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Com greve no transporte, parisienses levam até 4 horas para chegar ao trabalho

16.dez.2019 - Passageiros esperam em filas por bondes em Paris. A greve no sistema de transporte entra hoje em seu 12º dia - Charles Platiau/Reuters
16.dez.2019 - Passageiros esperam em filas por bondes em Paris. A greve no sistema de transporte entra hoje em seu 12º dia Imagem: Charles Platiau/Reuters

16/12/2019 14h19

Acostumados a um dos melhores transportes públicos do mundo, há 12 dias completados hoje os parisienses têm que se acostumar a andar em marcha lenta. Os condutores do transporte fazem greve em toda a França desde 5 de dezembro contra a reforma da Previdência, mudando totalmente a rotina dos habitantes da cidade que agora devem acordar mais cedo para ir trabalhar e não sabem a que horas retornam para casa.

Com apenas duas das 14 linhas de metrô funcionando continuamente, 50% dos ônibus estacionados e mais da metade dos trens parados, para ir para o trabalho, é necessário enfrentar atrasos, superlotação e ter muita paciência. Os quilômetros de engarrafamento não melhoram a vida de quem opta pelo carro.

Barbara Bouskela, que trabalha na periferia de Paris, é uma delas. "Eu me levanto mais cedo e olho como está o tráfego. Eu também volto para casa muito mais cedo", comenta a farmacêutica, que normalmente gasta 40 minutos de ônibus para chegar ao trabalho.

Desde o início da greve, ela aumentou em uma hora seu tempo de trajeto. "Da última vez, o ônibus estava lotado durante todo o trajeto, sem lugar, apertado, um inferno", conta. "Tenho três filhos, então tenho que correr para a creche e depois correr para a escola." Casada com um funcionário da empresa de transportes da região parisiense, a RATP, ela disse que apoia a mobilização.

Como ela, o engenheiro de computação Rémy Leclerc mudou sua rotina para chegar ao trabalho. Ele mora na região de Hautes de Seine, a oeste de Paris. Em tempos normais, ele demora duas horas no trajeto, agora ele pode gastar entre três e quatro horas.

"Eu tenho que me organizar para dormir perto do meu trabalho, se eu ficar bloqueado. Agora eu tenho apenas um trem para vir e outro para voltar por dia, então não posso perdê-los."

Leclerc diz que os trens funcionam, mas estão lotados. "A maioria das vezes é bem estressante. De todas as maneiras, não temos escolha, temos que trabalhar".

Clemence Pinot, estudante em Ciências Políticas na Sorbonne, diz que aumentou em duas horas seu tempo de trajeto. Segundo ela, é complicado, mas como apoia a greve, se adapta: "Eu acho que é importante apoiar os grevistas que lutam pelos seus direitos", diz.

Para ela, o problema não é apenas a Previdência. "Além da reforma das aposentadorias, que é realmente injusta, o governo de Macron é, para mim, catastrófico. Ele não respondeu a nenhuma reivindicação de nenhuma greve, como foi o caso dos coletes amarelos", diz.

"Acho que é importante apoiar para que o movimento seja realmente massivo, para que a greve dure o máximo possível e que o governo não consiga passar pelo menos a reforma das aposentadorias", completa.

Ela está determinada a apoiar a mobilização até o fim. "Eu posso continuar de maneira indefinida. No pior dos casos, minhas notas do semestre ficariam prejudicadas, mas são os grevistas que devem ser apoiados para que eles possam aguentar o máximo possível."

Apoio

Apesar de todos os inconvenientes causados pelas mobilizações contra a reforma das aposentadorias, os parisienses se mantêm firmes contra as mudanças na Previdência, mas gostariam que a greve acabasse o quanto antes.

Trabalhadores temporários e autônomos são os que mais sentem as dificuldades da falta de transporte, porque ganham por dia trabalhado. Este é o caso de Chantal Bahous, ajudante no refeitório de uma escola na Grande Paris. "É normal que eles façam greve, mas podiam pensar nos que trabalham. Se não trabalho, não sou paga. Eu já perdi seis dias de trabalho", diz.

Ela conta que, na manhã de hoje, esperou por mais de uma hora seu segundo ônibus. Com 61 anos, Chantal vai se aposentar no próximo ano e diz que apoia os grevistas em alguns pontos e sobretudo por solidariedade com os jovens. "Será que eles vão ter uma aposentadoria?", ela pergunta.

Já a esteticista a domicílio Alexandra Soigneau diz que não apoia o movimento. "Vou ser franca, eu estou cansada. A greve me penaliza. Como praticamente não tem metrô, sou obrigada a restringir meu perímetro, então eu perco dinheiro", diz.

"Acho que é um pouco exagerado, principalmente no período das festas de Natal. Eu preciso do trem e do metrô para ver minha família. Eu tenho medo de passar o Natal sozinha", reclama. "Eu não acho que o governo tenha razão, eu entendo a causa, mas também não é necessário penalizar todos os franceses."

Ela diz que normalmente dezembro é um bom mês para o negócio, mas que este ano está sendo o contrário. "Somos muitos os que estamos em uma situação delicada por causa dessa greve", diz.

A esteticista realmente não está sozinha. O comércio em Paris, que tinha sofrido perdas com as manifestações dos coletes amarelos em 2018, que obrigaram muitas lojas a fechar, já contabiliza perdas entre 25% a 60% em relação ao ano passado. Mas o Banco Central da França afastou a ideia de um impacto significante das mobilizações no crescimento econômico do país.

Para quem está em busca de emprego, a situação também é difícil. Este é o caso de Frédéric Taseau, que tem que ir a vários lugares diferentes da cidade para suas entrevistas. "Tinha uma entrevista às 14h e saí de casa às 8h para não me atrasar", diz. "A greve com certeza não vai me ajudar na minha procura por emprego".

Ele apoia a mobilização por uma questão de princípios, mas gostaria que ela acabasse logo. "A gente pode apoiar algo e ao mesmo tempo querer que chegue ao fim", completa.