Variante indiana avança rapidamente no Reino Unido, apesar da alta taxa de vacinação
Segundo informações do jornal The Guardian, o número de casos da Covid-19 associados à nova variante B.1.617.2 cresceu 160% na semana passada. De acordo com a agência sanitária britânica Public Health England, foram confirmados, nas últimas 24 horas, 3.424 casos, contra 1.313 na última quinta-feira (20).
Os dados são preocupantes porque o Reino Unido é o país europeu com a maior taxa de vacinação da Europa. Em 21 de maio, 55,7% da população havia recebido uma dose da vacina, contra 33,48% na França.
A variante indiana teria sido identificada em pelo menos 86 locais diferentes no país, segundo a imprensa local, e focos de contaminação foram detectados em todo o território. Ela estaria se tornando majoritária no Reino Unido e atinge principalmente a população mais jovem, incluindo crianças.
As escolas reabriram no Reino Unido em março e, no último fim de semana, o jornal The Guardian acusou o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, de ocultar a divulgação dos dados de contaminação nos estabelecimentos para dissimular a retomada epidêmica.
De um modo geral, o país não registra, atualmente, um aumento relevante do número total de casos, o que não é surpreendente enquanto a cepa britânica predominar no território.
No dia 23 de maio, o país contabilizou 2.254 infecções, contra 2074 no dia 14. O Scientific Advisory Group for Emergencies, órgão similar ao Conselho Científico francês, divulgou um relatório há alguns dias e afirma, no documento, que a variante indiana é possivelmente 50% mais transmissível que a B.1.1.7, a cepa britânica.
Em entrevista à rádio France Info, Michèle Legeas, especialista de análise e gestão de situações de risco, disse que é possível que os britânicos "tenham menos respeitado as medidas de proteção após tomar a primeira dose da vacina".
Além disso, o intervalo de 12 semanas entre as duas doses da AstraZeneca, imunizante usado no país, também pode ter influenciado na circulação da variante. O governo britânico optou, para economizar doses, por vacinar o maior número de pessoas possível espaçando as duas injeções, mas essa decisão teria impactado a proteção da população contra a B.1.617.2, mais contagiosa.
Diante da progressão dos casos ligados à variante, o premiê britânico anunciou, há cerca de duas semanas, que as doses disponíveis seriam administradas aos maiores de 50 anos e pessoas com fatores de risco em um intervalo de 8 semanas. Ainda assim, essa decisão não impactaria sua disseminação no território.
A agência Public Health England publicou, no sábado (22), os primeiros resultados preliminares de um estudo que mostra que as vacinas da Pfizer e da AstraZeneca, após duas doses, tem uma eficácia praticamente similar contra as variantes indiana e a britânica, majoritárias na maior parte dos países europeus, incluindo a França.
A pesquisa mostra que a vacina da AstraZeneca tem uma taxa de proteção contra as formas sintomáticas da Covid-19 causadas pela variante indiana de 60% após duas injeções. O imunizante da Pfizer tem uma taxa de 88% de proteção duas semanas após a segunda dose e de 33% três semanas após a primeira e de 50% para a cepa britânica.
A conclusão é de que apenas uma vacinação completa pode ajudar a combater as variantes, dotadas de diferentes mutações "de escape" que facilitam a entrada do vírus na célula e são capazes de driblar e neutralizar a ação dos anticorpos. A variante indiana possui a E484Q, mutação semelhante à E484K, encontrada nas variantes britânica (B.1.1.7), sul-africana (B.1.351) e brasileira (P1).
Restrições na fronteira
Para evitar o avanço da variante indiana em seu território, a Alemanha decidiu restringir o trânsito com o Reino Unido no último domingo (23). As companhias aéreas, de trem, e rodoviárias só têm autorização para transportar cidadãos alemães ou pessoas que vivem no país. Os viajantes também são submetidos agora a um isolamento de duas semanas.
A França também poderá adotar medidas restritivas "mais impactantes" que as atuais, disse, no domingo, o chanceler francês, Jean-Yves Le Drian, diante do avanço da cepa. De acordo com Instituto alemão de Vigilância Sanitária, Robert Koch, o Reino Unido se transformou em uma zona de alto risco sanitário, como 11 países da Ásia, da África e das Américas.
Variante é detectada em pelo menos 53 países
A variante indiana da Covid-19 foi oficialmente detectada em 53 territórios, de acordo com um relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS) publicado nesta quarta-feira (26). A organização recebeu informações de fontes não oficiais indicando que a variante B.1.617 foi encontrada em sete outros territórios, de acordo com dados epidemiológicos semanais atualizados, elevando o número para 60.
Na semana passada, foram registrados mais de 4,1 milhões de novos casos e 84 mil óbitos no mundo, o que representa uma queda de 14% e 2%, respectivamente, em relação à semana anterior. A maior redução de casos foi registrada na Europa e no Sudeste Asiático, segundo a organização. O número de infecções registrados nas Américas, no leste do Mediterrâneo, na África e nas regiões do oeste do Pacífico são semelhantes aos relatados na semana anterior.
"Apesar da tendência geral de diminuição dos casos nas últimas quatro semanas, a incidência de casos e mortes pela Covid-19 continua alta, e aumentos significativos foram observados em muitos países", alerta o documento.
O maior número de novos casos nos últimos sete dias foi registrado na Índia (1.846.055 - 23% menos); Brasil (451.424 - +3%), Argentina (213.046 - +41%), Estados Unidos (188,410 - -20%) e Colômbia (107,590 -7%).
Até o momento, foram detectadas quatro variantes da Covid-19, vírus que surgiu no final de 2019 na China: britânica (B.1.1.7), sul-africana (B.1.351), brasileira (P.1) e indiana (B .1.617)."A evolução do vírus é esperada e quanto mais o SARS-CoV-2 circula, mais oportunidades ele tem de evoluir", diz o relatório. "Reduzir o contágio por meio de métodos de controle de doenças estabelecidos e comprovados é parte essencial da estratégia global para reduzir as mutações que têm implicações negativas na saúde pública", alerta a organização.
*Com AFP e RFI
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