As sete vidas de François Fillon
Enrique Rubio.
Paris, 21 abr (EFE).- François Fillon assistiu tantas vezes a seu próprio funeral político que, chegada a hora da verdade, ninguém se atreve a dar por vencido um candidato que quer compensar com seu programa uma imagem manchada por casos de corrupção.
O fato de que Fillon tem mais vidas que um gato ficou comprovado quando foi escolhido, contra todos os prognósticos, como candidato da centro-direita à presidência da França nas primárias de novembro do ano passado.
Apesar de ter começado aquela campanha com menos de 10% das intenções de voto nas pesquisas, sua atuação nos debates e, sobretudo, o apoio de algumas bases que reivindicavam um candidato claramente direitista lhe valeram uma contundente vitória sobre o moderado Alain Juppé.
Àquela altura, só um cataclismo poderia impedir sua chegada ao Palácio do Eliseu. E o cataclismo chegou em forma de escândalo de corrupção.
Meses antes, para atacar seu rival Nicolas Sarkozy, Fillon tinha usado uma frase que se voltou contra ele mesmo como um bumerangue: "Quem imaginaria o general De Gaulle indiciado?".
O ex-primeiro-ministro precisa agora de uma proeza ainda maior para vencer as eleições.
Houve dias durante a campanha em que nem seus mais ferrenhos defensores apostavam em sua candidatura.
Especialmente, após as demissões de seu responsável de Exteriores, Bruno Le Maire, seu porta-voz, Thierry Solère, e seu diretor de campanha, Patrick Stefanini, quando Fillon foi acusado em março de conceder empregos fantasmas durante anos a sua mulher, Penelope, e a dois de seus filhos.
Apesar de ter assegurado em janeiro que renunciaria se finalmente fosse indiciado, Fillon apostou em seu programa de governo, com o qual pretende convencer os eleitores que querem um verdadeiro giro para a direita.
O candidato neutralizou a ameaça latente de Juppé, mobilizou milhares de pessoas em seu apoio aos pés da Torre Eiffel, e sua capacidade para encaixar os golpes como um boxeador veterano fez o resto.
Com a aparência sempre impecável - os ternos de luxo que ganhou de presente também lhe deram dores de cabeça -, ar impetuoso e sorriso sardônico, Fillon aguentou os ataques de seus oponentes consciente de que, uma vez chegadas as eleições, só os franceses poderão decidir sobre seu futuro.
Se for eleito presidente, Fillon gozará de imunidade durante pelo menos cinco anos. Se não, é provável que deva prestar contas perante a Justiça por desvio de recursos públicos, entre outros delitos.
Nascido em Le Mans, em 1954, em uma família de tradição gaullista (mãe historiadora, pai tabelião), define como "radical" seu projeto para a França, no qual combina medidas liberais na economia e conservadoras no social.
Após estudar Direito, Fillon admite que entrou na política por acaso, como assessor parlamentar do deputado Joël Le Theule em 1976, e acredita que essa falta de ambição inicial foi um trunfo que lhe permitiu não passar pelas frustrações de cada etapa. Antes, foi estagiário da agência da notícias francesa "AFP".
Ministro de Educação Superior no Executivo de Édouard Balladur, titular de Tecnologias da Informação e ministro das Telecomunicações no de Juppé, também esteve à frente das pastas de Assuntos Sociais (2002-2004) e Educação (2004).
Como chefe do Executivo, Fillon foi o único premiê a cumprir um quinquênio presidencial completo, de maio de 2007 a maio de 2012.
De seu trabalho em Matignon, sede do governo, fica sua aposta pelo rigor orçamentário e a reforma da previdência, na qual aumentou a idade mínima de aposentadoria de 60 para 62 anos.
Agora, Fillon pretende ir mais longe em seu programa liberal, com a extinção de meio milhão de cargos públicos e a eliminação de um emblema socialista, a jornada de trabalho de 35 horas.
Seu período pós-governo ficou marcado pela polêmica eleição interna do partido União por um Movimento Popular (UMP), atual Os Republicanos, na qual ele e o outro candidato, Jean-François Copé, se acusaram mutuamente de fraude.
Quando Sarkozy e Juppé anunciaram sua intenção de concorrer à presidência, a sorte de Fillon parecia acabada. No domingo terá que demonstrar que ainda restam vidas para gastar.
Paris, 21 abr (EFE).- François Fillon assistiu tantas vezes a seu próprio funeral político que, chegada a hora da verdade, ninguém se atreve a dar por vencido um candidato que quer compensar com seu programa uma imagem manchada por casos de corrupção.
O fato de que Fillon tem mais vidas que um gato ficou comprovado quando foi escolhido, contra todos os prognósticos, como candidato da centro-direita à presidência da França nas primárias de novembro do ano passado.
Apesar de ter começado aquela campanha com menos de 10% das intenções de voto nas pesquisas, sua atuação nos debates e, sobretudo, o apoio de algumas bases que reivindicavam um candidato claramente direitista lhe valeram uma contundente vitória sobre o moderado Alain Juppé.
Àquela altura, só um cataclismo poderia impedir sua chegada ao Palácio do Eliseu. E o cataclismo chegou em forma de escândalo de corrupção.
Meses antes, para atacar seu rival Nicolas Sarkozy, Fillon tinha usado uma frase que se voltou contra ele mesmo como um bumerangue: "Quem imaginaria o general De Gaulle indiciado?".
O ex-primeiro-ministro precisa agora de uma proeza ainda maior para vencer as eleições.
Houve dias durante a campanha em que nem seus mais ferrenhos defensores apostavam em sua candidatura.
Especialmente, após as demissões de seu responsável de Exteriores, Bruno Le Maire, seu porta-voz, Thierry Solère, e seu diretor de campanha, Patrick Stefanini, quando Fillon foi acusado em março de conceder empregos fantasmas durante anos a sua mulher, Penelope, e a dois de seus filhos.
Apesar de ter assegurado em janeiro que renunciaria se finalmente fosse indiciado, Fillon apostou em seu programa de governo, com o qual pretende convencer os eleitores que querem um verdadeiro giro para a direita.
O candidato neutralizou a ameaça latente de Juppé, mobilizou milhares de pessoas em seu apoio aos pés da Torre Eiffel, e sua capacidade para encaixar os golpes como um boxeador veterano fez o resto.
Com a aparência sempre impecável - os ternos de luxo que ganhou de presente também lhe deram dores de cabeça -, ar impetuoso e sorriso sardônico, Fillon aguentou os ataques de seus oponentes consciente de que, uma vez chegadas as eleições, só os franceses poderão decidir sobre seu futuro.
Se for eleito presidente, Fillon gozará de imunidade durante pelo menos cinco anos. Se não, é provável que deva prestar contas perante a Justiça por desvio de recursos públicos, entre outros delitos.
Nascido em Le Mans, em 1954, em uma família de tradição gaullista (mãe historiadora, pai tabelião), define como "radical" seu projeto para a França, no qual combina medidas liberais na economia e conservadoras no social.
Após estudar Direito, Fillon admite que entrou na política por acaso, como assessor parlamentar do deputado Joël Le Theule em 1976, e acredita que essa falta de ambição inicial foi um trunfo que lhe permitiu não passar pelas frustrações de cada etapa. Antes, foi estagiário da agência da notícias francesa "AFP".
Ministro de Educação Superior no Executivo de Édouard Balladur, titular de Tecnologias da Informação e ministro das Telecomunicações no de Juppé, também esteve à frente das pastas de Assuntos Sociais (2002-2004) e Educação (2004).
Como chefe do Executivo, Fillon foi o único premiê a cumprir um quinquênio presidencial completo, de maio de 2007 a maio de 2012.
De seu trabalho em Matignon, sede do governo, fica sua aposta pelo rigor orçamentário e a reforma da previdência, na qual aumentou a idade mínima de aposentadoria de 60 para 62 anos.
Agora, Fillon pretende ir mais longe em seu programa liberal, com a extinção de meio milhão de cargos públicos e a eliminação de um emblema socialista, a jornada de trabalho de 35 horas.
Seu período pós-governo ficou marcado pela polêmica eleição interna do partido União por um Movimento Popular (UMP), atual Os Republicanos, na qual ele e o outro candidato, Jean-François Copé, se acusaram mutuamente de fraude.
Quando Sarkozy e Juppé anunciaram sua intenção de concorrer à presidência, a sorte de Fillon parecia acabada. No domingo terá que demonstrar que ainda restam vidas para gastar.
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