Topo

Esse conteúdo é antigo

Temos que proteger as pessoas delas mesmas, diz cientista que defende vacinação obrigatória

23.nov.2021 - Enfermeira prepara dose da vacina da Pfizer contra a covid-19 na França - Eric Gaillard/Reuters
23.nov.2021 - Enfermeira prepara dose da vacina da Pfizer contra a covid-19 na França Imagem: Eric Gaillard/Reuters

Taíssa Stivanin

14/12/2021 11h51Atualizada em 21/12/2021 15h41

Após quase dois anos de crise sanitária, as ondas epidêmicas se sucedem, impulsionadas principalmente pela população adulta não vacinada, que desenvolve casos graves da doença e lota hospitais. Os imunizantes disponíveis limitam as transmissões e contribuem, de maneira eficaz, ao controle da epidemia. Neste contexto, o debate sobre a vacinação obrigatória, descartado no início das campanhas de imunização, ganha força na Europa.

A Áustria determinou em 19 de novembro a obrigatoriedade da vacina contra a covid-19 a partir de fevereiro. O governo decretou o lockdown em 22 de novembro, para controlar a alta repentina de casos atribuída à baixa taxa de vacinação da população.

Na Alemanha, uma situação similar mergulha o país há semanas na pior onda de contaminações desde o início da epidemia. O novo governo de Olaf Scholz deve aprovar a vacinação obrigatória, também a partir de meados de fevereiro, como a Áustria.

Com a terceira dose e a vacinação das crianças, a possibilidade de desacelerar a transmissão do coronavírus é real, mas a resistência que ainda existe contra os imunizantes pode ser uma aliada do vírus. Esta é a opinião do epidemiologista Julien Riou, da Universidade de Berna, na Suíça.

"Há muitas pessoas que recusam a vacinação com obstinação. É preciso vacinar as crianças. As contraindicações à vacinação são praticamente inexistentes e todo mundo deve aceitá-la", afirma.

A vacinação obrigatória, acredita, seria uma solução para evitar que tenhamos mais anos de ondas epidêmicas de intensidade variável e terreno propício para o aparecimento de novas variáveis, como é o caso da ômicron.

"Como a vacina não é eficaz a 100%, há uma pequena parte dos vacinados que também corre risco por conta do comportamento alheio. Este é o limite da nossa liberdade: quando ela começa a colocar os outros em risco. Essa talvez seja uma das razões a favor da obrigatoriedade da vacina. Temos uma solução, e as pessoas a recusam."

Sem vacina, jovens também se expõem

Ele lembra que hoje, as vítimas fatais da covid-19 são pessoas que recusaram a vacinação. Há também o mito, explica, de que apenas pessoas idosas ou com patologias graves correm mais risco. Hoje já se sabe que, a partir de 30 anos, há poucas garantias sobre como um paciente vai reagir à infecção.

"É preciso proteger as pessoas delas mesmas. Elas colocam sua saúde e a dos outros em perigo", defende o suíço.

Atualmente, a vacinação, eficaz contra a variante delta, previne mortes e saturação nos hospitais. E em relação à ômicron, na pior das hipóteses um imunizante atualizado combaterá com efetividade a variante.

O epidemiologista ressalta que, nos países onde a taxa de imunização é alta, como a Espanha e a França, há bem menos mortos do que nas ondas epidêmicas anteriores. A taxa de vacinação é suficientemente alta, diz para proteger os vulneráveis e os casos fatais, mas é insuficiente para impedir a circulação.

"Isso significa que o covid pode circular, mas se não há mais mortes ou hospitalizações, ou há muito menos, é menos grave. Se vacinamos um número suficiente de pessoas, podemos obter esse resultado, mas controlar a transmissão será mais difícil. Se a transmissão e as ondas epidêmicas vão continuar, mas continuamos a proteger as pessoas menos vulneráveis, é menos grave. Essa é a ideia."