Manifestantes em Cuba contam presos às dezenas e buscam desaparecidos em meio a cortes de internet
Em um país em que as manifestações contra o governo são proibidas, o protesto de milhares de cubanos pelas ruas de todo o país no último domingo (11) escancarou a ferida de anos de crise econômica e política na ilha caribenha. Em resposta, o governo do Partido Comunista multiplicou as prisões.
Os manifestantes contam, até agora, 151 nomes entre presos e desaparecidos, entre eles conhecidos opositores do regime cubano e jornalistas.
Ao menos um homem de 36 anos morreu enquanto participava de um protesto na periferia de Havana na segunda-feira (12). O Ministério do Interior confirmou a morte e afirmou que houve conflitos entre manifestantes e policiais nesse dia.
Entre os grupos opositores que se organizaram pela internet, fala-se em até cinco mortos. Os números, no entanto, são incertos. Durante os protestos e nos últimos três dias, aumenta o número de desaparecidos ligados ao movimento opositor relatados. Entre eles, figuras conhecidas da dissidência cubana, como José Daniel Ferrer, Manuel Cuesta Morua e o líder das Damas de Branco, Berta Soler, assim como o artista de protesto Luis Manuel Otero Alcantara.
O governo não confirma a identidade dos presos, o que dificulta o esclarecimento da situação dos desaparecidos.
Cortes de internet
A situação segue ainda mais nebulosa por conta dos inúmeros cortes de internet em diferentes locais do país desde segunda-feira (12).
Algumas pessoas que transmitiram informações para fora do país foram presas, como a jornalista independente e correspondente do jornal espanhol ABC, Camila Acosta. Ela é acusada de "desordem pública", ofensas puníveis com três a seis anos de prisão.
Na manhã desta quarta-feira (14), o movimento Invntario começou a levantar informações sobre os cortes de internet em toda a ilha. Há relatos de pessoas que ficaram mais de 24 horas sem acesso a qualquer tipo de conexão.
Alguns conseguem manter valendo-se de VPNs, para conectar à internet como se estivessem em outro país — mesma estratégia utilizada por opositores na China ou em Mianmar.
Acusação de intervenção externa
Desde domingo, o governo cubano tem tentado minimizar o movimento social. O governo justifica as dificuldades econômicas do país com o embargo dos Estados Unidos e acusa os manifestantes de seguirem pressão estrangeira.
"Em 11 de julho não ouve em Cuba uma explosão social, não houve pela vontade de nosso povo e o apoio de nosso povo à revolução e ao governo", afirmou o ministro de Relações Exteriores Bruno Rodríguez, durante uma coletiva de imprensa na terça-feira (13). Rodríguez acusou o governo dos EUA de estar por trás dos protestos e manter uma campanha pela internet contra o Partido Comunista de Cuba.
O presidente chegou a publicar que o governo "não vai oferecer a outra face a quem o ataca em espaços virtuais e reais. Evitaremos a violência revolucionária, mas reprimiremos a violência contrarrevolucionária".
Nas ruas de Havana, nesta quarta, era possível perceber um aumento no número de policiais em torno do Parlamento.
Enquanto Diaz-Canel evita encarar o problema que deu origem ao descontentamento popular, os opositores anunciam uma nova manifestação para o próximo domingo (18).
(Com informações de Domitille Piron, correspondente da RFI em Havana, e da AFP)
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