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"Jovens intrépidos" americanos contrariam alertas e navegarão rumo a Cuba

27/10/2017 06h00

Rafael Salido.

Washington, 27 out (EFE).- Um grupo de "jovens intrépidos" americanos decidiu manter os planos de navegar rumo a Cuba, apesar das advertências do Departamento de Estado dos Estados Unidos para que os cidadãos do país não viajem à ilha devido aos misteriosos e recentes ataques sônicos sofridos por diplomatas.

A pequena tripulação do veleiro Harvey Gamage, formada por 15 pessoas, entre elas cinco universitários, saiu do estado do Maine em setembro, fez recente escala em Washington e levantará âncora nesta sexta-feira com o objetivo de chegar em Cuba antes do Dia de Ação de Graças, marcado para 23 de novembro.

A viagem faz parte de um programa da organização Ocean Passages, criado em 2015, que busca formar todos anos um pequeno grupo de jovens. Eles aprendem a navegar e ganham a possibilidade de explorar a beleza da natureza da ilha caribenha.

"Lemos o aviso de viagem e o analisamos criticamente, mas como a tripulação está acostumada a assumir e avaliar riscos, decidimos continuar com a viagem a Cuba porque pensamos ser importante e, além disso, muito emocionante", disse à Agência Efe a coordenadora do programa, Claire Grest.

Um dos tripulantes do veleiro, Cal Randall, que repete a experiência após ter participado da viagem no ano passado, reconheceu ter se surpreendido com as diferenças entre os países.

"Levei um tempo para superar o choque cultural e me libertar dessa barreira", reconheceu Randall, que não hesitou ao afirmar que Cuba é um local mais seguro e tranquilo que muitas cidades nos EUA.

Mas o objetivo da aventura vai muito além da capacitação dos jovens, explicou o presidente da Ocean Passages, Gregory Belanger.

"O navio é o que chamamos de embarcação-escola, o que quer dizer que eles são estudantes e membros da tripulação. Mas também há um propósito mais atual: eles são diplomatas culturais", explicou.

De acordo com Belanger, o objetivo do projeto é, no futuro, contar também com estudantes cubanos na tripulação do veleiro, construído em 1973, transformando-o em um "símbolo extraordinário" da normalização nas relações diplomáticas entre os países.

A meta, no entanto, parece estar cada vez mais longe de ser cumprida do que em 17 de dezembro de 2014, quando o então presidente dos EUA, Barack Obama, e o presidente de Cuba, Raúl Castro, anunciaram o início de um processo de aproximação.

As relações diplomáticas sofreram nos últimos meses um severo revés por causa de uma série de supostos ataques sônicos que afetaram 24 funcionários da embaixada dos EUA em Havana. Como resposta, o presidente do país, Donald Trump, reduziu drasticamente a missão americana na capital cubana.

"Se Trump não nomear formalmente um embaixador dos EUA em Cuba, então as pessoas desta embarcação têm a missão e a obrigação de representar o país como embaixadores de boa vontade", brincou Peter Kornbluh, diretor do projeto de documentação sobre Cuba do Arquivo de Segurança Nacional da Universidade George Washington.

Os jovens se mostram entusiasmados com a ideia de entrar em contato com a população e participar de noites de música e lembranças durante os meses de inverno por toda costa cubana.

Ansiosos por dar sua contribuição à missão diplomática americana no país, a tripulação aproveitou a escala em Washington para se reunir com congressistas e explicar as virtudes do projeto.

"Em alguns casos, Cuba não está na lista de prioridades dos congressistas. Mas, ao poder compartilhar nossa história, ouvimos algumas respostas muito positivas. Inclusive, um deles chamou nossos estudantes de 'intrépidos", disse, orgulhoso, Belanger.