Pesquisas indicam que pobres são os mais afetados pela crise do coronavírus
Os mais pobres são mais expostos ao coronavírus que o resto da população. Vários estudos científicos foram realizados para verificar esta constatação perceptível em muitas regiões do mundo.
Na França, esta realidade salta aos olhos principalmente no departamento de Seine-Saint-Denis, ao norte de Paris. A região registrou a maior taxa de mortalidade da covid-19: em março de 2020, foram 63% a mais de óbitos do que no mesmo mês de 2019. O departamento concentra indicadores sociais negativos, sendo ao mesmo tempo o mais populoso e um dos mais pobres da França; com o menor número de médicos por habitantes do país e a maior concentração de imigrantes.
"Em geral, a pandemia afetou com mais violência as regiões francesas que acumulam densidade demográfica, grande proporção de operários e forte desigualdade de renda", constata a economista Nadine Lecratto, em um estudo sobre as desigualdades territoriais diante da pandemia, publicado recentemente.
A pesquisa aponta nesta situação as regiões de Île-de-France (região parisiense), Hauts-de-France (norte) e o Grand Est (leste), que foram as que registraram o maior número de vítimas. Essas foram classificadas pelo governo como zonas ainda de risco e sairão da quarentena em um ritmo mais lento do que o resto do país.
Fatores de vulnerabilidade
Diversos fatores tornam os mais pobres mais vulneráveis à pandemia, a começar pelo acesso limitado à saúde e a maior exposição a patologias que agravam os fatores de risco, como hipertensão, obesidade e diabetes.
As famílias carentes vivem geralmente em casas pequenas, favorecendo a propagação familiar do vírus. Além disso, os trabalhadores pobres quase não têm empregos compatíveis com o teletrabalho. Eles estão, portanto, na linha de frente das pessoas expostas ao vírus durante a pandemia, atuando no comércio essencial, como cuidadores, faxineiros, lixeiros ou entregadores, e foram contaminados no trabalho.
Essa constatação é universal, mas cada país apresenta particularidades que dependem de sua história socioeconômica. Nos Estados Unidos, os afro-americanos são muito mais afetados do que os brancos, de acordo com os primeiros estudos realizados por município naquele país.
No Reino Unido, a taxa de contaminação é muito maior nas regiões que votaram a favor do Brexit, apresentando uma diferença de 19% mais do que as áreas que votaram contra. Os dados são da economista Annie Tubadji, que teve a ideia de cruzar os resultados da votação no referendo sobre a saída do país da União Europeia com a incidência do novo coronavírus. As regiões pró-Brexit também são as mais desfavorecidas economicamente.
A pesquisadora também se interessou pelo perfil étnico das regiões britânicas: quanto mais multiculturais, mais são afetadas pela pandemia.
Na França, é impossível fazer estudos tão extensos. Os especialistas franceses em epidemiologia social reclamam que os dados não estão disponíveis no país. Isso representa um sério obstáculo para conter a pandemia a curto prazo, pois uma análise mais detalhada das populações afetadas permitiria uma abordagem direcionada e mais eficaz.
Imigrantes mais afetados em Singapura
Os trabalhadores imigrantes ficaram de fora da campanha de prevenção lançada em Singapura contra a covid-19 e constituem a maioria dos casos na segunda onda da pandemia no país. A cidade-Estado pensou conter a doença com medidas draconianas, mas esqueceu de testar e proteger os pilares de sua atividade econômica. Os imigrantes, que na maioria das vezes moram em dormitórios lotados, continuaram a realizar seu trabalho durante a crise sanitária.
A longo prazo, a pandemia vai acentuar ainda mais as desigualdades que a própria crise tornou mais evidentes. A menos que as políticas futuras de estímulo econômico anunciadas por diversos países priorizem finalmente a redução das desigualdades, como esperam milhões de cidadãos que, em diversos países do mundo, enfrentam a pandemia de coronavírus ainda sem previsão de cura.
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