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Prefeito símbolo de integração de refugiados na Itália é condenado a 13 anos de prisão

30/09/2021 14h52

Ao longo de quinze anos, Domenico "Mimo" Lucano foi símbolo por seu modelo de acolhida e integração de refugiados na cidade calabresa de Riace. Prefeito entre 2004 e 2018, Lucano decidiu aproveitar a chegada de imigrantes para repovoar a cidade de menos de 2.000 habitantes, que carecia de jovens. Nesta quinta-feira (30), Lucano foi condenado em primeira instância pela Justiça italiana a 13 anos e dois meses de prisão por "irregularidades" na acolhida dos estrangeiros.

O político é acusado, entre outras coisas, de ter ajudado na realização de falsos casamentos para facilitar a regulamentação de estrangeiros. Ele foi considerado culpado de abuso de poder, mau uso de recursos públicos e cumplicidade com imigrantes ilegais.

O tribunal de Locri, na Calábria, decidiu condená-lo ao dobro da pena que era pedida pelo Ministério Público. Lucano também deverá devolver os 500 mil euros recebidos para a acolhida de refugiados por financiamentos da União Europeia.

A resolução foi recebida com surpresa por Lucano e grupos políticos que defendem regras mais tolerantes com a imigração. "Não tenho palavras. Não esperava", disse o ex-prefeito à imprensa, ainda surpreso. "Isso é muito duro. Acredito que nem os crimes da máfia sejam punidos com penas tão severas", acrescentou, incrédulo.

"Leremos a decisão com muita atenção (...) Nos parece exagerada sob qualquer ponto de vista", lamentaram Nicola Oddati e Marco Furfaro, representantes da direção nacional do Partido Democrata (PD, centro-esquerda).

Manifestações de apoio a Lucano devem ocorrer em diversas cidades italianas nos próximos dias, de acordo com o jornal italiano Corriere della Sera. A decisão, no entanto, deve afetar o resultado das eleições regionais na Calábria que acontecem neste final de semana. Lucano é candidato.

Do céu ao inferno

Premiado em 2010 como o terceiro "melhor prefeito do mundo", Lucano apareceu, em 2016, como uma das 100 pessoas mais influentes do mundo, segundo a revista Fortune. Inspirou um documentário de Wim Wenders e um filme para a televisão.

No entanto, com o exemplo da cidade sendo ostentado nas mídias do mundo inteiro, Lucano passou a ser alvo da extrema direita. Desde a ascensão do partido ultraconservador A Liga, abertamente contrário à imigração, o ex-prefeito viu seu destino mudar.

Nas eleições municipais de 2019, o governo de Riace mudou de mãos e foi conquistado pela extrema direita, sob o slogan "os italianos primeiro" do líder ultranacionalista Matteo Salvini.

O governo decidiu cortar as subvenções que o local recebia, como o fundo europeu e italiano para a proteção dos asilados e refugiados (Sprar). "As pessoas queriam mudança. Depois de 15 anos falando apenas de acolhimento e refugiados, os habitantes estavam cansados", afirmou em 2019 o novo prefeito, Antonio Trifoli, do partido A Liga.

Lucano reconhece ter recorrido a atos de "desobediência civil", mas apenas para, segundo ele, contornar leis que classifica como "desumanas".

Os advogados de defesa de Lucano, Giuliano Pisapia e Andrea Dacqua, anunciaram que vão recorrer desta sentença, que "não leva em conta as provas apresentadas".

(Com informações da AFP)