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Em confinamento, França muda manifestações do dia do Trabalho para as janelas e as redes sociais

Pierre Suu/Getty Images
Imagem: Pierre Suu/Getty Images

01/05/2020 06h57

Com as tradicionais manifestações de rua proibidas pelas regras de controle da pandemia do coronavírus na França, os sindicatos recorrem a protestos pelas janelas e pelas redes sociais para lutar pelo direito dos trabalhadores neste 1° de maio excepcional.

Panelaços e gritos de ordem pelas janelas, manifestações online e faixas são algumas das estratégias de reivindicação no dia internacional pelo direito dos trabalhadores.

"Este primeiro de maio de 2020 não se parece com nenhum outro", constatou o presidente Emmanuel Macron, em um vídeo publicado na manhã desta sexta-feira (1°). O chefe de estado destacou o esforço e a dedicação dos profissionais de saúde, da área de segurança, de serviços essenciais, agricultores e voluntários, e de todos os trabalhadores que garantem que a vida continue "apesar de tudo".

Diante do discurso presidencial, os sindicatos franceses pedem que o Eliseu deixe o campo das palavras para agir em prol dos trabalhadores.

"Teremos que parar de administrar as coisas apenas sob uma lógica orçamentária. Vemos o impasse em que isso nos levou a nível hospitalar", afirmou Laurent Berger, o número um da central sindical CFDT, em entrevista à televisão France Info .

Philippe Martinez, da associação sindical CGT, reagiu a fala de Macron com ceticismo: "Estamos acostumados a esse tipo de mensagem do presidente, que dias depois é esquecida. Agora, precisamos agir".

Trabalhadores da saúde, funcionários do comércio e de empresas alimentícias, assim como paramédicos e agentes de serviço público são algumas das categorias que estão na linha de frente do trabalho durante a epidemia do coronavírus e que se sentem "esquecidas" pelo governo.

Já na quinta-feira (30), a central sindical CGT reuniu alguns manifestantes e muitas faixas para protestar diante do hospital Pitié-Salpêtrière em Paris, um dos epicentros do cuidado de pacientes da Covid-19 na capital francesa. Nos cartazes, pedidos de mais recursos para a saúde pública ladeavam reivindicações de aumento salarial.

Na manhã desta sexta, diversos hospitais franceses tinham faixas em protesto pela valorização da saúde pública e de seus profissionais.

Divisão nas reivindicações

Apesar de a crise na saúde aparecer em todos os discursos, os principais grupos sindicais franceses não se unificaram em suas reivindicações deste 1° de maio.

A CGT chamou seus correligionários a protestarem "por um mundo justo, sustentável e unido", o grupo Solidaires usa o jargão "Raiva confinada, explosão garantida!", já a FSU, "serviço público, útil como nunca antes".

Já as centrais CFDT, CFTC, Unsa e os estudantes da Fage, que tradicionalmente comemoram o 1º de maio juntos, reafirmam nas redes sociais suas demandas gerais "por emprego, justiça social e por um modelo de desenvolvimento que respeite mulheres e homens no trabalho".

Os sindicatos profissionais têm ainda pedidos específicos em relação à pandemia. Após o governo reconhecer a Covid-19 como uma doença do trabalho para os profissionais de saúde, o que implica em indenização para os empregados contaminados, os sindicatos querem que outras categorias tenham direito ao mesmo benefício.

As ruas na sala de casa

Acostumados às grandes manifestações de ruas, nas redes sociais diversos franceses publicaram vídeos com "protestos de bonecos" em cortejos numerosos na sala de suas casas sob o som ambiente de manifestações de uma época em que o distanciamento social não era necessário.

Outros publicam mensagens pedindo aumento do salário mínimo, redução das horas de trabalho, melhora dos serviços públicos, entre pedidos mais gerais, como a de um país mais preocupado com o aquecimento global.

Um panelaço convocado pelo líder da França Insubmissa, Jean-Luc Mélenchon, ao meio-dia pretende fazer o Eliseu ouvir as reivindicações dos traballhadores.

Em confinamento desde o dia 17 de março, a França não ficará em silêncio neste primeiro de maio.

* Com informações da AFP