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Venezuela suspende diálogo com oposição após extradição aos Estados Unidos de empresário ligado a Maduro

Venezuela, presidida por Nicolás Maduro, considerou a extradição de Saab uma agressão e suspendeu a participação de seus delegados na reunião com a oposição - Manaure Quintero/Reuters
Venezuela, presidida por Nicolás Maduro, considerou a extradição de Saab uma agressão e suspendeu a participação de seus delegados na reunião com a oposição Imagem: Manaure Quintero/Reuters

17/10/2021 06h02Atualizada em 17/10/2021 07h56

O governo da Venezuela suspendeu a participação de seus delegados na reunião com a oposição marcada para hoje, no México, após a extradição de um empresário acusado de corrupção e próximo do presidente Nicolás Maduro. O empresário colombiano Alex Saab, considerado testa de ferro do regime, foi extraditado de Cabo Verde para os Estados Unidos ontem.

"Fomos informados de que Alex Saab foi colocado em um avião do Departamento de Justiça dos Estados Unidos e enviado para aquele país", indicou em Cabo Verde Manuel Monteiro, advogado do empresário, afirmando que a extradição é ilegal, porque o processo judicial em Cabo Verde não foi totalmente realizado.

Após a extradição, Caracas denunciou em nota oficial o que chamou de "sequestro do diplomata venezuelano Alex Saab pelo governo dos Estados Unidos em cumplicidade com autoridades cabo-verdianas".

A Venezuela considerou a extradição de Saab "uma agressão" e suspendeu a participação de seus delegados na reunião com a oposição. "Não participaremos da rodada que começaria amanhã, 17 de outubro, na Cidade do México, como expressão profunda do nosso protesto contra a agressão brutal" a Saab, declarou em Caracas o presidente do Parlamento, Jorge Rodríguez, que lidera a delegação do governo de Maduro.

Corrupção e lavagem de dinheiro

Saab e seu sócio comercial Álvaro Pulido são acusados nos Estados Unidos de dirigir uma rede que explorava a ajuda alimentar destinada à Venezuela. Eles são acusados de transferir cerca de US$ 350 milhões, quase R$ 2 bilhões, para contas que controlavam nos Estados Unidos e em outros países, e podem ser condenados a até 20 anos de prisão.

Saab, que também possui nacionalidade venezuelana e passaporte diplomático daquele país, foi acusado em julho de 2019, em Miami, de lavagem de dinheiro, e preso durante uma escala de avião em Cabo Verde, na África, em junho de 2020.

O Departamento de Justiça dos Estados Unidos não respondeu a um pedido da AFP para confirmar a extradição de Saab, mas o presidente colombiano, Iván Duque, publicou no Twitter que a extradição do empresário "é uma vitória na luta contra o narcotráfico, a lavagem de dinheiro e a corrupção que propiciou a ditadura de Nicolás Maduro. A Colômbia apoiou e seguirá apoiando os Estados Unidos na investigação contra a rede criminosa transnacional liderada por Saab."

Cabo Verde concordou no mês passado em extraditar Saab para os Estados Unidos, apesar dos protestos da Venezuela, que descreveu a prisão do empresário como "arbitrária" e afirmou que o mesmo sofria "maus-tratos e tortura" nas mãos das autoridades locais.

Roberto Deniz, jornalista que cobriu a história da Saab para o site de notícias investigativas venezuelano Armando.info, disse no mês passado que o governo de Maduro estava desesperado para que Saab fosse libertado. "É claro que existe muito medo, não só porque ele pode revelar informações sobre subornos, sobre os locais onde o dinheiro foi movimentado e os preços inflados, mas também porque Saab foi a ponte para muitos desses acordos que o regime de Maduro começa a fazer com outros países aliados", avaliou.

A ex-procuradora-geral da Venezuela Luisa Ortega, que rompeu com o chavismo e fugiu do país, declarou que Saab era "a principal testa de ferro do regime", e que ela mesma havia repassado as provas do caso a autoridades.

Prisão de executivos

Momentos após a extradição de Saab, seis ex-diretores da Citgo (subsidiária da estatal Petróleos de Venezuela (PDVSA) nos Estados Unidos) que cumprem pena por corrupção voltaram para a cadeia, segundo advogados e familiares. Eles cumpriam prisão domiciliar desde abril

"Cerca de 1 hora atrás", foram presos José Pereira Ruimwyk, ex-presidente da Citgo, e os ex-diretores Tomeu Vadell, Jorge Toledo, Gustavo Cárdenas, José Luis Zambrano e Alirio Zambrano, disse à AFP Jesús Loreto, advogado de Vadell. Os seis executivos foram condenados a penas de oito a 13 anos por corrupção.

"Pela segunda vez, eles foram levados", declarou Verónica, filha do executivo Tomeu Vadell. "Meu pai só disse à minha mãe: 'Eles vêm nos buscar', mais nada. Não sabemos para onde ele irá. Novamente, é um desaparecimento forçado", protestou.

Os chamados "Citgo Six" foram presos em novembro de 2017 e condenados em 2020, sob protesto do governo americano. Cinco deles possuem nacionalidade americana, além da venezuelana. O outro, José Pereira, tem residência permanente nos Estados Unidos.