Jurados voltam a se reunir hoje para definir veredicto sobre morte de George Floyd
Os 12 jurados encarregados de formular um veredicto no julgamento de Derek Chauvin, o policial de 45 anos acusado de provocar a morte de George Floyd, em maio passado, depois de pressionar seu joelho contra o pescoço do pai de família negro por cerca de 9 minutos, voltam a discutir suas conclusões hoje. Ontem, a Promotoria e a defesa apresentaram as considerações finais no tribunal de Minneapolis.
O policial branco enfrenta acusações de homicídio doloso e homicídio culposo, ou seja, com intenção e também sem intenção de matar, e de assassinato de terceiro grau, crime que na Justiça brasileira é similar à lesão corporal seguida de morte. Os jurados podem levar várias horas ou dias para se pronunciar sobre o veredicto. Eles já se reuniram durante quatro horas ontem, mas suspenderam os trabalhos sem chegar a uma conclusão.
Na manhã de hoje, os membros do júri — seis pessoas brancas, quatro negros e duas mulheres que se identificaram como multirraciais — vão continuar os debates a portas fechadas em um prédio do governo no centro de Minneapolis. Os cinco homens e sete mulheres têm idades entre 20 e 60 anos.
Os jurados devem concordar por unanimidade em condenar ou absolver Chauvin em cada uma das três acusações. Mas, se não conseguirem chegar a um acordo sobre um veredicto e, em vez disso, determinar que estão em um impasse nas acusações, o julgamento pode ser anulado e os promotores podem pedir para reiniciá-lo.
Ontem, defesa e acusação fizeram as considerações finais no processo. A Promotoria apresentou uma síntese de 30 depoimentos de acusação. O promotor Steve Schleicher fez uma explanação muito forte, falou por quase duas horas e ressaltou: "O que se vê no vídeo [com as imagens de Floyd agonizando] é exatamente o que aconteceu, acredite nos seus olhos".
O promotor destacou que as pessoas que assistiram à cena relataram ter pedido para o policial parar. Schleicher exibiu diagramas mostrando como foram os 9 minutos e 29 segundos que Chauvin ficou com o joelho no pescoço de Floyd, que repetiu 27 vezes que não conseguia respirar. O promotor destacou que o policial teve muitas oportunidades para interromper sua abordagem, inclusive quando a ambulância chegou e quando uma criança de 9 anos pediu para que soltasse o homem. Mas, nada o comoveu.
A defesa levou duas testemunhas no último dia de audiência. O advogado do agente, Eric Nelson, disse que Floyd resistiu mais de 16 minutos antes da imobilização. Por isso, segundo a defesa, Chauvin teria sido obrigado a reagir. O advogado insistiu que Floyd tinha problemas anteriores com drogas e também cardíacos. Mais uma vez, o defensor sustentou que esses fatores provocaram a morte do negro de 46 anos. Nelson disse ainda que a quantidade de pessoas ao redor distraiu o policial e que Chauvin colocou em prática exatamente o que foi treinado para fazer - apesar de membros da polícia terem dito o contrário.
Chauvin, de 45 anos, responde a três acusações diferentes de assassinato e pode pegar até 40 anos de prisão — ele foi convidado a se apresentar, mas se recusou a depor no tribunal.
Expectativa nos Estados Unidos para o veredicto
Este julgamento é extremamente simbólico e representa um momento de forte tensão nos Estados Unidos. A discussão sobre o racismo estrutural ganhou força com a morte de Floyd e, a cada novo caso, a tensão aumenta. A decisão dos jurados pode refletir o que o país pensa de fato sobre a discriminação de negros, e como vai seguir daqui em diante em relação à violência policial contra esta parcela da população, algo enraizado na cultura americana. A apreciação do caso terá um peso muito grande nas mudanças que a polícia poderá ou não sofrer, novas políticas, normas e reformas. Pode trazer esperança ou desesperança, dependendo do veredicto.
A conclusão do júri será anunciada num ambiente explosivo, já que a morte recente de um jovem negro, em um controle de trânsito num subúrbio de Minneapolis, gerou uma nova onda de protestos. Na semana passada, perto do local da morte de Floyd, Daunte Wright, homem também negro, morreu baleado por uma policial branca durante uma abordagem. Ela confundiu uma arma de fogo com uma arma de choque, o que provocou novas manifestações e mais discussão sobre preconceito e despreparo da polícia.
A cidade de Minneapolis e muitas outras em todo país estão com reforço de segurança inclusive com a Guarda Nacional, esperando manifestações qualquer que seja o resultado na Corte. Em Minneapolis, o tribunal está cercado, as lojas já foram protegidas com tapumes e até as aulas foram canceladas. Apesar de ser o julgamento de um policial, é a história do país que está no tribunal. Também está em jogo na decisão dos 12 jurados o que os americanos esperam de seu país.
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