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Congresso francês autoriza pesticida que mata abelhas para salvar indústria da beterraba

Ativista do Greenpeace usando uma máscara com o rosto de Emmanual Macron em protesto contra o desmatamento - RAPHAEL LAFARGUE/AFP
Ativista do Greenpeace usando uma máscara com o rosto de Emmanual Macron em protesto contra o desmatamento Imagem: RAPHAEL LAFARGUE/AFP

06/10/2020 17h20

A Assembleia Nacional da França aprovou nesta terça-feira (6) um polêmico projeto de lei que permite a reintrodução temporária de pesticidas que matam abelhas para salvar a indústria da beterraba. O debate no congresso francês foi acalorado, e o partido do presidente francês Emmanuel Macron, o República em Marcha (LREM), registrou uma longa disputa entre seus apoiadores na bancada governista.

No total, o projeto de lei obteve 313 votos a favor, 158 contra e 56 abstenções, e agora deve ser analisado no Senado francês em uma primeira leitura.

No LREM, 32 deputados votaram contra e 36 se abstiveram, um recorde inesperado, enquanto apenas 175 do grupo macronista liderado desde setembro por Christophe Castaner votaram a favor deste texto que prevê a reintrodução desses neonicotinóides, os inseticidas que matam abelhas.

A polêmica entre os deputados franceses é claro um sinal de que o "projeto de lei, difícil e importante" não conseguiu conciliar os adeptos da ecologia e da economia, sobretudo entre os apoiadores de Macron, como esperava Julien Denormandie, o Ministro da Agricultura. "Minha posição sobre este assunto não foi difícil de manter no grupo. Todos entenderam", disse Sandrine Le Feur, deputada do LREM e agricultora de profissão.

Toda a esquerda francesa votou em bloco contra o projeto de lei sobre os pesticidas, a maioria do partido governista e do MoDem [centro-direita] a favor, mas a maioria dos grupos estava dividida.

"Há votos que fogem da lógica partidária porque participam de escolhas éticas", argumentou a ex-ministra do Meio Ambiente Delphine Batho, feroz oponente da volta dos neonicotinóides.

A nocividade dessas substâncias havia se tornado um consenso durante o exame do projeto de lei na noite de segunda-feira. Mas o deputado macronista Jean-Baptiste Moreau argumentou novamente nesta terça-feira que o projeto de lei era uma "resposta pragmática à situação catastrófica em que a indústria francesa de beterraba se encontra".

Reações

As reações a esta votação foram imediatamente numerosas: a Confederação Geral dos Plantadores de Beterraba (CGB) da França saudou a "coragem" e a "ambição" do governo Macron. Uma "decisão responsável", também aplaudida pela produtora de açúcar Cristal Union.

Por outro lado, o Greenpeace denunciou uma "grande regressão ecológica". Um "insulto" à "proteção dos seres vivos", alertou a associação nacional de apicultura francesa.

Para a União Nacional de Apicultura Francesa (Unaf), que emitiu um comunicado oficial a respeito da liberação dos pesticidas, esta reintrodução do produto é "um insulto à apicultura, ciência e proteção dos seres vivos."

(Com AFP)