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Cuomo: Acusação de assédio sexual leva à queda uma das estrelas dos democratas

O governador de Nova York, Andrew Cuomo, renunciou ao cargo ontem - David Dee Delgado/Getty Images/AFP
O governador de Nova York, Andrew Cuomo, renunciou ao cargo ontem Imagem: David Dee Delgado/Getty Images/AFP

Por Luiza Duarte

Correspondente da RFI em Nova York

11/08/2021 07h33Atualizada em 11/08/2021 08h15

Denunciado por ex-funcionárias, o governador de Nova York, o democrata Andrew Cuomo, foi forçado a renunciar ao cargo e às suas ambições políticas. A saída do político mostra que NY quer um basta no assédio em ambientes de trabalho.

Há um ano, o governador de Nova York, Andrew Cuomo, era tido como uma das estrelas do Partido Democrata. Com o sucesso da gestão da crise da pandemia, quando o estado era o epicentro da covid-19 no mundo, e oposição ferrenha ao ex-presidente Donald Trump, sua popularidade crescia. Essa semana, um escândalo sexual envolvendo ex-funcionárias abreviou sua carreira.

Cuomo renunciou ao cargo e abandonou suas chances de reeleição. As críticas do partido e da sociedade civil sinalizam que os americanos querem que o assédio sexual no trabalho seja, enfim, levado a sério.

A queda de um dos políticos mais populares do partido no poder nos Estados Unidos indica que a sociedade quer mudanças.

Desde o início do movimento #MeToo, em 2017, casos desse tipo têm mobilizado a opinião pública, encorajando vítimas a denunciaram e impondo consequências para assediadores. Hoje, o assédio sexual é visto pela maioria dos democratas como um tema de grande importância, e Nova York é um forte celeiro eleitoral do partido.

Democratas progressistas, como a congressista Alexandria Ocasio-Cortez, afirmam que a renúncia não é o bastante. Para eles é preciso alterar a forma como instituições foram pensadas e seguem operando gerando impunidade e reduzindo transparência.

Para romper com a banalização do assédio, será necessário não só modificar regras, mas mudar ambientes de medo e intimidação dentro de empresas e instituições.

Pressão do partido

Andrew Cuomo vinha sofrendo pressão de dentro e fora do Partido Democrata, e sua saída do cargo foi vista como um alívio por boa parte dos colegas de legenda. Na semana passada, quando o relatório da Procuradoria-Geral de Nova York foi apresentado, Cuomo negou as denúncias de assédio de 11 mulheres e descartou a renúncia.

No entanto, o escândalo sexual ganhou grande proporção e a popularidade do governador entrou em queda com nova-iorquinos reprovando sua atitude.

Antigos aliados e colegas democratas tentaram se distanciar de quem há apenas um ano era uma das figuras mais proeminentes do partido, chegando mesmo a ser cotado como potencial candidato à presidência.

Críticas e pedidos de renúncia vieram dos senadores democratas que representam o estado, do prefeito de Nova York, Bill de Blasio, e até da Casa Branca.

O presidente americano, Joe Biden, defendeu que Cuomo deixasse o cargo, mas a vice-presidente, Kamala Harris —que tem como uma das bandeiras os direitos da mulher— não se pronunciou sobre o caso.

A pressão nas redes sociais se somou às rupturas dentro do governo. Funcionários próximos ao governador pediram demissão, como a chefe de gabinete de Cuomo, Melissa DeRosa.

Ao mesmo tempo, integrantes da Assembleia estadual disseram que entrariam com pedido de impeachment, caso o governador não saísse do cargo por conta própria. Desde março, a Comissão de Justiça da Assembleia investiga a conduta de Cuomo.

Além das denúncias de assédio sexual, uma outra investigação analisa como o governo lidou com casos de covid-19 dentro de casas de repouso, e o uso de recursos públicos e de funcionários estaduais na produção de um livro assinado por Cuomo, cujo contrato de publicação no valor de US$ 5 milhões foi assinado com uma editora americana.

Primeira governadora de NY

Com a saída de Cuomo, Nova York terá a primeira governadora mulher. Kathy Hochul, vice-governadora desde 2014, assume no final do mês e terá 15 meses à frente do cargo.

A saída de Cuomo abre um vácuo político a pouco mais de um ano das eleições para governador. Ele era o favorito para disputar um quarto mandato em um dos principais estados do país.

As primeiras denúncias contra ele foram feitas em dezembro do ano passado. O relatório apresentado pela procuradoria na última semana é o resultado de cinco meses de uma investigação independente de caráter não penal, logo, que não produz diretamente acusações criminais.

Cuomo se considera inocente e afirma que o processo foi "politicamente motivado", visando eliminá-lo da disputa eleitoral do ano que vem.