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Guerra da Rússia-Ucrânia

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Um trem noturno até a segurança: A odisseia de uma família ucraniana em Odessa

Ludmila Lichko e seu filho Ivan esperam para embarcar em trem em Odessa - Alexandros Avramidis/Reuters
Ludmila Lichko e seu filho Ivan esperam para embarcar em trem em Odessa Imagem: Alexandros Avramidis/Reuters

Alexandros Avramidis

21/03/2022 15h46Atualizada em 21/03/2022 16h11

Cansada, Ludmila Lichko embala seu filho de nove anos, Ivan, a bordo de um trem lotado que deixa a cidade portuária ucraniana de Odessa, no Mar Negro, pouco antes da meia-noite, rumo à fronteira com a Romênia, no sul, deixando para trás a guerra que engoliu seu país.

Fugindo com Ivan e seu outro filho Vladislav, de 16 anos, Lichko pode apenas pensar em seu marido Denis, um engenheiro, que ficou para trás na cidade natal de Mykolaiv, para combater as forças russas invasoras.

"Foi bem difícil nos separarmos, mas nós tínhamos que sair. É impossível viver em tais condições o tempo todo", disse Lichko, uma assistente social de 40 anos.

Lichko descreveu a vida em porões e abrigos, tendo de ouvir todos os dias os toques de sirenes anunciando bombardeios e explosões.

"Já havia ataques aéreos onde vivíamos. A vila vizinha sofreu muito com as bombas. Aquilo foi muito aterrorizante. Por isso nós decidimos sair", disse.

Lichko deixou Mykolaiv no dia 16 de março de ônibus em uma jornada de 120 quilômetros até Odessa, uma elegante cidade antiga no sudoeste da Ucrânia, que até agora não foi tomada pelos combates, embora sua estação de trem testemunhe diariamente cenas de famílias sendo separadas pela guerra.

Muitos refugiados não se sentem mais seguros em Odessa. As autoridades locais acusaram as forças russas de conduzirem na segunda-feira seu primeiro ataque aéreo à cidade, dizendo que ele atingiu prédios na periferia. Ninguém ficou ferido.

A Rússia nega atacar civis no que chama de "operação militar especial" para desarmar a Ucrânia.

Os passageiros de trens —a maioria deles mulheres e crianças— compartilham histórias e lanches em cabines mal iluminadas. Algumas trouxeram seus bichos de estimação, como a aposentada Laris Levchenko, que viaja com seu cachorro.

Cinco horas depois, os refugiados deixam o trem em Izmail. Arrastando bagagens, chapéus e casacos contra o vento frio, eles lutam para embarcar em um ônibus que os levará à cidade portuária de Orlivka, no rio Danúbio, onde poderão atravessar de balsa para a cidade de Isaccea, na Romênia.

Mesmo agora, a família Lichko ainda não pode descansar. O destino final é a Polônia, onde parentes os aguardam.

"Eles podem nos receber por um tempo. Mais para frente, se a situação se acalmar... podemos voltar para nossa casa", disse.

A Polônia recebeu cerca de 2,1 milhões dos quase 3,4 milhões de ucranianos que deixaram o país nas pouco mais de três semanas desde o início da invasão russa no dia 24 de fevereiro.