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Bolsonaro não precisa se preocupar porque inimigo da CPI é a pandemia, diz Renan

O parlamentar lembrou que a comissão ainda precisa ser instalada e que os rumos das investigações serão definidos pela maioria do colegiado - Marcos Oliveira/Agência Senado
O parlamentar lembrou que a comissão ainda precisa ser instalada e que os rumos das investigações serão definidos pela maioria do colegiado Imagem: Marcos Oliveira/Agência Senado

Maria Carolina Marcello

22/04/2021 15h50

BRASÍLIA (Reuters) - O senador Renan Calheiros (MDB-AL), provável relator da CPI da Covid a ser instalada na próxima semana no Senado, afirmou nesta quinta-feira que o presidente Jair Bolsonaro não tem o que temer diante da comissão e prometeu isenção, com a possibilidade de terceirizar a relatoria caso seu filho, que é governador de Alagoas, seja investigado.

O parlamentar comentou, no entanto, que o foco da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) estará centrado em apurar se houve omissão ou ação que tenha agravado o quadro da pandemia no país e recomendou ao governo que utilize sua energia para levar seus argumentos ao colegiado. Segundo ele, a aquisição de vacinas estará na mira das investigações, assim como a posição governamental a respeito da cloroquina.

"Ele (Bolsonaro) não precisa ter nenhuma preocupação, o inimigo da Comissão Parlamentar de Inquérito é a pandemia. Nós não vamos, como eu disse, pré-definir qualquer alvo da investigação", disse o senador à GloboNews.

O parlamentar lembrou que a comissão ainda precisa ser instalada e que os rumos das investigações serão definidos pela maioria do colegiado. Mas já adiantou o que considera necessário ser avaliado "criteriosamente" pelo grupo.

"Eu acho que inevitavelmente vamos ter que começar pela investigação da aquisição de vacinas, se é verdade se não é verdade que o governo negligenciou, nós vamos tratar dessa questão da cloroquina, nós vamos levar em consideração sempre o ensinamento da Ciência, nós vamos convidar pessoas, convocar pessoas. Tudo o que precisar ser feito para que essas respostas sejam repostas verdadeiras, nós vamos fazer."

Defendeu, ainda, que a CPI irá apurar "se por omissão ou por ação qualquer, alguém tem responsabilidade no agravamento desse morticínio no Brasil, é isso que evidentemente será apurado", acrescentando que a comissão não tratará apenas de desvio de verbas públicas.

O senador confirmou que o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello deve ser convocado, entre outros, e, questionado, considerou o desempenho do militar especialista em logística à frente da Saúde "horroroso sob todos os aspectos".

Renan confirmou sinalizações indiretas do governo em sua direção, caso de "aceno" do líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), e de telefonema do próprio Bolsonaro ao filho do parlamentar, o governador de Alagoas, Renan Filho (MDB).

"Não haverá nenhuma dificuldade de conversar com ninguém, conversarei com qualquer um, sobre tudo. Com o presidente da República, se ele entender que é o caso. O presidente nunca me telefonou, eu recebei um aceno através do líder Fernando Bezerra, e nas últimas horas esse telefonema para o governador", afirmou, acrescentando, no entanto, que presidente e governador mantém "relação administrativa".

IMPARCIALIDADE

Renan não esconde incômodo, no entanto, com o que chamou nesta quinta-feira de campanha para desacreditá-lo, principalmente em redes sociais.

A instalação da CPI está prevista para a próxima terça-feira, quando devem ser eleitos o presidente e o vice. Depois disso, o presidente nomeia um relator.

Acordo já selado levando em conta a proporcionalidade das bancadas indica que Renan, integrante do partido com maior número de membros, deverá ficar com a relatoria, enquanto Omar Aziz (PSD-AM), da segunda maior bancada da Casa, será o presidente. A vice-presidência ficará a cargo do líder da oposição, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), autor do primeiro requerimento de criação da CPI. A comissão posteriormente foi ampliada por um segundo pedido de autoria de Eduardo Girão (Podemos-CE).

O desenho se mostra pouco favorável ao governo, que estuda estratégias para minimizar os danos da CPI.

Sobre sua isenção para relatar as investigações da comissão, um dos principais alvos de críticos, Renan rebateu e avisou que poderão ser designados sub-relatores caso seja identificada a necessidade de apurar situações relacionadas a parentes ou amigos, casos em que sua suspeição poderia ser levantada.

O fato de ter um filho governador é um dos argumentos que embasa ação apresentada pela deputada Carla Zambelli (PSL-SP), aliada próxima de Bolsonaro, à Justiça Federal. Ele pede que Renan seja impedido, em caráter liminar, de assumir a relatoria da CPI.

O senador, por sua vez, afirmou na entrevista à GloboNews desta quinta-feira que levará em conta apenas "provas indiscutíveis" e "insofismáveis".

"Não vamos responsabilizar ninguém sem provas."

E advertiu: "O governo devia estar aproveitando esse tempo para se preparar para, na Comissão Parlamentar de Inquérito, demonstrar definitivamente que não errou e que, portanto, não tem responsabilidade. Se isso acontecer será melhor, melhor que aconteça, do que essa guerra sem sentido na rede social, ou declarações do filho do presidente, Flávio Bolsonaro, de que ainda aguarda uma decisão judicial para impedir que eu participe da Comissão Parlamentar de Inquérito e seja o seu relator."