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Monarquia é ponto fundamental nas eleições da Tailândia

22/03/2019 18h16

Alfredo García.

Bangcoc, 22 mar, (EFE).- A monarquia tornou-se um fator crucial nas eleições na Tailândia quando um dos principais partidos do país lançou como candidata a primeira-ministra a irmã mais velha do rei, mas a tentativa, fracassada, pôs em destaque o risco de tentar usar a instituição com fins políticos.

No dia 8 de fevereiro, o Partido Thai Raksa Chart anunciou a candidatura da princesa Ubolratana - que tinha perdido seus títulos reais ao se casar com um cidadão americano em 1972 - para as eleições de 24 de março.

A surpreendente decisão provocou um terremoto na política do país asiático, por Ubolratana ser a primeira parente próxima do rei a entrar para a política.

Poucas horas depois do anúncio, a rede de televisão estatal transmitiu um comunicado do rei Vajilalongkorn no qual qualificava como "inadequada" a indicação de sua irmã. Alguns dias depois, a Comissão Eleitoral invalidou a candidatura.

O Tribunal Constitucional finalmente opinou pela dissolução do Thai Raksa Chart no dia 7 de março, argumentando que "o povo tailandês sabe que a monarquia, coração da nação tailandesa, foi utilizada com fins políticos de forma astuta. Esta ação põe em perigo o status neutro da monarquia acima da política".

O partido era aliado do poderoso ex-primeiro-ministro Thaksin Shinawatra, deposto em um golpe de Estado em 2006 e exilado desde 2008, e de sua irmã Yingluck, também ex-primeira-ministra deposta em no golpe de 2014 e que está no exílio, e apesar dos Shinawatra contarem com outras duas legendas nas eleições, com a dissolução do Thai Raksa Chart eles sofreram um duro golpe.

A monarquia absolutista foi abolida em 1932, mas embora a dinastia Chakri, que reina desde o final do Século XVIII, oficialmente não se misture na política a partir de então, seu prestígio só aumentou, especialmente quando o rei Bhumibol Adulyadej, ou Rama IX, subiu ao trono.

Bhumibol reinou de 1946 até sua morte, em 2016, aos 70 anos. O monarca era conhecido pelas obras sociais e seu semblante solene, onipresente em fotos por toda a Tailândia, tanto nas ruas como nos lares de quase todos os tailandeses, que lhe rendiam uma devoção quase religiosa.

A Tailândia possui, além disso, uma das leis de lesa-majestade mais estritas do mundo, na qual qualquer cidadão pode denunciar outro por injuriar ou ameaçar o monarca ou sua família, e cujas penas de prisão podem chegar a 15 anos, o que impossibilita qualquer debate sobre o papel da monarquia.

Para muitos tailandeses, o rei Bhumibol foi praticamente o único elemento de estabilidade durante as últimas sete décadas, marcadas por reiterados golpes de Estado, um total de 21, contando os fracassados, desde a abolição da monarquia absoluta.

O rei não governa nem intervém na política, mas em torno da casa real ronda o que o especialista no país da Universidade de Leeds, Duncan McCargo, batizou em artigo acadêmico publicado em 2005 como a "rede monárquica". Trata-se de uma elite radicada em Bangcoc da qual surgiram os generais, políticos e empresários que governaram o país durante décadas.

A ascensão de Thaksin Shinawatra depois da Constituição de 1997, a mais progressista na história do país, representou um grande desafio para a "rede monárquica", já que ele era um multimilionário de outra província, Chiang Mai, visto como um usurpador pelas elites tradicionais, que frequentemente acusam ele e seus seguidores de serem contra a monarquia.

Thaksin ganhou suas primeiras eleições em 2001, e o desenvolvimento de políticas sociais, como um programa de saúde pública universal, o tornaram extremamente popular entre as massas rurais empobrecidas do nordeste, a região mais populosa do país.

Quatro anos depois, foi reeleito com uma grande maioria e, após o seu exílio, partidos que o apoiam ganharam todas as eleições realizadas na Tailândia.

Após a morte de Bhumibol, muitos partidários de Thaksin acreditaram que a subida ao trono de Vajilalongkorn poderia representar o regresso de seu líder ao país, já que se assumia que o novo rei era próximo ao antigo primeiro-ministro, mas a rejeição da candidatura da sua irmã pôs essas suposições em xeque.

O novo rei, cuja coroação está prevista para os dias 4 a 6 maio, deixou claro que a monarquia continuará "acima da política". EFE