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Israel rompe com Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos após divulgação de empresas envolvidas com assentamentos

13/02/2020 09h07

Israel cortou relações com o Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos depois da divulgação de uma lista de 112 empresas e entidades envolvidas com assentamentos israelenses em territórios palestinos. No total, foram incluídas no relatório 94 empresas israelenses e 18 estrangeiras.

Correspondente da RFI em Tel Aviv

Segundo a ONU, 112 empresas realizam algum tipo de trabalho nas colônias israelenses na Cisjordânia, em Jerusalém Oriental e nas Colinas de Golã. A lista inclui sites turísticos internacionais como Airbnb, Booking.com e Expedia e multinacionais como americana Motorola Solutions e a francesa Alstom.

Foram incluídas firmas que fornecem serviços, equipamentos e materiais de construção para os israelenses e que, para a ONU, podem infringir os direitos humanos dos palestinos, como, por exemplo, ajudar a demolir casas ou destruir propriedade palestina. Os principais bancos israelenses e empresas de ônibus também foram citados na lista, cuja formulação começou em 2016.

Reações

O ministro das Relações Exteriores da Autoridade Palestina, Riyad al-Maliki, disse que divulgação da lista é uma "vitória da lei internacional" e pediu que a ONU aprove sanções contra as empresas da lista. A ONG Human Rights Watch afirmou que isso deve servir como alerta a empresas que desejem fazer negócios com assentamentos, ajudando a "promover crimes de guerra".

Já os israelenses chamaram a decisão de "desprezível" e acusaram a ONU de se render ao movimento BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções contra Israel). O chanceler israelense, Israel Katz, chamou a decisão de "mancha" na reputação da ONU e ordenou o corte de relacionamento entre Israel o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, que compilou e divulgou a lista.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, divulgou comunicado repudiando a decisão, dizendo que "quem boicota Israel, será boicotado". Ele disse que o governo americano seguiu os passos de Israel, cortando relações com o Alto Comissariado.

Rami Levy, dono de uma rede de supermercados israelense que aparece na lista afirmou que a decisão foi tomada por quem não sabe que empresas israelenses na Cisjordânia empregam palestinos e ajudam na economia local.

Efeito do relatório

Na prática, a lista da ONU não tem nenhuma implicação legal tangível. O próprio Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos assinalou que o relatório "não pretende ser um processo judicial" e nem tem "caracterização legal".

A ex-presidente do Chile, Michelle Bachelet, atualmente a Alta Comissária para os Direitos Humanos, disse estar "consciente de que a questão foi e continuará sendo altamente controversa".

Na verdade, a medida faz parte da guerra diplomática travada entre palestinos e israelenses em fóruns internacionais. Nesse jogo diplomático, Israel tem a governo Donald Trump, dos Estados Unidos, em seu campo. Já os palestinos contam com o apoio das Nações Unidas.

No dia 28 de janeiro, Trump revelou o chamado "Acordo do Século", um plano de paz entre israelenses e palestinos que foi aceito pelo governo Netanyahu, mas repudiado pelo presidente palestino Mahmoud Abbas. O plano sugere a anexação israelense de assentamentos na Cisjordânia em troca de terras em outros locais da região. Abbas não conseguiu aprovar uma resolução na ONU condenando o plano, só mesmo a divulgação dessa lista de empresas.

Polêmicos assentamentos

As colônias israelenses são polêmicas porque estão no cerne do conflito com os palestinos. Atualmente, há cerca de 140 assentamentos israelenses na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental - áreas onde, juntamente com a Faixa de Gaza, os palestinos almejam criar um Estado independente.

Os assentamentos são comunidades de diversos tamanhos, de pequenas aldeias e grandes cidades onde vivem cerca de 600 mil pessoas. Os primeiros começaram a ser criados depois da Guerra dos Seis Dias, em 1967, quando Israel passou a controlar áreas que antes estavam sob controle da Jordânia e do Egito.

Para os palestinos e grande parte da Comunidade Internacional, as colônias são ilegais e constituem ocupação porque, segundo a Convenção de Genebra, países que conquistam terras não podem transferir suas populações para essas terras. Para os israelenses, no entanto, essas áreas em questão estão em disputa e só vão pertencer a um ou outro lado após negociações de paz.