Carlos Madeiro

Carlos Madeiro

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Reportagem

Prefeito é acusado de dar carro de luxo ao CV em troca de coação eleitoral

O prefeito reeleito de Santa Quitéria (CE), José Braga Barrozo, o Braguinha (PSB), que foi preso nesta quarta-feira (1º), é acusado de ter feito um acordo com o Comando Vermelho para coagir eleitores que fizessem campanha contra o rival na cidade em 2024. Como pagamento, a facção teria recebido um carro de luxo, diretamente enviado da cidade cearense ao Rio de Janeiro.

A prisão do prefeito foi decretada pelo TRE (Tribunal Regional Eleitoral) do Ceará, que ainda determinou o afastamento do cargo e ordenou uma busca e apreensão na casa do prefeito. As medidas foram cumpridas pela PF. O vice-prefeito não foi preso, mas afastado do cargo. Outras sete pessoas tiveram mandados de prisão.

O MPE (Ministério Público Eleitoral) já entrou com ação pedindo a cassação da chapa, acusando o prefeito de crimes eleitorais.

Segundo o TRE, a decisão judicial que mandou prender os oito suspeitos ocorreu porque há "graves violações à ordem pública, exigindo medidas rigorosas para garantir a investigação e preservar a integridade do processo eleitoral".

Com o afastamento, o filho de Braguinha, o vereador Joel Madeira Barroso (PSB), que foi eleito presidente da Câmara nesta quarta-feira, assumiu o cargo de forma interina por ser o primeiro na linha sucessória.

Em nota, a defesa do prefeito rebate as acuações. "A defesa confia na improcedência da acusação. Nos autos não há nenhum nexo de causalidade entre os fatos apresentados na representação da Polícia Federal e da Polícia Civil, com a pessoa de Braga Barroso."

Carro levado ao Rio marca acordo

Segundo a representação pela prisão feitas pelas Polícias Civil e Federal, a qual a coluna teve acesso, há "indícios robustos de diversos crimes eleitorais, aparentemente praticados por integrantes de organização criminosa armada, com participação de agentes públicos".

O principal pagamento desse acordo, segundo a polícia, foi um carro de luxo dado a um líder do CV. A investigação aponta que o carro foi levado ao Rio de Janeiro por servidores de cargos comissionados ligados a Braguinha.

Continua após a publicidade

O veículo era um Eclipse de cor branca, e teria sido dado a um líder da facção identificado como Anastácio Paiva.

Modelo Cross de um Eclipse 2024, similar ao dado ao CV
Modelo Cross de um Eclipse 2024, similar ao dado ao CV Imagem: Divulgação

Diz a representação: "No dia 19/07/2024, teriam eles viajado até a cidade do Rio de Janeiro para transportar um veículo para a organização criminosa Comando Vermelho e que teriam retornado no dia 21/07/2024 [de avião, após deixar o carro]".

Entre os investigados, além do prefeito reeleito, está a vereadora Kylvia de Lima (PP), que não foi eleita e ficou como suplente. A polícia diz que ela era tratada como a "vereadora do CV" e teria o papel de articuladora junto à organização criminosa. Ela também foi presa nesta quarta-feira.

"Eles seriam os principais beneficiários das ações criminosas e seriam coautores dos crimes, segundo indícios coletados pela investigação", diz nota do TRE.

Intimidações

Logo após o carro ser levado ao Rio, a polícia diz que começaram as intimidações. A representação cita que, no dia 9 de agosto, um integrante do CV enviou uma "mensagem de cunho geral para todos os membros da facção".

Continua após a publicidade

O recado era claro: quem não apoiasse os grupos políticos indicados por ele "iria sofrer retaliações", com possibilidade de "tocar fogo, dar tiros e quebrar vidros de carros".

Em alguns momentos, casas e muros foram pichados com ameaças a moradores que fizessem campanha para rivais do prefeito.

Casa pichada com ameaças e frases contra o principal rival do prefeito de Santa Quitéria (CE)
Casa pichada com ameaças e frases contra o principal rival do prefeito de Santa Quitéria (CE) Imagem: Reprodução

Ainda segundo as investigações, o CV ordenou a proibição de qualquer campanha eleitoral dos opositores do prefeito, em especial o candidato Tomás Figueiredo (MDB), que foi impedido de visitar eleitores e realizar atos de campanha.

O referido candidato relatou que, desde a primeira semana da campanha, foi impossibilitado de realizar eventos ou visitar eleitores, na medida em que membros de sua campanha foram ameaçados pelo CV desde o início, e eleitores temiam receber-lhe em suas residências, receosos de represálias por parte da facção.
Representação das polícias

Uma outra prova apresentada é uma mensagem interceptada em 22 de agosto, na qual um dos integrantes manda um cartaz de evento da campanha do Tomás e "autoriza os seus comparsas a quebrarem carros e motos".

Continua após a publicidade

O mesmo investigado envia também uma imagem com ameaças aos que estivessem com adesivos do candidato Tomás em seus veículos, bem como aos bares que abrissem e sediassem concentrações políticas dele. Diversas outras ameaças foram constatadas pela policia durante a investigação", relata as polícias.
Representação das polícias

O resultado da eleição foi de vitória de Braguinha com 11.292 votos (41,01% do total válido), seguido por Tomás, com 8.106 votos, e da candidata Dra. Lígia Protásio (PT), com 7.991 votos.

Nem mesmo a Justiça Eleitoral ficou fora das ameaças, diz a representação. "Durante a reunião de treinamento de mesários, o Cartório Eleitoral de Santa Quitéria recebeu uma ligação de um integrante do Comando Vermelho, que ameaçou atacar a unidade do órgão e matar todos os servidores, caso a Justiça Eleitoral não cessasse as decisões desfavoráveis aos 'manos' do CV."

A reiteração de crimes eleitorais durante as eleições 2024 no município de Santa Quitéria-CE chega a ser um fato notório. A ousadia e renitência com que se tentou intimidar o eleitor e interferir em sua vontade política alcançou um nível sem precedentes na história política recente do Ceará, o que atraiu a cobertura da imprensa e a preocupação de cidadãos e autoridades."
TRE-CE, em nota

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

24 comentários

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.


Geraldo Dias Netto

Outra família vivendo das te.tas do governo. Pai prefeito, comprovadamente corr.upto e ordin.ário, e o filho, presidente da Casa, assume justamente porque seu genitor foi preso por envolvimento com uma das maiores facções criminosas do Brasil. Todo santo dia em um prefeito, um vereador, um deputado sendo acusado de crimes. Senadores também, e presidentes não ficam muito para trás. O pior é que o político nada mais é do que o reflexo do próprio povo, porque ele veio do povo. Democracia é assim. Por isso também que, em época eleitoral, a gente vê milhares de aberrações. A maioria sem preparo, e querendo apenas uma vaga para fazer seu pé de meia. Para não ter de trabalhar, já que trabalho de vereador não é trabalho. É bem bom em gabinete, com asp.ones, e dinheirinho no final do mês, seja de pagamento, seja de acordos. PIor ainda é que sempre foi assim.

Denunciar

Francisco Helio Ribeiro Maia

Facção recebendo carro? Creio que eles não precisam disso, se quiserem compram a fábrica.

Denunciar

Alexandre Magno Pereira Aguiar

Não precisa nem mais explicar o que é CV. Esse país está caminhando para o caos conduzido por um governo corrupto com um condenado como "chefe" e um judiciário que prioriza o bandido em detrimento do cidadão de bem. 

Denunciar