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Jornal francês publica perfil e diz que passado como militar "revelou o Bolsonaro atual"

Jair Bolsonaro durante solenidade em Brasília; jornal faz perfil sobre período de Bolsonaro como capitão  - Pedro Ladeira/Folhapress
Jair Bolsonaro durante solenidade em Brasília; jornal faz perfil sobre período de Bolsonaro como capitão Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress

27/07/2021 08h54Atualizada em 27/07/2021 09h34

Em uma série especial de verão, o jornal Le Figaro publica hoje um perfil sobre o presidente Jair Bolsonaro com foco, principalmente, no seu passado militar. "Antes de passar 27 anos no Congresso como deputado e ser eleito presidente, em 2018, Bolsonaro passou 15 anos no Exército, onde criou vários conflitos com seus superiores hierárquicos devido a um temperamento rebelde e indisciplinado", explica o diário francês.

"Jovem tenente, Bolsonaro criou confusão com a hierarquia quando se envolveu em negócios pouco compatíveis com seu status de militar", relata o jornal, citando os períodos em que Bolsonaro tentou ser agricultor, no sul do país e, posteriormente, garimpeiro de ouro no nordeste. Mesmo assim, ele foi promovido a capitão, em 1983, quando tinha 28 anos.

Le Figaro cita comentários feitos pelo coronel Carlos Alberto Pellegrino, que foi superior hierárquico de Bolsonaro e uma das fontes ouvidas pelo jornalista Luiz Maklouf Carvalho para o livro "O Cadete e o Capitão - A Vida de Jair Bolsonaro no Quartel". Segundo o diário francês, Pellegrino detectou precocemente sinais de imaturidade em Bolsonaro, além de "uma ambição financeira e econômica excessiva".

"Ele tinha a intenção de liderar os oficiais subalternos, no que foi sempre repelido, tanto em razão do tratamento agressivo dispensado a seus camaradas, como pela falta de lógica, racionalidade e equilíbrio na apresentação de seus argumentos", disse Pellegrino em trecho do livro reproduzido pelo jornal francês.

O fim da carreira militar de Bolsonaro começou a se delinear quando ele publicou um artigo na revista Veja, em 1986, reclamando dos baixos salários dos cadetes. Vem dessa época a popularidade que ele ganhou na base do Exército, até hoje um elemento importante de seu eleitorado mais fiel, observa o jornal francês. A gota d'água foi a descoberta, no ano seguinte, que ele e um amigo de farda, Fábio Passos, tinham um plano de explodir bombas em unidades militares do Rio de Janeiro para pressionar o comando.

Bombas e afastamento do Exército

O caso das bombas levou Bolsonaro a julgamento, conta o Le Figaro. Condenado inicialmente, depois absolvido pelo Superior Tribunal Militar, ele acabou sendo isolado dentro das Forças Armadas até abandonar a carreira para se aventurar na política.

"A passagem pelo Exército revelou o Bolsonaro atual: ambicioso, polêmico, intrépido, insubordinado, um homem que mistura realidade e ficção, uma personalidade considerada imatura por seus superiores e incapaz de comandar ou, ao contrário, um carismático", sintetiza o diário francês.

O que veio depois todos conhecem, conclui em tom de ironia Le Figaro.

O governo Bolsonaro teve início em 1º de janeiro de 2019, com a posse do presidente Jair Bolsonaro (então no PSL) e de seu vice-presidente, o general Hamilton Mourão (PRTB). Ao longo de seu mandato, Bolsonaro saiu do PSL e ficou sem partido até filiar ao PL para disputar a eleição de 2022, quando foi derrotado em sua tentativa de reeleição.