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"Minhas forças desapareceram": testemunha relata momento de ataque químico na Síria

4.abr.2017 - Bebê é atendido em hospital de Khan Sheikhoun, no norte da Síria, após um suposto bombardeio químico - AFP PHOTO / Mohamed al-Bakour - AFP PHOTO / Mohamed al-Bakour
Bebê é atendido em hospital de Khan Sheikhoun após um suposto bombardeio químico
Imagem: AFP PHOTO / Mohamed al-Bakour

Susana Samhan

No Cairo

05/04/2017 09h46

"O que mais me comoveu foi a visão dos feridos nas ruas e dos asfixiados em suas casas enquanto dormiam", disse nesta quarta-feira à Agência Efe Osama al Siada, uma testemunha do suposto ataque químico de ontem na cidade síria de Khan Shaikhun.

Al Siada, que é presidente do opositor Conselho Local de Khan Shaykhun, despertou ontem com o som dos bombardeios que ocorreram a cerca de 700 metros de sua casa.

Pouco depois do ataque, "nos dirigimos ao local com máscaras normais, nos aproximamos pouco a pouco com o temor de ficarmos feridos e preparamos água para espalhar pelo lugar e salpicar nos feridos", narrou em uma conversa pela internet com a Agência Efe.

"Infelizmente, não houve tempo suficiente para que as equipes da Defesa Civil e as ambulâncias pudessem cuidar de todos os feridos e isto levou à morte de muitos", lamentou.

Al Siada afirmou que pela região se espalhou um cheiro difícil de descrever. "Era bem difícil respirar e tossíamos", detalhou.

Ao chegar ao local, Al Siada conta que ficou consternado quando comprovou que entre os afetados de asfixia e feridos pelo ataque havia pessoal da área da saúde.

Os feridos, lembrou, apresentavam paralisias corporal, dificuldade para respirar, espumavam pela boca, tossiam e tremiam.

Para Al Siada, o pior momento foi quando constatou que havia um grande número de afetados pelo bombardeio e que as equipes de resgate não eram suficientes e nem estavam preparadas para cuidar das vítimas.

"Minhas forças desapareceram, sentia que seríamos incapazes de salvar suas vidas", lamentou.

Perante a escassez de ambulâncias e de pessoal médico, muitos moradores levaram os feridos em seus próprios veículos a hospitais e centros médicos fora de Khan Shaykhun.

Nesse sentido, Al Siada destacou que pouco depois do suposto bombardeio com gases, pelo qual acusou aviões governamentais, houve um ataque aéreo de aparatos russos que teve como alvo o único centro sanitário de Khan Shaykhun, que ficou fora de serviço.

"Khan Shaykhun é hoje em dia uma população sem nenhum hospital, não há remédios, não se pode tratar ninguém -acrescentou. O centro hospitalar mais próximo está a 25 quilômetros".

De fato, segundo Al Siada, todos os afetados pelo suposto ataque químico foram levados para fora da cidade para receber tratamento.

Al Siada explicou que havia o grande número de menores entre os mortos e feridos se deve porque o bombardeio teve como alvo zonas residenciais, onde havia muitos deslocados procedentes de outras áreas.

Durante o dia de hoje, várias famílias da cidade enterraram os mortos pelo ataque.

De acordo com os dados de Al Siada, Khan Shaykhun conta com 75 mil habitantes, dos quais 12.490 são deslocados originais de outros lugares.

Al Siada afirmou que nenhuma facção controla a cidade e que não há nenhum quartel de grupos armados em seu interior, mas que "na zona está presente de forma geral a organização de Libertação do Levante (ex-filial síria da Al Qaeda) e o Exército da Honra".

De acordo com a última apuração oferecida hoje pelo Observatório Sírio de Direitos Humanos, pelo menos 72 pessoas, entre elas 20 menores e 17 mulheres, perderam a vida pelo suposto bombardeio químico de ontem, do qual o governo sírio e a oposição se acusaram mutuamente.

A Defesa Civil Síria informou sobre 50 mortos e 300 feridos por este ataque.