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Países do Leste Europeu preparam-se para chegada de até 1 milhão de refugiados da Ucrânia

20.fev.22 - Moradores locais caminham pelo porto da cidade industrial de Mariupol, localizada a cerca de 20 quilômetros das áreas controladas pelos rebeldes no leste da Ucrânia - CARLOS BARRIA/REUTERS
20.fev.22 - Moradores locais caminham pelo porto da cidade industrial de Mariupol, localizada a cerca de 20 quilômetros das áreas controladas pelos rebeldes no leste da Ucrânia Imagem: CARLOS BARRIA/REUTERS

21/02/2022 16h28Atualizada em 21/02/2022 16h52

Budapeste/Bucareste, 21 fev (EFE).- A possível invasão da Ucrânia pela Rússia pode representar a fuga de até 1 milhão de pessoas rumo a outros países do Leste Europeu, que diante desse cenário iniciaram um processo de preparação.

O vice-presidente da Comissão Europeia (CE), Margaritis Schinas, avaliou de 20 mil a 1 milhão o número de ucranianos que podem buscar refúgio em Polônia, Eslováquia, Hungria e Romênia em caso de ataque russo.

Desde 2014, regiões separatistas do leste da Ucrânia e apoiadas por Moscou lutam contra as forças de Kiev.

FUGA EM MASSA.

Atualmente, na Polônia, já vivem 250 mil cidadãos ucranianos provenientes apenas do leste da antiga república soviética. O número pode saltar para 1 milhão se a invasão se consumar, como esperam, por exemplo, os Estados Unidos e aliados do Ocidente.

A ministra de Assuntos Sociais da Polônia, Marlena Malag, declarou nesta segunda-feira que o mercado de trabalho do país "poderia assimilar" até 1 milhão de deslocados ucranianos, caso aconteça uma guerra na região.

Malag informou que, ao todo, 620 mil ucranianos vivem no país vizinho, mas a quantidade real pode ser maior, pois nem todos os imigrantes têm situação legal.

A Polônia é um dos países que mais duramente se opuseram ao sistema de cotas aprovado para acolher refugiados que foi aprovado pela Comissão Europeia, em 2015, para receber centenas de milhares de pessoas que fugiram de países como Afeganistão, Iraque e Síria.

PIOR QUE CRISE IUGOSLAVA.

O primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, de extrema-direita, afirmou hoje que, se o conflito na Ucrânia se agravar, é possível que o país enfrente uma onda migratória ainda mais intensa que a da década de 1990, provocada pela dissolução da Iugoslávia, quando dezenas de milhares de pessoas chegaram ao território húngaro.

Poucos dias atrás, Orbán afirmou que, em caso de uma guerra, "centenas de milhares e até milhões de refugiados" chegariam da Ucrânia.

Segundo o premiê, essas pessoas cruzariam a fronteira "sem a esperança de poder voltar". Além disso, garantiu que o governo húngaro começou a se preparar, mas não anunciou com quais medidas.

O ministro de Governança húngaro , Gergely Gulyás, afirmou que seria possível receber "dezenas de milhares de pessoas" e que os ministérios do Interior e da Defesa elaboram planos.

A Hungria, junto com a Polônia, foi o país que mais fortemente se opôs a acolher refugiados do Oriente Médio em 2015. Desde então, fechou as fronteiras e estabeleceu uma lei anti-imigração mais rígida.

O governo de Orbán é um dos que mantêm melhor relação com a Rússia entre os integrantes da União Europeia. O premiê criticou as sanções impostas por Bruxelas a Moscou pela anexação ilegal da península da Crimeia.

As relações entre Hungria e Ucrânia, por sua vez, são tradicionalmente tensas, já que Budapeste acusa Kiev de violar os direitos da minoria húngara, enquanto o governo ucraniano acusa o vizinho de apoiar as políticas russas.

ROMÊNIA E A EXTENSA FRONTEIRA.

Na Romênia, que faz fronteira com a Ucrânia por mais de 600 quilômetros, por terra e água, o ministro do Interior, Lucian Bode, anunciou na semana passada que estava sendo estabelecido um "plano de ação" para administrar uma possível chegada em massa de refugiados do vizinho.

Em artigo publicado na última sexta-feira no jornal "Libertatea", os prefeitos das províncias romenas que fazem fronteira com a Ucrânia garantiram não ter recebido instruções sobre medidas concretas para receber e alojar possíveis deslocados.

Segundo dados oficiais, as autoridades estão à disposição para abrigar, de forma permanente, cerca de 1,5 mil refugiados.

Segundo o ministro da Defesa do país, Vasile Dincu, a Romênia habilitaria, se necessário, infraestruturas adicionais, capazes de receber "dezenas de milhares" de novos deslocados.

O cenário de guerra mais preocupante para o governo romeno é o de uma invasão russa através do sudoeste da Ucrânia, a partir da Crimeia, com a abertura de um corredor entre a península ocupada por Moscou e a Transnistria, um enclave controlado por forças pró-russas na Moldávia.

REFUGIADOS, NÃO IMIGRANTES.

A Eslováquia, que tem cerca de 100 quilômetros de fronteira com a Ucrânia, confirmou que está disposta a acolher refugiados, caso o conflito nas antigas repúblicas soviéticas seja intensificado.

"É nossa obrigação", garantiu o ministro da Defesa eslovaco, Jaroslav Nad, durante uma reunião da Otan ocorrida na semana passada.

"Nos preparamos para a hipotética situação de que chegue um elevado número de refugiados vindos da Ucrânia", disse o integrante do governo da antiga república iugoslava, que completou que não se tratariam de "refugiados econômicos, nem de imigrantes, mas de isolados de guerra".

No passado, a Eslováquia também rejeitou as cotas de divisão propostas pela Comissão Europeia para acolher quem fugia das guerras no Iraque e na Síria.