Macron recorda barbárie do comércio de africanos e pede aos franceses que nunca esqueçam a escravidão
O presidente Emmanuel Macron pediu neste domingo que a escravidão "nunca seja esquecida", por ocasião do dia nacional de memória do comércio de escravos, da escravidão e de suas abolições. Em 2001, a França instituiu a data de 10 de maio para lembrar esse período atroz. "Essa data existe para que nunca esqueçamos essas páginas da nossa história", escreveu o presidente francês em uma mensagem postada nas redes sociais.
Em sua mensagem aos franceses, Macron destacou "a barbárie do comércio de escravos e da escravidão colonial, esse crime contra a humanidade que foi perpetrado por séculos". "Foi denunciando e destruindo este sistema que realmente nos tornamos o que somos: o país dos direitos humanos e uma República unida e indivisível que extrai de sua diversidade a força do universal", acrescentou.
Referindo-se ao coronavírus e ao período de confinamento que será gradualmente suspenso no país a partir de segunda-feira (11), Macron disse que "infelizmente" não foi possível "se reunir na solenidade fraterna das cerimônias cívicas que caracterizam a nação francesa".
O presidente endereçou "um pensamento especial para as milhares de famílias que hoje se encontram separadas pelos oceanos". "Vamos nos encontrar novamente porque a provação que estamos passando hoje não nos separou, nos tornou mais próximos, mais unidos (...) A história nos ensina: a França unida supera todas as provações", assegurou o presidente. "Vamos recordar de todos os heróis da liberdade que se ergueram contra a escravidão e conquistaram a abolição. (...) O exemplo deles .
A França aboliu a escravatura em suas colônias no dia 27 de abril de 1848. "Vamos recordar de todos os heróis da liberdade que se ergueram contra a escravidão e conquistaram a abolição. (...) O exemplo deles nos impõe essa obrigação", escreveu Macron no Twitter.
Ao lado de Portugal e da Inglaterra, a França foi um dos principais protagonistas do comércio de escravos e do sistema de escravidão, qualificado na história moderna de crime contra a humanidade. Mais de 1,6 milhão de africanos foram levados à força para as colônias francesas das Antilhas.
Neste ano, os eventos para lembrar a abolição da escravatura foram reduzidos devido à epidemia de coronavírus. Mas, apesar das restrições, o primeiro-ministro Édouard Philippe presidiu uma curta cerimônia no Jardim de Luxemburgo, em Paris, na presença dos presidentes da Assembleia Nacional e do Senado, da ministra dos territórios ultramarinos, Annick Girardin, do ex-primeiro-ministro Jean-Marc Ayrault, presidente da recém-criada Fundação para a Memória da Escravidão, e sua diretora, Dominique Taffin.
França e Brasil mantiveram a escravidão
A historiadora Hebe Mattos, professora da Universidade Federal de Juiz de Fora e da Universidade Federal Fluminense, autora do livro "Das Cores do Silêncio", recordou em entrevista à RFI que o Brasil e a França estão na origem da escravidão africana no Atlântico. "O Brasil com a colonização portuguesa e a França com a colonização das Antilhas, utilizando a mão-de-obra escrava africana. E mesmo depois, com a França pós-revolução e o Brasil independente, constitucional e liberal, mantiveram a escravidão por algumas décadas", afirmou.
Ao todo, mais de 11 milhões de africanos foram deportados para as Américas. O Brasil foi o último país do mundo a abolir a escravidão, em 13 de maio de 1888, com a promulgação da lei Áurea.
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