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E se a Alemanha virasse à esquerda nas eleições legislativas de 26 de setembro?

17/09/2021 09h16

A vantagem do social-democrata Olaf Scholz nas pesquisas como potencial sucessor da chanceler Angela Merkel, a uma semana das eleições legislativas de 26 de setembro, faz a revista semanal francesa L'Express considerar: "E se a Alemanha desse uma guinada à esquerda?".

A vantagem do social-democrata Olaf Scholz nas pesquisas como potencial sucessor da chanceler Angela Merkel, a uma semana das eleições legislativas de 26 de setembro, faz a revista semanal francesa L'Express considerar: "E se a Alemanha desse uma guinada à esquerda?".

A campanha de Olaf Scholz, atual ministro das Finanças, promove o candidato como o novo Helmut Schmidt, o ex-dirigente do Partido Social-Democrata (SPD) que faleceu em 2015 e entrou para a história como o "Chanceler de Ferro" (1974-1982) por suas reformas sociais e uma política de defesa intransigente com os soviéticos, ancorada no fortalecimento bélico dos europeus dentro da OTAN.

Assim como Helmut Schmidt, Scholz vem de Hamburgo (norte). Como seu mentor, ele não é um idealista, mas um pragmático, escreve a L'Express. O candidato poupa os eleitores de grandes discursos visionários para se concentrar no essencial e instala aquela atmosfera que os alemães adoram: a estabilidade

Segundo analistas locais, Scholz nem é muito forte como candidato à chancelaria, mas é o mais forte entre os concorrentes. Ele aproveitou as desastrosas campanhas de seus dois principais adversários, o conservador Armin Laschet, da União Democrata Cristã (CDU), e a candidata dos Verdes, Annalena Baerbock, que revelou ainda não ter estatura para se tornar chanceler.

O social-democrata propõe um programa conciso e de esquerda, avalia a L'Express: "Salário mínimo de € 12 por hora, superior aos € 10 atuais - medida que beneficiaria 10 milhões de trabalhadores -, pensões de aposentadoria estáveis ??e proteção climática", repete o candidato, sem parar.

Possível aliança com a esquerda radical? 

Essa reviravolta no cenário político abriu caminho para novas alianças. Apontado como tendo apenas 25% das intenções de voto, o SPD não poderá eleger sozinho o chanceler. Mas Scholz já proclamou que não pretende repetir o esquema da "grande coalizão" atual com os conservadores. Ele gostaria de liderar a Alemanha com os ecologistas.

Para obter a maioria na Assembleia Federal (Bundestag), o SPD também poderia apelar aos liberais do FDP. Mas Scholz não esqueceu que em 2017, os liberais abandonaram as negociações com a CDU e os Verdes. Ele também sabe que seus apoiadores não estão nada entusiasmados com a ideia de uma aliança com os liberais, que defendem a disciplina orçamentária e se recusam a taxar os mais ricos.

Scholz não descarta, portanto, outro cenário: aliar-se à esquerda radical, a legenda Die Linke, que perdeu seu caráter de protesto e está disposta a fazer concessões. Em questões sociais e fiscais, os dois partidos de esquerda estão unidos. Ambos defendem um aumento do salário mínimo, uma reintrodução do imposto sobre a riqueza, um aumento das tributações sobre os salários altos e uma regulamentação dos aluguéis.

Para formar essa "frente de esquerda", seria necessário superar um grande obstáculo: a política externa. Die Linke defende a saída da OTAN, o fim das intervenções armadas no exterior, a redução dos gastos com armamentos e, acima de tudo, uma reaproximação com Moscou - posições antiamericanas que criariam problemas à cooperação franco-alemã. 

Essa perspectiva de participação da esquerda radical em um governo Scholz acabou dando novo fôlego à direita alemã na reta final da campanha. O candidato de Merkel, Armin Laschet, acenou com o lenço vermelho acusando o SPD de se preparar nos bastidores para o "retorno do comunismo", como nos dias da Guerra Fria. "Laschet usa seu último cartucho", comentaram ironicamente os liberais. 

Merkel levanta "risco do comunismo"

Merkel, que havia decidido ficar longe da campanha, teve de abandonar sua reserva para salvar seu partido de um desastre eleitoral. Em seu último pronunciamento no Parlamento alemão, ela destacou: "Não dirigimos a Alemanha com qualquer um". 

Segundo a L'Express, Merkel reiterou o recado aos alemães: "Vocês têm de escolher entre Laschet e o comunismo", uma ameaça cujo resultado só se saberá nas urnas em 26 de setembro.