Trump e furacão Irma protagonizaram pesadelos de Cuba em 2017
Lorena Cantó.
Havana, 27 dez (EFE).- A abrupta interrupção do reestabelecimento das relações com os Estados Unidos desencadeada pela chegada à Casa Branca de Donald Trump e a devastadora passagem do furacão Irma nublaram em 2017 o horizonte de Cuba, que se prepara para se despedir de Raúl Castro como presidente do país no ano que vem.
A ilha fecha o ano imersa em um processo eleitoral que deverá terminar em 19 de abril de 2018 com a eleição de um novo presidente que, pela primeira vez em seis décadas, não terá Castro como sobrenome, em mais um passo em direção à mudança geracional defendida pelo próprio líder.
Embora não exista um pronunciamento oficial, espera-se que o poder seja assumido pelo atual primeiro vice-presidente, Miguel Díaz Canel, um engenheiro informático de 57 anos que ganhou visibilidade na imprensa estatal durante os últimos meses.
O processo teve início em novembro com as eleições municipais, nas quais concorreu pela primeira vez uma plataforma cidadã que, sob o nome de #Otro18, tentou lançar candidatos independentes, embora não tenha conseguido, e acusou o governo de perseguir os que se somara ao projeto.
A década no poder de Raúl Castro foi marcada pelas reformas econômicas para atualizar o modelo socialista, mas suas conquistas foram ofuscadas no último ano pelos sucessivos revezes que faziam prever o fechamento de 2017 com déficit, como ocorreu no ano passado, com a primeira recessão em 23 anos.
O PIB cubano subiu 1,6% este ano, embora o Governo tenha antecipado que 2018 voltará a ser um ano de tensões financeiras.
A crise na Venezuela, principal aliado de Cuba, se agravou provocando a redução pela metade dos envios de petróleo subsidiado desse país à ilha.
Com a chegada de Trump à Presidência dos Estados Unidos, a já sobrecarregada economia cubana sofreu um inesperado revés após dois anos em que o processo de reaproximação iniciado no final de 2014 durante o mandato de Barack Obama tinha alimentado as esperanças de prosperidade nos cubanos.
Trump, contrário a esse processo, abandonou a reaproximação em junho, uma guinada política sacramentada com um ato no coração do exílio anti-castrista em Miami, no qual pronunciou um duro discurso contra o regime de Havana e anunciou um endurecimento do embargo financeiro.
As palavras de Trump aborreceram a ilha, embora o governo tenha insistido em sua vontade continuar cooperando com os EUA, desde que fosse feito com respeito e não com interferência em assuntos internos.
Em novembro, Washington materializou a questão proibindo os americanos de fazer negócios com empresas vinculadas ao estamento militar cubano e impondo novas restrições às viagens a Cuba.
Mais de 500 mil americanos viajaram para a ilha neste ano, e por isso essas novas limitações repercutem no setor turístico e nos muitos negócios particulares que surgiram para oferecer serviços a este mercado.
A relação esfriou ainda mais desde agosto, quando os EUA denunciaram que mais de 20 dos seus diplomatas em Cuba sofreram supostos "ataques acústicos" - de origem ainda não esclarecida - que afetaram sua saúde, algo do qual o governo cubano negou ser responsável.
Embora os EUA não acusem Cuba diretamente, responsabilizam suas autoridades de não terem protegido adequadamente os diplomatas, e por isso evacuou mais da metade do pessoal da sua embaixada, suspendeu a entrega de vistos e obrigou o país caribenho a reduzir seus funcionários em Washington.
O golpe mais duro à economia veio em setembro: o poderoso furacão Irma varreu durante dois dias o litoral norte de Cuba, deixando dez mortos e US$ 13 bilhões em prejuízos.
O ciclone destruiu boa parte das infraestruturas turísticas da ilha a poucos meses do início da alta temporada, portanto os esforços se concentraram na recuperação de hotéis e estradas, uma vez que o turismo é a segunda maior atividade econômica do país.
Apesar desta situação, Cuba mantém o fluxo turístico dos últimos dois anos, já tendo superado o recorde de visitantes do ano passado e espera fechar 2017 com mais de 4,7 milhões de viajantes.
Esta "delicada conjuntura" - como define o Governo cubano - se traduziu em falta de pagamentos a fornecedores, o que provocou problemas de desabastecimento de produtos vitais, como remédios e petróleo.
Outro baque na economia foi a paralisação em agosto de algumas das licenças mais procuradas para exercer trabalhos por conta própria, como as de restaurantes privados, aluguel de quartos e professores particulares.
O incipiente "cuentapropismo" (como é chamado o trabalho autônomo no país), que já conta com cerca de 580 mil trabalhadores, tinha se tornado um esperançoso motor econômico, mas o governo decidiu freá-lo temporariamente para "aperfeiçoar" o sistema diante do surgimento de ilegalidades.
Em matéria de relações exteriores, a ilha manteve firmes suas alianças com o bloco bolivariano latino-americano, a China e o Vietnã e intensificou relações políticas, mas sobretudo econômicas, com a Rússia, sua velha aliada.
Em 2017, Cuba também comemorou a entrada em vigor do seu primeiro acordo de diálogo político com a União Europeia, que abre um novo marco nas relações com o bloco.
Havana, 27 dez (EFE).- A abrupta interrupção do reestabelecimento das relações com os Estados Unidos desencadeada pela chegada à Casa Branca de Donald Trump e a devastadora passagem do furacão Irma nublaram em 2017 o horizonte de Cuba, que se prepara para se despedir de Raúl Castro como presidente do país no ano que vem.
A ilha fecha o ano imersa em um processo eleitoral que deverá terminar em 19 de abril de 2018 com a eleição de um novo presidente que, pela primeira vez em seis décadas, não terá Castro como sobrenome, em mais um passo em direção à mudança geracional defendida pelo próprio líder.
Embora não exista um pronunciamento oficial, espera-se que o poder seja assumido pelo atual primeiro vice-presidente, Miguel Díaz Canel, um engenheiro informático de 57 anos que ganhou visibilidade na imprensa estatal durante os últimos meses.
O processo teve início em novembro com as eleições municipais, nas quais concorreu pela primeira vez uma plataforma cidadã que, sob o nome de #Otro18, tentou lançar candidatos independentes, embora não tenha conseguido, e acusou o governo de perseguir os que se somara ao projeto.
A década no poder de Raúl Castro foi marcada pelas reformas econômicas para atualizar o modelo socialista, mas suas conquistas foram ofuscadas no último ano pelos sucessivos revezes que faziam prever o fechamento de 2017 com déficit, como ocorreu no ano passado, com a primeira recessão em 23 anos.
O PIB cubano subiu 1,6% este ano, embora o Governo tenha antecipado que 2018 voltará a ser um ano de tensões financeiras.
A crise na Venezuela, principal aliado de Cuba, se agravou provocando a redução pela metade dos envios de petróleo subsidiado desse país à ilha.
Com a chegada de Trump à Presidência dos Estados Unidos, a já sobrecarregada economia cubana sofreu um inesperado revés após dois anos em que o processo de reaproximação iniciado no final de 2014 durante o mandato de Barack Obama tinha alimentado as esperanças de prosperidade nos cubanos.
Trump, contrário a esse processo, abandonou a reaproximação em junho, uma guinada política sacramentada com um ato no coração do exílio anti-castrista em Miami, no qual pronunciou um duro discurso contra o regime de Havana e anunciou um endurecimento do embargo financeiro.
As palavras de Trump aborreceram a ilha, embora o governo tenha insistido em sua vontade continuar cooperando com os EUA, desde que fosse feito com respeito e não com interferência em assuntos internos.
Em novembro, Washington materializou a questão proibindo os americanos de fazer negócios com empresas vinculadas ao estamento militar cubano e impondo novas restrições às viagens a Cuba.
Mais de 500 mil americanos viajaram para a ilha neste ano, e por isso essas novas limitações repercutem no setor turístico e nos muitos negócios particulares que surgiram para oferecer serviços a este mercado.
A relação esfriou ainda mais desde agosto, quando os EUA denunciaram que mais de 20 dos seus diplomatas em Cuba sofreram supostos "ataques acústicos" - de origem ainda não esclarecida - que afetaram sua saúde, algo do qual o governo cubano negou ser responsável.
Embora os EUA não acusem Cuba diretamente, responsabilizam suas autoridades de não terem protegido adequadamente os diplomatas, e por isso evacuou mais da metade do pessoal da sua embaixada, suspendeu a entrega de vistos e obrigou o país caribenho a reduzir seus funcionários em Washington.
O golpe mais duro à economia veio em setembro: o poderoso furacão Irma varreu durante dois dias o litoral norte de Cuba, deixando dez mortos e US$ 13 bilhões em prejuízos.
O ciclone destruiu boa parte das infraestruturas turísticas da ilha a poucos meses do início da alta temporada, portanto os esforços se concentraram na recuperação de hotéis e estradas, uma vez que o turismo é a segunda maior atividade econômica do país.
Apesar desta situação, Cuba mantém o fluxo turístico dos últimos dois anos, já tendo superado o recorde de visitantes do ano passado e espera fechar 2017 com mais de 4,7 milhões de viajantes.
Esta "delicada conjuntura" - como define o Governo cubano - se traduziu em falta de pagamentos a fornecedores, o que provocou problemas de desabastecimento de produtos vitais, como remédios e petróleo.
Outro baque na economia foi a paralisação em agosto de algumas das licenças mais procuradas para exercer trabalhos por conta própria, como as de restaurantes privados, aluguel de quartos e professores particulares.
O incipiente "cuentapropismo" (como é chamado o trabalho autônomo no país), que já conta com cerca de 580 mil trabalhadores, tinha se tornado um esperançoso motor econômico, mas o governo decidiu freá-lo temporariamente para "aperfeiçoar" o sistema diante do surgimento de ilegalidades.
Em matéria de relações exteriores, a ilha manteve firmes suas alianças com o bloco bolivariano latino-americano, a China e o Vietnã e intensificou relações políticas, mas sobretudo econômicas, com a Rússia, sua velha aliada.
Em 2017, Cuba também comemorou a entrada em vigor do seu primeiro acordo de diálogo político com a União Europeia, que abre um novo marco nas relações com o bloco.
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