Pyongyang e Washington fazem reunião histórica após 68 anos de inimizade
Estados Unidos e Coreia do Norte ficarão frente a frente em uma histórica e inesperada cúpula após quase sete décadas de inimizade entre os países, durante as quais travaram uma guerra sangrenta e atravessaram fases de muita tensão até pouco tempo atrás.
Essas relações conflituosas têm raízes na divisão da península da Coreia e no nascimento do regime dinástico dos Kim no início da Guerra Fria, acontecimentos que desembocaram na Guerra da Coreia (de 1950 a 1953), que também teve a participação de EUA, China e URSS.
Desde aquela guerra, considerada o primeiro "conflito quente" no qual Washington e Moscou competiram para impor uma nova ordem mundial incipiente em meados do século 20, os Estados Unidos e a Coreia do Norte trocaram ameaças e provocações que geraram o temor de um novo conflito bélico.
A fase mais recente de hostilidade coincidiu com a chegada de Donald Trump à Casa Branca no início de 2017, com uma intensa atividade armamentista de Pyongyang. Em resposta, o republicano deu início a uma campanha de pressão máxima e insinuações de um ataque preventivo.
Contra todas as previsões, os tambores de guerra abriram passagem para um processo de aproximação entre as Coreias impulsionado pelo presidente do Sul, Moon Jae-in, e facilitado pela disposição ao diálogo do líder do Norte, Kim Jong-un, e pela suspensão dos testes nucleares e de mísseis norte-coreanos.
A histórica cúpula entre Norte e Sul em abril preparou o terreno para o encontro previsto para a próxima terça-feira (12) em Singapura entre Trump e Kim, ao originar um compromisso para a "completa desnuclearização" da Coreia e estabelecer a paz permanente na península.
Apesar do otimismo gerado por aquele encontro, durante os preparativos para a cúpula voltaram a aflorar a desconfiança e a aversão entre ambas as partes, o que por alguns momentos deixou no ar a realização da reunião.
O antagonismo em relação aos EUA faz parte do DNA do regime norte-coreano desde que as tropas americanas intervieram na península no verão de 1950 para frear o rápido avanço das forças do Norte em direção ao Sul, com o objetivo de reunificar o país.
O Exército norte-coreano, comandado pelo fundador do país e avô do atual ditador, Kim Il-sung, recebeu os apoios de Moscou e Pequim em um pesado conflito contra as forças americanas que lideravam uma coalizão da ONU para defender o Sul.
A disputa se prolongou durante três anos até ser suspensa com um armistício que não foi substituído por um tratado de paz, mas que, apesar das devastadoras consequências humanitárias, voltou a deixar a fronteira entre as Coreias na linha imaginária do Paralelo 38 N e restabeleceu o equilíbrio de forças entre os dois grandes blocos mundiais.
Para o regime, que nunca reconheceu ter iniciado a afronta, as atrocidades bélicas dos Estados Unidos seguem articulando o seu discurso anti-imperialista, enquanto o sonho da reunificação continua sendo um dos seus princípios ideológicos.
Segundo os historiadores, os Estados Unidos lançaram 635 mil toneladas de explosivos sobre a Coreia durante a guerra - sem contar 32.557 toneladas de napalm -, uma quantidade que supera todas as bombas no Pacífico durante a 2ª Guerra Mundial.
A versão oficial norte-coreana alega que o conflito foi iniciado pelo Sul junto com os seus aliados imperialistas e o descreve como uma luta contra os invasores americanos, a "Grande guerra de libertação da pátria mãe".
Segundo diversos especialistas, o antiamericanismo foi uma das principais armas dos Kim para manter o apoio do povo durante quase sete décadas e três diferentes líderes: Kim Il-sung (1953-1994), Kim Jong-il (1994-2011) e Kim Jong-un (desde 2011).
A história de Davi contra Golias, a resistência contra o inimigo invasor e a necessidade de ser autosuficiente são os argumentos utilizados pelo regime norte-coreano para continuar no poder e empreender uma escalada armamentista concluída pelo atual líder, Kim Jong-un, que declarou o país uma potência nuclear.
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