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Coreias selam aproximação com cúpula inimaginável há 1 ano

26/04/2018 07h01

Seul, 26 abr (EFE).- O processo de aproximação entre Coreia do Sul e Coreia do Norte, iniciado nos Jogos de Olímpicos de Inverno após patamares inéditos de tensão, será selado nesta sexta-feira com uma cúpula histórica e inimaginável.

Quase ninguém podia prever que o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, e o presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in, se sentariam à mesma mesa para tentar estabelecer a paz na península e o fim do programa nuclear promovido pelo governo de Pyongyang.

Depois da chegada de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, a Coreia do Norte iniciou uma série de testes de mísseis balísticos e nucleares que provocaram reações enérgicas de Washington e de Seul, novas e firmes sanções internacionais, além de provocar o temor de uma guerra na região.

Também parecia impensável que Trump e o ditador norte-coreano aceitassem se reunir, um encontro previsto para ocorrer em junho, depois de uma série de ameaças e troca de insultos pessoais.

Tudo mudou em janeiro, quando Kim mostrou abertura para dialogar com a Coreia do Sul durante seu discurso de Ano Novo. O ditador anunciou que estava disposto a enviar uma delegação aos Jogos Olímpicos de Inverno, que seriam realizados em fevereiro em PyeongChang, no país vizinho.

Mas uma figura essencial neste processo é o presidente sul-coreano, que chegou ao poder em maio de 2017, disposto a conversar com a Coreia do Norte, revertendo a postura adotada por sua antecessora, Park Geun-hye, que foi presa por corrupção.

A aproximação promovida por Moon, unida à disposição do Norte em dialogar e à suspensão dos testes de mísseis no fim de novembro, geraram frutos nos Jogos Olímpicos de Inverno, um evento repleto de gestos de grande valor simbólico para a reconciliação.

Durante os chamados "Jogos da Paz", Norte e Sul desfilaram sob a bandeira unificada e competiram com uma equipe conjunta de hóquei no gelo. O evento também propiciou uma série de visitas de alto nível, que deixavam para trás, pelo menos temporariamente, as tensões.

A irmã e assessora do ditador norte-coreano, Kim Yo-jong, viajou para o Sul para assistir à cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno. Foi a primeira vez que um membro da dinastia Kim pisava no país vizinho. A partir disso, os contatos aumentaram e resultaram em uma lista crescente de eventos diplomáticos inesperados.

Entre eles se destaca o convite de Kim a Moon para realizar a cúpula, a primeira entre os líderes das duas Coreias em 11 anos, assim como a oferta do ditador norte-coreano para se reunir com Trump, o primeiro encontro entre os líderes dos dois países.

Kim propôs os encontros com o compromisso de suspender os testes de armas e discutir um processo de desnuclearização do país, desde que receba garantias para a sobrevivência do regime.

Além disso, a Coreia do Norte anunciou o fim de seu programa de desenvolvimento de armas atômicas e se comprometeu a não utilizá-las a menos que seja alvo de "ameaças ou provocações" de outros países, um gesto muito significativo que ocorre antes das cúpulas.

Muitos especialistas consideram que a distensão só foi possível porque a Coreia do Norte afirma ter atingido o status de potência nuclear. Portanto, Kim se sente capacitado em negociar com Seul e Washington com as mesmas cartas sobre a mesa.

A incógnita é se tudo isso levará a avanços reais na situação da península, tecnicamente em guerra já que os dois países não assinaram um tratado de paz depois do fim do conflito em 1953.