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UE fecha ciclo de 5 anos de mudanças políticas, econômicas e de personagens

22/05/2019 20h27

Luis Alonso.

Madri, 22 mai (EFE).- O panorama político e econômico da União Europeia mudou bastante nos últimos cinco anos, com temas importantes saindo de cena, partidos que estavam em crise voltando a ganhar força, novos problemas surgindo e personalidades políticas de grande protagonismo caindo no esquecimento.

As últimas eleições para o Parlamento Europeu, realizadas em 2014, foram a primeira grande consulta sobre a gestão da crise econômica no bloco após anos de cortes e austeridade.

A palavra mais famosa entre as relacionadas àquele pleito era "troika", em referência a tríade formada por Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Mecanismo Europeu de Estabilidade que estipulava as diretrizes econômicas nos países que estavam em processo de recuperação financeira, ou resgate.

País que mais sofreu os efeitos da crise, a Grécia estava submetida a uma forte pressão pelos outros membros da zona do euro, e seu primeiro-ministro, Alexis Tsipras, foi obrigado a seguir uma rígida política de austeridade em troca da ajuda, pois salvar a moeda do bloco era uma prioridade.

Agora, em 2019, a economia real voltou a ser a prioridade dos cidadãos europeus, que almejam crescimento econômico e redução do desemprego, especialmente entre os jovens.

De acordo com as últimas pesquisas de opinião, 50% dos europeus acreditam que a prioridade da UE deve ser a economia e o crescimento, e 49% acreditam que deve ser o combate ao desemprego.

Os desastres ambientais também causam grande preocupação aos cidadãos do Velho Continente, já que o meio ambiente aparece em quarto lugar entre as maiores preocupações, apontada por 43% dos entrevistados, sobretudo os jovens e as pessoas com maior poder aquisitivo.

Além disso, a preservação ambiental é prioridade em sete países-membros e o assunto de maior importância para o grupo de cidadãos europeus que manifestaram nas pesquisas intenção de votar.

Não existe apenas uma crescente preocupação com a mudança climática, mas também tiveram repercussão os graves incidentes naturais do ano passado na Europa, como os incêndios na Suécia e em Portugal.

Por outro lado, a preocupação com a imigração vem perdendo força, pois, nos últimos seis meses, a preocupação dos cidadãos da UE em relação a essa questão caiu seis pontos percentuais (para 44%) em relação aos números do ano passado, sobretudo porque a quantidade de chegadas e pedidos de asilo diminuiu bastante.

O tema continua muito importante em países como Itália (62%), Hungria (55%), Grécia e Espanha, este último que agora registra o maior número de chegadas na UE.

Segundo a Frontex (Agência Europeia de Gestão da Cooperação Operacional nas Fronteiras Externas), a UE não vive atualmente uma crise migratória como a de 2015 (ano em que foram registradas 1.882.177 chegadas) e 2016 (com 511.146), coincidindo com o período de maior intensidade da guerra na Síria.

O acordo de março de 2016 com a Turquia fechou a rota oriental, e a Espanha é agora o principal portão de entrada para os imigrantes na UE, com 55.307 entre um total de 150.114 migrantes irregulares que chegaram ao território do bloco em 2018.

Além da questão migratória, a atual legislatura do Parlamento Europeu ficou marcada pela preocupação com os atentados terroristas, um tema que agora já não gera a mesma relevância entre os cidadãos da UE.

Nos últimos anos, a Europa foi sacudida por atentados terroristas do Estado Islâmico. Uma sucessão de ataques criou na sociedade europeia uma sensação de temor que começou com o atentado à revista satírica francesa "Charlie Hebdo" em janeiro de 2015, com sete mortes.

Em novembro do mesmo, Paris sofreu um atentado com 130 mortes, seguido por outros em Bruxelas (março de 2016, com 35 mortes), Nice (julho de 2016, com 14), Berlim (dezembro de 2016, com 12), Londres março (6 mortes) e junho (11 mortes) de 2017, Manchester (maio de 2017, com 23), Barcelona (agosto de 2017, com 17) e Estrasburgo (dezembro de 2018, com 5), entre outros.

Esses atentados fizeram com que a luta contra o terrorismo se tornasse a principal preocupação de 49% dos europeus no segundo trimestre de 2018, mas o tema agora caiu para o quinto lugar.

Outra grande mudança no panorama europeu foi o terremoto que sacudiu o continente em junho de 2016: o Brexit, a saída do Reino Unido da União Europeia.

Contra todas as previsões, 51% dos britânicos aprovaram em um referendo a saída do país do bloco em junho de 2016.

Embora em janeiro de 2013 o então primeiro-ministro, David Cameron, já tivesse anunciado um referendo sobre a continuidade do país na UE e a "relação especial" entre as duas partes, nem o governo do Reino Unido, nem os outros países do bloco pensavam em uma derrota.

Apesar do Brexit, os britânicos ainda participarão das eleições europeias deste ano, mas como uma presença quase "virtual", que pode acabar em 31 de outubro.

Além das questões envolvendo os principais temas que causam preocupação entre os europeus, as eleições deste ano também indicam que figuras políticas que estavam em evidência em 2014 perderam relevância.

Há cinco anos, havia líderes que se apresentavam como a esperança social-democrata na Europa frente à política de austeridade que tinha dominado o quinquênio anterior.

Mas, de 2014 até hoje, várias dessas figuras - inclusive os partidos que elas representavam - passaram para o segundo plano ou caíram em desgraça.

Na França, o socialista François Hollande perdeu relevância com o surgimento do movimento "Em Marcha", partido criado por seu ex-aliado Emmanuel Macron.

Na Itália, os Democratas de Esquerda de Matteo Renzi ganharam as últimas eleições europeias, mas o país é agora governado por uma aliança entre o antissistema Movimento Cinco Estrelas, o mais votado nas últimas eleições nacionais, e o partido de extrema-direita Liga, do xenófobo Matteo Salvini.

Na Alemanha, por sua vez, o ex-presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, que pretendia revigorar a social-democracia em seu país, terminou engolido pelo poderio eleitoral da União Democrata-Cristã, de Angela Merkel, nas últimas eleições nacionais de 2017, que também marcaram a ascensão do Alternativa para a Alemanha (AfD, na sigla em alemão), o partido populista de extrema-direita que se tornou o terceiro mais representado no Parlamento nacional. EFE