Governo brasileiro agiu tarde demais contra óleo no litoral do Nordeste, critica jornal francês
A maioria dos jornais franceses não teve edição de hoje, Dia de Todos os Santos e feriado na França. Uma das exceções é o jornal Libération, que publica uma grande reportagem sobre as manchas de óleo nas praias do Nordeste brasileiro, com o titulo: "A maré negra".
O texto é ilustrado com a foto do menino nordestino Everton Miguel dos Anjos, saindo do mar coberto de óleo, que viralizou no mundo todo depois de sua publicação na semana passada. A imagem se tornou símbolo desse novo desastre ambiental no Brasil.
Libération conta a origem da fotografia, tirada por um fotógrafo frelancer da Agência France Presse (AFP) em 21 de outubro na praia de Itapuama, em Pernambuco. Pedro Malafaia cobria o trabalho da força-tarefa montada às pressas pelos moradores para conter o óleo na praia e captou o momento que "dramatiza a pior poluição do litoral da história do Brasil".
Como se a imagem não bastasse, Libération a descreve: "como um albatroz prisioneiro do petróleo, ele consegue sair do mar poluído. Os olhos franzidos, o corpo coberto com um saco de lixo, as mãos estendidas entre impotência e desolação. Crucificado pela maldição do ouro negro." O jornal progressista afirma que a foto ficará como um "marco dos crimes ambientais e do desespero que amedrontam as gerações futuras".
Mobilização da população; inércia do governo
O texto indica que outras fotografias tiradas no mesmo dia mostram o volume das machas de petróleo que contaminam o litoral nordestino, região pobre que depende do turismo e da pesca. As imagens revelam a formidável mobilização dos voluntários que tentam limpar a areia e os rochedos, muitas vezes sem proteção.
Há dois meses, desde 30 de agosto, mais de 2,5 mil quilômetros do litoral brasileiro são atingidos pela calamidade. As manchas de óleo já chegaram a 255 localidades de nove dos 27 estados brasileiros sem que se saiba a origem do desastre, informa Libération.
O texto faz duras críticas ao atual governo brasileiro. Diz que esta é a terceira crise ambiental grave do governo do presidente de extrema direita, Jair Bolsonaro, que brilha por sua ausência e apatia. O chefe de Estado brasileiro ficou inerte em janeiro, após a tragédia de Brumadinho, que deixou mais de 300 mortos e desaparecidos e poluiu rios.
Bolsonaro favoreceu, com o desmatamento que aumentou 93% desde de sua chegada ao poder, os incêndios espetaculares na floresta amazônica que se transformaram em uma crise diplomática grave, principalmente com a França, critica ainda Libération. No desastre atual, Brasília esperou mais de 50 dias para ativar um plano de luta contra as manchas de óleo no mar.
Foi necessário uma ação da ONG Greenpeace, injustamente acusada pelo ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles de ter provocado a poluição, para que Bolsonaro saísse de seu silêncio. No dia 21 de outubro, quando a fotografia do menino Everton foi tirada, o governo anunciou enfim o envio de cinco mil militares: "muito pouco e muito tarde", conclui Libération.
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