Coletes amarelos voltam a ruas da França amanhã: autoridades se preparam para protestos
Após uma pausa durante o verão, os "coletes amarelos" devem retornar às ruas da França amanhã, com uma série de ações previstas pelo país. O movimento usou as redes sociais anunciar manifestações em Paris e em várias outras cidades francesas, enquanto as autoridades se preparam para evitar confusões e vandalismo.
Os encontros são anunciados em Marselha, Toulouse, Lyon, Lille, Nantes, Nice, Estrasburgo e na capital. Em Paris, eles devem acontecer na praça da Bolsa, nas praças Wagram e Saint-Pierre e aos pés da basílica do Sagrado Coração, no bairro de Montmartre.
"Diante dos riscos de perturbações da ordem pública", o chefe da polícia de Paris, Didier Lallement, proibiu "qualquer aglomeração de pessoas que afirmam fazer parte do movimento dos coletes amarelos" em vários setores da capital, incluindo o Champs-Elysées , a Assembleia Nacional e o Hôtel Matignon (sede do chefe do governo), já a partir das 18h, horário local, desta sexta-feira (11) e no sábado.
Entre 4 mil a 5 mil manifestantes são esperados em Paris, de acordo com fontes policiais, que evocaram a participação de pelo menos mil pessoas "potencialmente violentas".
Na página do evento no Facebook, há mais de 2,3 mil pessoas confirmadas e 7 mil manifestaram interesse de ir.
"Nossas reivindicações não mudaram: acesso a uma vida melhor, a uma democracia mais direta e participativa, mais justiça social e fiscal. E, acima de tudo, respeito e reconhecimento de cada cidadão", escreveu na página do grupo no Facebook uma de suas lideranças.
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Publiée par Gilets Jaunes de France sur Mardi 1 septembre 2020
Pelas redes sociais, Jérôme Rodrigues, figura ativa do movimento, fez um apelo "pela desobediência civil total". "Peço-lhes que nesse dia não mostrem nenhuma carteira de identidade, mesmo que isso signifique ir dar uma volta na delegacia para ser interrogado e passar 4 horas lá. O governo não vai nos deixar fazer o que queremos", escreveu ele.
O clima tenso entre os coletes amarelos e as forças de ordem pode ser medido nas redes sociais. Ontem, Jérôme Rodrigues comparou os policiais a um "bando de nazistas", numa troca de mensagens no Twitter com o sindicato de oficiais Synergie. O caso levou o ministro do Interior francês, Gerald Darmanin, a apresentar uma queixa contra o integrante dos "coletes amarelos".
Armamento para dispersar grupos
Após muita polêmica sobre uso dos lançadores de balas de defesa (LBD) na França para "dispersão" pela polícia, durante as manifestações dos "coletes amarelos", o governo anunciou, nesta quinta-feira, que as forças de ordem passarão a usar, a partir deste sábado, um novo tipo de granada para esse fim. O equipamento é "menos perigoso", como declarou o ministro do Interior Gérald Darmanin.
As balas de defesa tiveram seu uso questionado pelas entidades de direitos humanos, depois que muitos manifestantes ficaram feridos em protestos anteriores.
Protesto proibido em cidade berço do movimento
Em Toulouse, no sudoeste do país, considerada um dos redutos do movimento dos coletes amarelos, a manifestação deste sábado foi proibida pelas autoridades locais, em particular por causa "dos altos índices de disseminação da covid-19". Além da situação sanitária, o governo local indica que "as manifestações não autorizadas do movimento dos coletes amarelos" em 2018 e 2019 "deram origem a acontecimentos graves" no centro da cidade.
Nascido em 17 de novembro de 2018, o movimento cidadão dos "coletes amarelos", se caracteriza por um grupo antielite, que luta por mais justiça fiscal e social na França e tem como modo de agir os protestos e as ocupações de rotatórias em diversas cidades, às vezes com demonstrações violentas.
Sem máscaras
Dois anos após o surgimento dos coletes amarelos, o movimento prepara o seu retorno e, dessa vez, poderia contar com o reforço massivo dos antimáscaras.
Na França, desde que o governo impôs a obrigatoriedade do uso desse tipo de proteção em locais públicos fechados e em ruas de grande movimento, mensagens de ativistas antimáscara e dos coletes amarelos vêm circulando nas redes sociais contra o decreto.
Em Paris, por ordem do primeiro-ministro Jean Castex, o uso da máscara é obrigatório em toda a capital, desde o fim de agosto. Mas se a medida foi bem recebida pelas equipes médicas, uma "ditadura sanitária" é denunciada na página do Facebook dos coletes amarelos, que incluíram essa questão entre as suas reivindicações.
O fato suscita muitas dúvidas se o evento deste sábado poderá reunir pessoas sem esse tipo de proteção. Em comentários publicados na internet, os coletes amarelos questionam a eficácia das máscaras para prevenir a Covid-19 e denunciam uma privação de liberdade.
Nesse contexto, a pauta dos dois movimentos pode coincidir, acreditam especialistas consultados pelo jornal Le Parisien. "Os coletes amarelos e os antimáscaras estão juntos na sua recusa em permitir que a lei seja ditada pelo Estado. Nós encontramos, nos dois movimentos, essa ideia de que os especialistas, como as elites, impõem medidas que vão contra as liberdades", explica o sociólogo Remy Oughiri ao jornal Le Parisien.
A comunidade médica da França, no entanto, é categórica em afirmar que o uso de máscaras pode reduzir as chances de contágio do vírus.
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