Uma geração inteira em Gaza não teria educação se a UNRWA deixasse de existir, diz ONU
Por Michelle Nichols
NAÇÕES UNIDAS (Reuters) - Uma geração inteira de palestinos na Faixa de Gaza teria “o seu direito à educação negado” se a UNRWA, a agência da ONU para ajuda aos palestinos, deixar de existir no enclave para atender a nova legislação israelense, alertou o chefe da UNRWA nesta quarta-feira.
O Parlamento de Israel aprovou uma lei no mês passado que proíbe a UNRWA de operar no país a partir de janeiro. O comissário geral da UNRWA, Philippe Lazzarini, afirmou que a implementação da lei “terá consequências catastróficas”.
“Em Gaza, o desmantelamento da UNRWA vai deixar em colapso a resposta humanitária das Nações Unidas, que depende fortemente da infraestrutura da agência”, disse a um comitê da Assembleia Geral da ONU. “Um dos temas agressivamente ausente das discussões sobre Gaza sem a UNRWA é a educação”.
“Na ausência de uma administração pública capaz ou de um Estado, apenas a UNRWA pode fornecer educação a mais de 660 mil meninas e meninos em Gaza. Na falta da UNRWA, uma geração inteira será privada do direito à educação”, alertou, destacando que isso plantaria “as sementes para a marginalização e o extremismo”.
Ele pediu novamente aos Estados-membros da ONU que agissem para evitar a implementação da legislação israelense. A UNRWA foi estabelecida em 1949, após a guerra em torno da fundação de Israel no ano anterior. Ela fornece assistência, saúde e educação a milhões de palestinos em Gaza, Cisjordânia, Síria, Líbano e Jordânia.
Os Estados Unidos, aliados de Israel, descreveram o papel da UNRWA em Gaza como “indispensável”. A embaixadora dos EUA na ONU, Linda Thomas-Greenfield, disse na terça-feira que é de extrema importância que Israel pause a implementação da lei.
No entanto, a legislação deve entrar em vigor no final de janeiro, poucos dias após o presidente eleito dos EUA, Donald Trump, assumir seu segundo mandato de quatro anos. Se seu primeiro mandato serve de indicação, Trump provavelmente buscará uma abordagem fortemente pró-Israel, indo além do robusto apoio dado pelo presidente Joe Biden.
O Conselho de Segurança da ONU apoiou a UNRWA e “advertiu fortemente contra quaisquer tentativas de desmantelá-la ou diminuí-la”.
O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, disse a Israel que o país teria que substituir a UNRWA em Gaza e na Cisjordânia como parte da sua responsabilidade como potência ocupante. A ONU considera Gaza e a Cisjordânia como territórios ocupados por Israel.
“Deixamos Gaza completamente em 2005. Desocupamos e entregamos as chaves para a Autoridade Palestina”, disse o embaixador de Israel na ONU, Danny Danon, a jornalistas após a fala de Lazzarini.
“Agora estamos em guerra depois de sermos atacados e de agirmos de acordo com o direito internacional; é por isso que fornecemos apoio humanitário e cooperamos com muitas agências da ONU”, disse ele. “Estamos dispostos a cooperar, mas não com terroristas”.
Israel garante que membros da UNRWA participaram do ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro de 2023, que desencadeou a guerra em Gaza. A ONU informou que nove funcionários da UNRWA podem ter estado envolvidos e foram demitidos. Foi descoberto que um comandante do Hamas no Líbano - morto por Israel – tinha um emprego na UNRWA.
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