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América Latina debate desafio de superar históricas "lacunas" tecnológicas

09/03/2018 16h31

Carlos Meneses Sánchez.

São Paulo, 9 mar (EFE).- O Fórum Econômico Mundial para a América Latina buscará em São Paulo fórmulas para impulsionar uma quarta revolução industrial que representa grandes desafios para a região e, ao mesmo tempo, soluções para acabar com suas históricas "lacunas".

"Explorar como a região pode desenvolver a tecnologia e a inovação em seu próprio benefício" será um dos eixos da versão latino-americana do Fórum de Davos, que reunirá mais de 750 líderes mundiais de diversos setores de 13 a 15 de março em São Paulo.

A quarta revolução industrial é hoje uma realidade inevitável e, ao mesmo tempo, uma mudança radical de paradigma ao buscar o desenvolvimento econômico e social por meio da inteligência artificial, a Internet das Coisas (IoT) e os macrodados.

A América Latina, com uma população que supera 600 milhões de pessoas, parece decidida a não perder esse fio condutor.

"A quarta revolução industrial pode nos ajudar a diminuir e até fechar lacunas, e temos várias, especialmente quanto à qualidade e ao acesso à educação", afirmou à Agência Efe Claudia Vásquez, presidente para a América Latina da CA Technologies, uma das empresas líderes em criação de software que participará do evento.

A executiva cita que na região só um em cada cinco estudantes se gradua com habilidades STEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática), uma estatística que desperta um "alto nível de preocupação" entre as instituições.

O Fórum tentará conectar companhias digitais, investidores, governos e universidades, e reunirá 25 empresas emergentes do Brasil e outras 25 de outros países da América Latina para avançar em um projeto global que pretende criar uma plataforma deste tipo de companhias.

As barreiras que impedem um desenvolvimento amplo da inovação não são poucas em uma região cuja produtividade é hoje um terço da dos Estados Unidos e a penetração da banda larga em seu conjunto é de 59%, 20 pontos percentuais a menos que na Coreia do Sul, de acordo com a OCDE.

A complexidade do desafio aumenta, pois a quarta revolução industrial também equivale a uma interrupção sem precedentes no mercado de trabalho que se traduzirá no desaparecimento de muitas das profissões que se conhecem hoje.

A América Latina está preparada? As estatísticas mostram que não. Segundo um relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT), 47% do total da força de trabalho da América Latina e do Caribe é informal e o desemprego juvenil alcançou em 2017 uma média de 18%.

Assolada pela última crise, a América Latina é uma das regiões mais desiguais do mundo com 30% da sua população abaixo da linha de pobreza.

Essa desigualdade pode aumentar, porque a tecnologia é um dos principais estímulos "para a polarização do emprego e os salários", segundo a OIT.

"Não podemos ficar esperando até formar as novas gerações, é preciso fazer uma reconversão" para "mudar as habilidades" dos profissionais com experiência, sustenta Vásquez.

Algumas companhias já contam com projetos para esta transformação, como o SkillSET, uma iniciativa de Accenture, CA Technologies, Cisco e Hewlett Packard Enterprise (HPE), entre outras, apoiadas pelo Fórum Econômico, com o objetivo de treinar 1 milhão de pessoas para envolvê-las na economia digital.

"A quarta revolução industrial já chegou. As companhias latino-americanas já sabem que têm que inovar", destacou Vásquez, além de ressaltar a importância de investir em cibersegurança, outra grande preocupação do setor.

Além disso, a tecnologia pode acabar com o histórico problema de infraestruturas em áreas remotas da América Latina. A internet, segundo Vásquez, pode levar serviços públicos a cidadãos que nelas vivem e integrá-los à comunidade porque, de outra forma, "levaria muito mais tempo até desenvolver a infraestrutura (física) necessária".