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Fidel Castro ainda ecoa nas Nações Unidas

26.set.1960 - Vestido com seu tradicional uniforme militar, Fidel Castro se dirige ao plenário na ONU no discurso mais longo já proferido na Assembleia-Geral, em Nova York - AP
26.set.1960 - Vestido com seu tradicional uniforme militar, Fidel Castro se dirige ao plenário na ONU no discurso mais longo já proferido na Assembleia-Geral, em Nova York Imagem: AP

Em Nova York

26/11/2016 17h52

As palavras ditas por Fidel Castro em seus discursos na Organização das Nações Unidas (ONU) ainda ecoam na sede do organismo, começando por seu primeiro pronunciamento, o de 1960, considerado um dos mais longos da história da organização.

Foi em setembro de 1960, vestindo verde-oliva e então primeiro-ministro, que o líder cubano descreveu durante quatro horas e vinte e nove minutos o que qualificou como a "linha" do governo surgido após a Revolução que culminou em 1959 com Fidel Castro à frente.

"Apesar de terem nos dado a fama de nos estendermos muito na fala, não se preocupem. Vamos fazer o possível para sermos breve e expressarmos o que entendemos que é nosso dever expressarmos aqui": foram as primeiras palavras de Fidel Castro na Assembleia Geral da ONU.

Nessa ocasião, ele se queixou do "confinamento" a que a delegação cubana em Manhattan tinha sido submetida, do tratamento "vexaminoso" e supostas "ordens" aos hotéis da ilha para que não oferecessem quartos. Lembrou que "o problema de Cuba" partia do fato que era "uma colônia dos Estados Unidos", e antes tinha se submetido "ao jugo colonial espanhol".

Após uma longa exposição sobre as raízes do colonialismo e as razões que levaram à Revolução, Fidel descreveu os primeiros passos de seu governo, incluindo a reforma agrária para terminar com os "monopólios norte-americanos".

"É possível que nos acusem depois de estar dando maus conselhos nesta assembleia, mas não é o nosso propósito (...) Estamos simplesmente expondo os fatos, ainda que eles sejam suficientes para tirar qualquer sonho de qualquer um", disse ele.

Apoiado por algumas notícias que leu, ele se queixou das interferências dos Estados Unidos em Cuba, com um discurso destinado a insuflar ânimos na América Latina para seguir caminhos parecidos ao de seu país.

"Até quando a América Latina via ficar esperando para seu desenvolvimento?", questionou.

Fidel fechou seu discurso lendo parte dos princípios revolucionários aprovados na Assembleia Nacional de Cuba, e não voltou a participar de encontros na ONU até 12 de outubro de 1979. Dessa vez, falou em nome do Movimento dos Países Não Alinhados, que fez uma reunião em Havana, e, como em seu discurso anterior, fez um longo repasse sobre a visão de Cuba sobre alguns temas da agenda internacional.

Fidel Castro expressou a necessidade de que, além dos direitos humanos, é preciso abordar "os direitos da humanidade", e ressaltou as desigualdades mundiais entre nações ricas e pobres e a necessidade de reduzir as brechas econômicas.

"Para que serve a consciência do homem? Para que servem as Nações Unidas?", questionou Fidel, também de verde-oliva, em meio a aplausos no plenário da ONU.

Outro discurso de destaque foi o de 1995, para os 50 anos da ONU, em um pronunciamento muito mais curto do que os anteriores, quando Cuba sofria o colapso progressivo da esfera soviética de poder. Na ocasião, ele afirmou que a corrida armamentista e a hegemonia militar continuavam, mesmo com o fim da Guerra Fria.

A última visita do líder cubano à ONU foi em setembro de 2000, oito anos antes de passar o cargo de presidente a seu irmão Raúl, quando participou da Cúpula do Milênio e fez uma breve participação. Dessa vez ele lamentou que uns poucos países desenvolvidos e ricos, e que monopolizam o poder, estavam reunidos para oferecer mais do mesmo.

Ele pediu à ONU para que atuasse "antes que seja tarde demais", para "salvar o mundo não só da guerra", mas também do subdesenvolvimento, da fome, das doenças, da pobreza e da destruição dos meios naturais.

"O sonho de conseguir normas verdadeiramente justas e racionais que rejam os destinos muitos, para muitos parece impossível. Nossa convicção é que a luta pelo impossível deve ser o tema desta instituição que hoje nos reúne", acrescentou.

Fidel não voltou mais à ONU. Raúl só fez sua estreia na Assembleia Geral da organização no ano passado, meses depois do início do degelo das relações entre Estados Unidos e Cuba. Porém, seja com as palavras de Raúl ou com a de outros altos funcionários que foram periodicamente à entidade, a mensagem que Cuba levou à ONU mudou pouco dos princípios que Fidel defendeu nos fóruns.