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'Nos recusamos a viver sob violento regime do Talibã', diz ativista

17.ago.2021 - Meninas assistem às aulas em Herat após tomada do Afeganistão pelo Taleban - Aref Karimi/AFP
17.ago.2021 - Meninas assistem às aulas em Herat após tomada do Afeganistão pelo Taleban Imagem: Aref Karimi/AFP

20/08/2021 08h36

Que papel o Talibã reserva para as mulheres afegãs? Os novos senhores de Cabul tentam tranquilizar e prometem "deixar as mulheres trabalharem, de acordo com os princípios do Islã". Mas entre o discurso oficial e a realidade existe um abismo, diz uma ativista dos direitos das mulheres, líder de um partido político em Kandahar (que, por precaução, prefere o anonimato). Com medo do Talibã, as mulheres afegãs continuam fechadas em suas casas. Depoimento feito à jornalista Heike Schmidt, da RFI.

RFI: Qual é a situação das mulheres afegãs desde a vitória do Talibã?

Em todo o Afeganistão, as mulheres se sentem em perigo. Elas são espancadas e ameaçadas de morte. Não há mais segurança em nenhum lugar deste país para nós. É por isso que a maioria dos ativistas pelos direitos das mulheres fugiu das províncias para buscar abrigo em Cabul. Mas na terça e na quarta-feira, nossos colegas nos disseram que viram mulheres no centro da cidade sendo espancadas por causa de suas roupas. O Talibã caça, espanca, ameaça e diz às mulheres que elas não podem usar jeans, camisetas ou saias curtas fora de casa. Salões de beleza fecharam no centro de Cabul, mas também fora da cidade e na província de Kandahar. Nos painéis de publicidade das lojas, os rostos das mulheres e das meninas foram cobertos de tinta.

RFI: Você vê cada vez mais mulheres voltando a usar a burca, o véu integral?

Sim, as mulheres usam a burca, as meninas também. Na verdade, elas não saem mais de casa, apenas em caso de emergência. Se for para ir ao hospital, por exemplo, elas usam a burca.

RFI: E as meninas ainda podem ir à escola?

Nas províncias, as meninas não vão mais à escola. Nas cidades, em Kandahar e em Cabul também não, o Talibã fechou as portas das escolas para as meninas. Eles anunciaram que as meninas terão o direito de ir à escola até os 12 anos. Se acreditarmos em sua retórica oficial, meninas e mulheres poderão estudar e até mesmo ir para a faculdade. Mas, na realidade, as universidades estão fechadas e as meninas não vão mais à escola.

RFI: Então você não confia na promessa do Talibã de respeitar os direitos das mulheres?

O Talibã está apenas tentando polir sua imagem perante a comunidade internacional, mas a verdade é que eles nem mesmo deixam as mulheres saírem de suas casas, se não estiverem totalmente cobertas. Como eles poderiam deixar as meninas estudarem ou trabalharem? A única área em que as mulheres ainda têm direito ao trabalho é no setor hospitalar e, novamente, é apenas nas maternidades que elas podem exercer sua profissão, ajudar as mulheres no parto. Em outros lugares, é proibido.

RFI: Em imagens que circulam nas redes sociais, vemos mulheres em Cabul protestando contra o Talibã. Você espera que as mulheres também saiam às ruas em outras partes do país?

Sim, houve algumas pequenas reuniões de mulheres defendendo seus direitos. Mas o Talibã não interage com os grupos. O partido por direitos das mulheres que eu lidero sempre tentou conversar com os líderes do Talibã, justamente para discutir os direitos das mulheres em diferentes setores: na economia, na política e até na vida social. Mas eles nunca quiseram se encontrar conosco.

RFI: Você ainda vai continuar lutando pelos direitos das mulheres?

O futuro das mulheres é incerto. Mas se o Talibã exclui as mulheres, isso significa que eles estão ignorando metade do país. Portanto, é nossa responsabilidade e nosso dever defender os direitos das mulheres. Sempre lutamos por nossos direitos e continuaremos nossa luta no futuro. As mulheres mudaram e nos recusamos a viver sob o violento regime talibã. Por enquanto, estamos escondidas, todas as ativistas de diferentes províncias afegãs estão escondidas. Mas estamos esperando a hora certa e contamos com o apoio da comunidade internacional.