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Expansão ao Leste: Do entusiasmado retorno à Europa ao euroceticismo

23/03/2017 18h50

Antonio Sánchez

Viena, 23 mar (EFE).- Mais de uma década após a integração, a maioria dos países que ficaram meio século sob o domínio da URSS continua buscando o equilíbrio entre as vantagens e as obrigações de pertencer à União Europeia (UE), que completa no próximo sábado o 60° aniversário da assinatura dos tratados que deram origem à fundação.

Em 2004, ocorreu a maior expansão até agora da UE. Dos dez novos membros, oito eram do Leste: República Tcheca, Eslováquia, Eslovênia, Estônia, Hungria, Letônia, Lituânia e Polônia.

Esta entrada foi interpretada como o triunfo da democracia e do capitalismo, e as economias destes países se beneficiaram do mercado comum e dos fundos de coesão. Mas, diante das crises, como a do resgate à Grécia e a dos refugiados, alguns deles rejeitaram políticas comuns, vistas como uma imposição exterior.

A diferença mais visível ocorreu nos planos de realocação de refugiados, aos quais se opõe o Grupo de Visegrado (República Tcheca, Eslováquia, Hungria e Polônia).

Em geral, estes países desconfiam de uma maior integração que, acreditam, só beneficia os grandes Estados da UE, e defendem em maior ou menor grau uma renacionalização de competências.

"Esse processo, infelizmente, esteve unido a uma UE muito tecnocrata e economicista na qual se acentuaram, sobretudo, as vantagens econômicas da adesão", disse o analista político tcheco Jiri Pehe.

"Muitos não entendem até hoje o princípio básico da solidariedade e cooperação, pilares da UE", resumiu.

A entrada na UE teve um grande significado, já que o "retorno à Europa" desses países tinha sido um dos fatores que impulsionou a revolução contra a ditadura comunista.

Esse desequilíbrio entre integração no livre mercado e carências políticas é visto na Hungria, um dos países que mais criticou a concepção federalista da UE.

"A Hungria está totalmente integrada no aspecto econômico. No político ocorre o contrário, especialmente desde 2010", disse Attila Juhász, do instituto Political Capital.

Neste ano, o partido conservador Fidesz, do primeiro-ministro Viktor Orbán, ganhou as eleições com maioria absoluta, e suas críticas à UE denunciaram o que ele considera uma tentativa de anular os Estados nacionais.

A intenção de Bruxelas de dar uma resposta solidária à crise dos refugiados com um repartição por cotas foi o maior, embora não o único, ponto de conflito.

Orbán não escondeu sua simpatia tanto pelo presidente russo, Vladimir Putin, como pelo americano, Donald Trump, nenhum deles partidários de uma UE forte.

Talvez a regressão democrática mais problemática seja a da Polônia, a sexta maior economia da UE e a maiora benfeitora líquida de fundos: só em 2015 o país recebeu 13,4 bilhões de euros.

O secretário-geral do governamental partido Lei e Justiça, Jaroslaw Kaczynski, o homem forte na Polônia, tem grandes discordâncias em relação a Orbán - a relação com a Rússia é uma -, mas os dois se unem na rejeição à imigração, ao nacionalismo étnico e religioso e à obsessão por controlar os meios do poder.

Tanto o Parlamento Europeu como a Comissão traçaram linhas vermelhas a Varsóvia para que respeite o Estado de direito e a separação de poderes, enquanto o governo vê estas ações como uma ingerência.

Para a Romênia, que entrou, junto com a Bulgária, com três anos de atraso com relação ao resto das ex-ditaduras socialistas, foram também evidentes as vantagens econômicas da UE: seu PIB passou de 98 bilhões para 158 bilhões de euros em dez anos.

A influência e as pressões de Bruxelas contribuíram para melhorar as instituições e reduzir a corrupção, embora o país siga muito atrasado em relação à maioria dos parceiros.

Pelo menos três milhões de romenos saíram do país desde a entrada na UE, em meio à frustração de ver o não cumprimento do sonho de se equiparar ao nível de vida do Ocidente.

Na Bulgária, onde o PIB per capita subiu 22% desde 2007, a entrada na UE foi vista como uma recuperação da identidade nacional, que ficou diluída dentro do bloco soviético.

"Ao contrário dos países fundadores, cuja participação no projeto estava acima de sua identidade nacional e por isso não é um problema a renúncia à soberania, a integração da Europa Central e da Oriental na UE foi uma guinada rumo a sua identidade", considera Vesela Cherneva, do laboratório de ideias Conselho Europeu de Política Externa, em Sófia.