Brexit castiga grandes partidos britânicos e dá força a eurocéticos
Guillermo Ximenis
Londres, 22 mai (EFE).- A estagnação do processo de saída do Reino Unido da União Europeia (UE) ameaça castigar os dois principais partidos do país, Conservador e Trabalhista, nas eleições desta semana para o Parlamento Europeu, nas quais, segundo as últimas pesquisas, o vencedor será o ultranacionalista Partido do Brexit.
O governo conservador da primeira-ministra Theresa May tentou evitar até o último momento a realização do pleito no Reino Unido, mas a impossibilidade de ratificar a tempo o acordo de saída da UE na Câmara dos Comuns forçou o país a participar.
As eleições, que começarão nesta quinta-feira em alguns países - entre eles o próprio Reino Unido - e terminarão no domingo, são interpretadas por alguns analistas como uma repetição do referendo de 2016, nas quais os britânicos tenderão a deixar de lado as questões domésticas e decidirão o voto em função da vontade de sair ou permanecer no bloco comunitário.
O partido de May encara muitas queixas dos eleitores por não ter tornado realidade o resultado do referendo de três anos atrás e corre o risco de ficar relegado à quarta ou à quinta posição no pleito europeu, com cerca de 10% dos votos, segundo uma pesquisa do instituto YouGov divulgada recentemente.
A nova legenda de Nigel Farage, ex-líder do eurocético Partido pela Independência do Reino Unido (UKIP), pode obter, por outro lado, 34% de apoio nas urnas.
"O Partido do Brexit estará à frente da onda de sentimento contrário à União Europeia, que aumentou devido à falta de implementação do Brexit. Está pescando em uma piscina com 17,4 milhões de eleitores que já optaram por sair da UE", afirmou à Agência Efe Jonathan Tonge, professor de Política na Universidade de Liverpool.
O Partido Trabalhista de Jeremy Corbyn, que mantém uma postura ambígua a respeito do Brexit, também recuou nas pesquisas, que preveem que receba de 16% a 21% dos votos. Já o Partido Liberal Democrata, que defende sem rodeios a permanência na UE, elevou a perspectiva de votos para cerca de 15%.
"O país está polarizado, profundamente dividido. Se transformou em uma questão tribal: você é partidário da permanência ou da ruptura", declarou à Efe Dennis Novy, professor do Departamento de Economia da Universidade de Warwick.
"Se você tenta agradar ambos grupos, acaba por não satisfazer ninguém", acrescentou Novy, autor de diversos estudos sobre a sociologia do Brexit.
Com os dois principais partidos britânicos profundamente divididos sobre o roteiro para o divórcio com a UE, a campanha das eleições europeias foi uma oportunidade para que legendas pequenas tentassem ganhar relevância no cenário político do Reino Unido.
Além disso, esses partidos são beneficiados pelo fato de o pleito europeu ser organizado sob uma apuração de votos proporcionais, no lugar do sistema direto utilizado nas eleições gerais no Reino Unido, no qual cada circunscrição elege um só candidato e que dificulta a aparição de novas forças.
O partido do ultranacionalista Farage, que em 2014 já obteve 27% dos votos com o UKIP, desponta como o principal beneficiado nesse cenário.
"Não se pode vencer o Partido do Brexit no terreno do Brexit, é impossível", comentou Novy, destacando que a vitória dos populistas nas eleições europeias de cinco anos atrás já fez com que o ex-primeiro-ministro conservador David Cameron se aproximasse de posições mais eurocéticas para tentar combater o UKIP.
Do outro lado do eixo político, o partido Change UK, formado há poucos meses por antigos deputados trabalhistas e conservadores favoráveis a continuar no bloco comunitário, não alçou voo nas pesquisas, que lhe mostram com 5% de intenção de voto.
"Estão tentando mobilizar o eleitorado partidário a favor da permanência, mas esse terreno está bastante concorrido", ressaltou Tonge.
O Partido Liberal Democrata e o Partido Verde competem por esse espaço na Inglaterra e no resto do Reino Unido, enquanto o galês Plaid Cymru e o Partido Nacionalista Escocês (SNP) defendem também uma postura europeísta em suas regiões. EFE
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