Topo

ONU diz ter encontrado obstáculos durante missão na Nicarágua

29/08/2018 17h00

Manágua, 29 ago (EFE).- O Escritório do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) disse nesta quarta-feira em Manágua que encontrou obstáculos para realizar sua missão no marco da crise da Nicarágua, principalmente pela falta de colaboração do governo quando se trata de investigar vítimas não governistas.

"Este trabalho que realizamos encontrou obstáculos, não recebemos respostas às solicitações de informação, não pudemos ter acesso aos centros de detenção, salvo em uma ocasião em junho, não pudemos realizar missões no terreno fora de Manágua", declarou o coordenador da missão da ACNUDH, Guillermo Fernández Maldonado, em entrevista coletiva.

Nesta quarta-feira a ACNUDH emitiu em Genebra um relatório no qual critica o governo da Nicarágua pelo "uso desproporcional da força por parte da polícia, que às vezes se traduziu em execuções extrajudiciais, desaparições forçadas, e obstrução do acesso ao atendimento médico", entre outras violações aos direitos humanos, contra qualquer pessoa que tenha opinião diferente à do Executivo.

Desde sua chegada no último mês de junho, o governo colaborou com a ACNUDH apenas ao entregar-lhe 40 denúncias de violações e abusos contra policiais e membros da governista Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), segundo Fernández.

"O centro da atuação da justiça pende apenas para um lado. Não encontramos investigações a respeito do outro lado, dos atos cometidos pela polícia ou grupos armados pró-governo", destacou Fernández, que lamentou a "inação" da Procuradoria para a Defesa dos Direitos Humanos.

Até agora o governo de Daniel Ortega não forneceu informação que permita fazer justiça frente a violações de direitos humanos, como "detenções arbitrárias ou ilegais com caráter generalizado, frequentes maus tratos e casos de torturas e violência sexual nos centros de detenção, violações às liberdades de reunião pacífica e expressão", de acordo com a ACNUDH.

Fernández ressaltou que, embora o governo nicaraguense insista em falar que enfrenta um golpe de Estado, não facilitou informação nem respondeu solicitações "que ratifiquem essa visão".

Pelo menos 300 pessoas morreram na crise desde abril deste ano, muitas das quais participaram de protestos, na sua maioria pacíficos, até que eram atacados por policiais e grupos pró-governo, indicou a ACNUDH.

"Não se deve investigar só quem cumpre a ordem, mas quem emite a ordem, a investigação deve abranger toda a cadeia de comando, e há longas experiências na região nesse sentido", advertiu.