Topo

Esse conteúdo é antigo

"Quebrando as algemas do patriarcado" : 2021 será o ano das mulheres influentes na Europa

Greta Thunberg, que acabou de completar 18 anos, deve continuar inspirando jovens ativistas a lutar pelo clima do planeta - Maja Hitij/Getty Images
Greta Thunberg, que acabou de completar 18 anos, deve continuar inspirando jovens ativistas a lutar pelo clima do planeta Imagem: Maja Hitij/Getty Images

Letícia Fonseca-Sourander

RFI em Bruxelas

11/01/2021 14h54Atualizada em 11/01/2021 15h40

Esse ano que está começando deve ser marcado por mulheres que abraçaram a política e o ativismo na Europa. Enquanto a chanceler alemã Angela Merkel se prepara para deixar o poder, uma nova geração de ativistas entra em cena para tentar transformar velhos paradigmas.

Além de Merkel, os holofotes de 2021 devem estar direcionados para a líder da oposição bielorrussa Svetlana Tikhanovskaïa, a ativista antirracista Assa Traoré em Paris, a militantes LGBTQI+ Olenka Shevchenko da Ucrânia e a ativista ambiental Fatima Ibrahim em Londres. Outros destaques devem ser a vice primeira-ministra da Bélgica, a trans Petra De Sutter, a comissária para direitos humanos do conselho da Europa, a sérvia Dunja Mijatovic, a primeira-ministra da Escócia Nicola Sturgeon, a líder da extrema-direita francesa Marine Le Pen, além da escritora e ativista polonesa Klementyna Suchanow.

Em um dos trechos de seu último discurso de Ano Novo como chanceler da Alemanha, Angela Merkel agradeceu os esforços de seus compatriotas durante a pandemia. "Sou grata pela disciplina com que a grande maioria das pessoas usa suas máscaras, como elas se esforçam para manter a distância. Para mim isso expressa o que torna possível a vida em sociedade: a consideração pelos outros, o senso de dar um passo atrás, a consciência do espírito público". Uma mensagem plena do bom senso que tanto caracteriza esta política que se tornou a mulher mais poderosa do mundo.

Por inspirar com frequência segurança em meio às turbulências, os alemães apelidaram Merkel de "mutti", que significa mãe. Além disso, a figura da chanceler ajudou a projetar uma imagem não ameaçadora da poderosa Alemanha. Agora, a era Merkel está chegando ao fim, após 16 anos e quatro mandatos consecutivos. A chanceler alemã decidiu não concorrer às próximas eleições gerais que vão acontecer em setembro. Física com doutorado em química quântica, Merkel já avisou que pode voltar para a vida acadêmica após se despedir da carreira política.

Não serão apenas os alemães que vão se sentir um pouco "órfãos". A saída de cena de Merkel deixará também um grande vácuo nas complexas negociações da União Europeia, onde ela sempre teve um papel central e decisivo.

Seu biógrafo, Gerd Langguth, ressalta que apesar de estar sempre sob os holofotes, Merkel permanece um enigma. "É uma esfinge" por se manter discreta, "como aprendeu em seus anos sob a ditadura da Alemanha Oriental", escreveu. Nos últimos meses, sua condução do combate ao novo coronavírus deu a Angela Merkel uma taxa de aprovação de quase 80% no país. A primeira mulher a liderar o governo alemão enfrentou inúmeras crises, criou um estilo de governar e deixará, sem dúvida, um grande legado.

Para Shada Islam, analista sênior do conselho do think tank European Policy Centre e uma das mulheres mais influentes de Bruxelas, "é muito importante ter mais mulheres em posição de poder. Porém, essas mulheres têm que ser corajosas o suficiente para pensar de maneira transformadora, quebrando as algemas do patriarcado, as algemas do consenso. Elas precisam ousar para serem diferentes, e isso não é fácil". Na entrevista que concedeu à RFI Brasil, Shada Islam ressaltou a importância das líderes em protestos contra ditaduras, como na Bielorússia, e em movimentos que responsabilizam o domínio do patriarcado, como é o caso da Polônia.

"Não é fácil ser uma líder e romper com esse pensamento que reduz tudo a uma só dimensão e quebrar as narrativas simples que dominam a política externa no momento. Nós somos bons, eles são ruins. Nós somos gentis, eles desagradáveis. Temos que garantir uma abordagem mais ampla para que não incluam somente mulheres brancas e que a diversidade de nossas sociedades esteja refletida. O fato não é apenas representatividade, mas conteúdo. No mundo de hoje, nós precisamos de pensamento autêntico, de mentalidade inovadora".

Movimento "Black Lives Matter" ganha força na Europa

Figura emblemática da luta contra a violência policial na França desde a morte de seu irmão mais novo Adama, Assa Traoré continua mais do que nunca determinada em seu combate por justiça racial. "Por trás das palavras liberdade, fraternidade e igualdade, quando abrimos as cortinas, coisas horríveis estão acontecendo", afirmou a ativista na revista americana Time, no mês passado. Eleita "Guardian of the Year 2020", Traoré aparece na capa da publicação com seu olhar determinado e cabelos empoderados.