Laboratório diz ter desenvolvido teste sorológico de precisão inédita sobre grau de imunização do coronavírus
O Instituto Pasteur e a empresa de biotecnologia TheraVectys, associados em um laboratório de produção de vacinas, afirmam ter desenvolvido um teste sorológico que permite avaliar a qualidade dos anticorpos de indivíduos protegidos da covid-19. A descoberta poderia ajudar as autoridades a monitorar com precisão e segurança as estratégias de isolamento e liberação de populações ameaçadas pela pandemia de coronavírus.
O diretor do laboratório Pasteur-TheraVectys, Pierre Charneau, revela em entrevista ao jornal Libération, nesta segunda-feira (27), que aguarda a autorização das autoridades de saúde francesas para comercializar o novo teste. A duas semanas da suspensão gradual das medidas de isolamento na França, o novo exame vem completar um conjunto de ferramentas indispensáveis para liberar a população sem reativar a epidemia de covid-19.
A vantagem do novo teste sorológico reside em sua capacidade de especificar o grau de imunização dos pacientes recuperados do SARS-CoV-2. Até o momento, os concorrentes existentes no mercado utilizam uma técnica conhecida como Elisa. Coloca-se uma proteína do vírus em contato com o sangue do indivíduo e, na presença de anticorpos, o resultado é positivo. Porém, a confiabilidade desses testes nem sempre é excelente. Além disso, eles são insuficientes para fornecer uma leitura da qualidade da imunidade adquirida pela pessoa contaminada, o que dificulta estabelecer se ela está protegida ou não contra uma nova infecção pelo coronavírus.
A solução desenvolvida pelo Pasteur-TheraVectys teria conseguido superar esse obstáculo. O novo teste de "soroneutralização" detecta anticorpos e mede, acima de tudo, sua capacidade de inibir a entrada do vírus nas células. "Este teste fornece informações sobre a eficácia dos anticorpos", diz Charneau. "Por ser muito sensível, muito específico contra o Sars-CoV-2, ele permite classificar a resposta imunológica em três categorias: forte neutralizante [do vírus], fraco ou não neutralizante", relata. "Podemos, portanto, identificar as pessoas verdadeiramente protegidas, uma informação que é inestimável para todos aqueles que entraram em contato com doentes, inclusive sem saber", destaca o virologista.
Maior confiabilidade
De acordo com Charneau, este teste possibilitará medir a taxa real de imunização das populações em áreas muito afetadas pela pandemia, sendo uma ferramenta preciosa de apoio ao poder público nas decisões sobre o isolamento social. "Que eu saiba, existe apenas um outro teste desse tipo. Mas, como utiliza um vírus real, sua avaliação só pode ser feita em um laboratório de alta segurança (categoria P3), impossibilitando sua aplicação em larga escala", afirma o diretor do Pasteur-TheraVectys.
O novo exame sorológico também apresenta vantagem em relação aos testes de diagnóstico do tipo PCR, que detectam o material genético do vírus e são úteis para a localização do paciente, seu isolamento e o rastreamento das cadeias de contaminação. Como a infecção ativa do novo coronavírus dura em média apenas 12 dias, além desse intervalo ele não é mais detectável. Na etapa pós-infecção, apenas testes sorológicos podem fornecer respostas sobre as pessoas protegidas da doença.
Para fins de pesquisa epidemiológica, a equipe que trabalha no projeto está analisando cerca de 6.000 amostras de sangue do leste da França, um dos principais focos da epidemia no país junto com a região metropolitana de Paris. Nesse caso específico, o objetivo é medir a taxa de pessoas assintomáticas e mapear com precisão a imunidade coletiva adquirida no departamento de Haut-Rhin (leste), particularmente afetado pela covid-19. Os cientistas do Pasteur também monitoram outros públicos, como crianças e a possível proteção resultante do uso da hidroxicloroquina como medida preventiva entre os profissionais de saúde.
"Já fizemos milhares de testes e até agora nunca tivemos um falso positivo. Com pouco tempo de recuo, é muito difícil garantir 100% de confiabilidade. O que temos certeza, hoje, é que a taxa de erro é muito baixa", diz o especialista ao Libération. No caso da França, a Alta Autoridade de Saúde estabelece um grau de confiabilidade mínimo de 98%, e o novo teste sorológico do Pasteur-TheraVectys está dentro dessa margem.
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