque resta menos tempo para sua expulsão do Líbano, após viver um inferno administrativo desde sua chegada como refugiado procedente da Síria há três anos e meio.
Este sírio, que vive junto com sua esposa, Marwah, e dois filhos em uma humilde casa em Dbaye, ao norte de Beirute, fica sem palavras quando se pergunta a ele aonde pensa ir dentro de 15 dias, prazo que lhe deram as autoridades libanesas para sair do país.
"Desde que cheguei aqui fiz tudo legalmente e apresentei um aval (libanês), estou cem por cento legal, para que no final me dizerem que não vivo com a pessoa que me aprovou e que ela não serve", lamentou Mohammed.
Retornar para a Síria não é uma opção para este homem original da região de Al Qalamoun, na fronteira com o Líbano, porque é procurado pelas autoridades por não prestar o serviço militar, além de ter parentes ligados ao rebelde Exército Livre Sírio (ELS), embora ele garanta que jamais tenha usado armas.
"Não voltaria à Síria nem se me dessem um milhão de dólares", afirmou.
Enquanto fala, Mohammed, de 37 anos, mostra papéis que tira de uma bolsa de plástico para ilustrar o longo processo administrativo pelo qual passou desde sua chegada ao Líbano.
"Como todos os sírios, no começo eu ia a cada seis meses renovar meu visto, até que um dia não pude fazê-lo e, após consultar um advogado, fiquei sabendo que era procurado desde 2002 pela justiça libanesa", se queixou.
Mohammed, que antes do início do conflito na Síria tinha residido temporariamente no Líbano, descobriu que era acusado do roubo de um televisor. "Mas não fui eu, na denúncia estava que o autor do roubo tinha nascido em 1991 e eu nasci em 1979", detalhou.
Quando conseguiu provar sua inocência, as forças de segurança libanesas lhe disseram que tinha entrado de maneira irregular vindo da Síria, mas, segundo Mohammed, após um telefonema ao posto de controle da fronteira, ficou comprovado que ele tinha entrado no Líbano corretamente.
Enquanto isso, as autoridades do país de acolhida ficaram com seu passaporte, e com isso ele não podia trabalhar no Líbano. Suas viagens e vindas entre Dbaye e Beirute para acertar seus papéis foram incessantes durante estes anos.
A vida também não foi fácil no Líbano para Marwah, de 23 anos, e seus filhos Jawad e Yudi, de dez e oito anos, respectivamente.
Para ganhar algum dinheiro, Marwah se dedica a descascar e preparar verduras por 1.000 libras libanesas por quilograma (US$ 0,65) e Jawad trabalha em uma barraquinha de alimentos.
"A vida é dura, as crianças não recebem educação, não vão para a escola e eu fico em casa e preparo verduras", se queixou a refugiada.
Apesar de não ter sua documentação para trabalhar, Mohammed contribui também para a economia familiar com as gorjetas que ganha como mensageiro e carregando coisas para os vizinhos de um prédio próximo.
A família vive em uma pequena casa, de apenas um quarto e com um banheiro com ducha, onde comem, dormem e passam o dia.
Mohammed tentou buscar ajuda da ONU. "Quando lhes expliquei meu caso me disseram que não podiam me ajudar, o único conselho que me deram é que deixasse minha casa e mudasse meu número de telefone (para evitar sua expulsão do Líbano)", detalhou.
Segundo dados do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), mais de um milhão de refugiados sírios residem no Líbano, que tem mais de quatro milhões de habitantes.
Desde 2015, as autoridades libanesas aplicam uma série de restrições para os sírios que entram e para a renovação do visto dos que já estavam em seu território.
Consultada pela Efe, uma porta-voz do Acnur no Líbano afirmou que não registraram nenhum caso de nenhum refugiado sírio expulso do país desde a entrada em vigor das restrições em 2015, nem nenhuma situação similar à de Mohammed.
Seja como for, a contagem regressiva para Mohammed continua perante um futuro incerto que não sabe aonde o levará.
Dbaye (Líbano), 25 out (EFE).- Fazia duas semanas que Mohammed não dormia, e a cada dia que passa sua ansiedade aumenta porque resta menos tempo para sua expulsão do Líbano, após viver um inferno administrativo desde sua chegada como refugiado procedente da Síria há três anos e meio.
Este sírio, que vive junto com sua esposa, Marwah, e dois filhos em uma humilde casa em Dbaye, ao norte de Beirute, fica sem palavras quando se pergunta a ele aonde pensa ir dentro de 15 dias, prazo que lhe deram as autoridades libanesas para sair do país.
"Desde que cheguei aqui fiz tudo legalmente e apresentei um aval (libanês), estou cem por cento legal, para que no final me dizerem que não vivo com a pessoa que me aprovou e que ela não serve", lamentou Mohammed.
Retornar para a Síria não é uma opção para este homem original da região de Al Qalamoun, na fronteira com o Líbano, porque é procurado pelas autoridades por não prestar o serviço militar, além de ter parentes ligados ao rebelde Exército Livre Sírio (ELS), embora ele garanta que jamais tenha usado armas.
"Não voltaria à Síria nem se me dessem um milhão de dólares", afirmou.
Enquanto fala, Mohammed, de 37 anos, mostra papéis que tira de uma bolsa de plástico para ilustrar o longo processo administrativo pelo qual passou desde sua chegada ao Líbano.
"Como todos os sírios, no começo eu ia a cada seis meses renovar meu visto, até que um dia não pude fazê-lo e, após consultar um advogado, fiquei sabendo que era procurado desde 2002 pela justiça libanesa", se queixou.
Mohammed, que antes do início do conflito na Síria tinha residido temporariamente no Líbano, descobriu que era acusado do roubo de um televisor. "Mas não fui eu, na denúncia estava que o autor do roubo tinha nascido em 1991 e eu nasci em 1979", detalhou.
Quando conseguiu provar sua inocência, as forças de segurança libanesas lhe disseram que tinha entrado de maneira irregular vindo da Síria, mas, segundo Mohammed, após um telefonema ao posto de controle da fronteira, ficou comprovado que ele tinha entrado no Líbano corretamente.
Enquanto isso, as autoridades do país de acolhida ficaram com seu passaporte, e com isso ele não podia trabalhar no Líbano. Suas viagens e vindas entre Dbaye e Beirute para acertar seus papéis foram incessantes durante estes anos.
A vida também não foi fácil no Líbano para Marwah, de 23 anos, e seus filhos Jawad e Yudi, de dez e oito anos, respectivamente.
Para ganhar algum dinheiro, Marwah se dedica a descascar e preparar verduras por 1.000 libras libanesas por quilograma (US$ 0,65) e Jawad trabalha em uma barraquinha de alimentos.
"A vida é dura, as crianças não recebem educação, não vão para a escola e eu fico em casa e preparo verduras", se queixou a refugiada.
Apesar de não ter sua documentação para trabalhar, Mohammed contribui também para a economia familiar com as gorjetas que ganha como mensageiro e carregando coisas para os vizinhos de um prédio próximo.
A família vive em uma pequena casa, de apenas um quarto e com um banheiro com ducha, onde comem, dormem e passam o dia.
Mohammed tentou buscar ajuda da ONU. "Quando lhes expliquei meu caso me disseram que não podiam me ajudar, o único conselho que me deram é que deixasse minha casa e mudasse meu número de telefone (para evitar sua expulsão do Líbano)", detalhou.
Segundo dados do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), mais de um milhão de refugiados sírios residem no Líbano, que tem mais de quatro milhões de habitantes.
Desde 2015, as autoridades libanesas aplicam uma série de restrições para os sírios que entram e para a renovação do visto dos que já estavam em seu território.
Consultada pela Efe, uma porta-voz do Acnur no Líbano afirmou que não registraram nenhum caso de nenhum refugiado sírio expulso do país desde a entrada em vigor das restrições em 2015, nem nenhuma situação similar à de Mohammed.
Seja como for, a contagem regressiva para Mohammed continua perante um futuro incerto que não sabe aonde o levará.
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