Jeferson Tenório

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Opinião

Conselho Federal de Medicina alega discriminação reversa para barrar cotas

Na semana passada, o CFM (Conselho Federal de Medicina) emitiu uma nota se posicionando contra a política de cotas em residências médicas.

A nota fala em "privilégio" e que as cotas vão fomentar uma ideia de "vantagens injustificáveis dentro da classe médica". Além disso, utiliza a expressão "discriminação reversa", o que, numa sociedade minimamente letrada dentro de uma gramática antirracista, soa absurdo e violento.

Além da nota, o Conselho ingressou com uma ação civil pública contra a Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares) para impedir a reserva de 30% das vagas para pessoas com deficiência, negros, residentes em quilombos e indígenas para preencher as vagas entre os aprovados no Exame Nacional de Residência.

A posição controversa do Conselho não é novidade. Para quem não lembra, durante a pandemia, o órgão defendeu a autonomia dos médicos no uso da cloroquina para tratamento da covid-19. Vale destacar que não havia e não houve qualquer comprovação da eficácia do medicamento.

A postura do CFM tem mostrado uma guinada a uma ideologia de extrema direita. Dito isso, infelizmente não surpreende o órgão ter ingressado com uma ação contra as cotas.

Os argumentos do conselho, além de equivocados, são também de uma perversidade ao tratar as cotas como "privilégio" e "vantagem".

Sempre é preciso dizer que cota não é um privilégio. Cota é um direito. Cota é uma reparação de uma dívida histórica que a sociedade brasileira tem com a população negra.

Pessoas negras foram historicamente impedidas de ter acesso à educação básica. O ensino superior só se tornou um pouco mais diverso após a implantação bem-sucedida de cotas nas universidades públicas.

Dizer o óbvio virou nosso mantra, por isso, repetimos sempre: não existe discriminação reversa. Afirmar que pessoas brancas sofrem preconceito em função das cotas é atroz e assume um contorno vergonhoso vindo de uma instituição tão importante que, em tese, deveria se posicionar a favor da qualidade de vida de pessoas historicamente excluídas.

Neste final de semana, o Enem trouxe como tema de sua redação "Os desafios para a valorização da herança africana no Brasil". Sugiro ao Conselho Federal de Medicina ler as redações dos estudantes. Talvez seus membros possam aprender um pouco sobre história, reparação e empatia.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

62 comentários

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Emerson Zanoni

Tenório, chega a ser ridículo o pleito de cotas para residência médica. Já há cotas para a faculdade e sabe-se lá o que isso significará a longo prazo com alunos entrando em uma escola médica com conhecimento muito inferior ao da média dos estudantes que entram pelo vestibular. O cidadão tem seis anos para se preparar para prova de residência, e ainda vai querer a tutela do Estado para ajudá-lo novamente? E depois, também vai haver cotas para ingresso em corpo clinico? Para o credenciamento médico? Para o agendamento de cirurgias? Como médico, discordo em 99% das posições do CFM, mas nessa eu estou plenamente de acordo. Há limites para tudo.

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Cesar Augusto Cuba Sanchez

"Gramática antiracista"? Daqui a pouco vai ter matemática antiracista, genética antiracista e, rs, medicina antiracista. O que eu quero é um médico bem formado, ético e amante da ciência. Cotas na graduação faz sentido, durante algum tempo. Na pós-graduação, que os melhores avancem!

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Licelia Maria Vieira Cesar

 ja existem cotas para a faculdade, agora para serem os melhores medicos  ESTUDEM para entrarem numa residencia.  A medicina NÂO é  brinquedo de politicos.

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