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Covid-19: França registra recordes de casos e governo teme 'desorganização social'

4.mai.2020 - Estátuas usam máscara para se "proteger" do novo coronavírus; ao fundo, a Torre Eiffel, em Paris, na França - Mehdi Taamallah/NurPhoto via Getty Images
4.mai.2020 - Estátuas usam máscara para se 'proteger' do novo coronavírus; ao fundo, a Torre Eiffel, em Paris, na França Imagem: Mehdi Taamallah/NurPhoto via Getty Images

Taíssa Stivanin

Da RFI

24/12/2021 08h03Atualizada em 24/12/2021 08h58

De acordo com Santé publique France, a agência francesa de saúde, o país bateu um recorde de casos nas últimas 24 horas, com 91.608 contágios. Em Paris, a variante ômicron já seria responsável por quase metade das infecções, mas esse número é provavelmente bem maior. A estimativa é que, de cada 100 parisienses, pelo menos um já tenha sido contaminado pela nova cepa, sem contar os habitantes que não foram testados.

Com a propagação da ômicron, bem mais contagiosa, a França superou nesta quinta-feira (23) o recorde de novembro de 2020 — na época, o país registrou 86.852 infecções provocadas pela alpha, que era a cepa dominante. A circulação viral ganhará ainda mais força com as festas de fim de ano e as reuniões familiares. Após dois anos de epidemia, muitos franceses não estão dispostos a mudar seus planos e o governo francês, até agora, adotou poucas medidas de imnpacto para conter a circulação viral.

O Executivo aposta na terceira dose da vacina contra a Covid-19 e no reforço do passaporte sanitário para evitar o risco de saturação no sistema hospitalar — o controle de casos parece já ter se tornado um sonho distante. Mas o potencial de transmissão da ômicron pode obrigar a França a tomar medidas mais severas na próxima semana. Estudos relatam que um doente pode passar o vírus para cerca de dez pessoas.

A equação é simples: estudos recentes, no Reino Unido, apontam que a nova cepa provoca formas menos graves e gera um risco menor de hospitalização. A Agência de Segurança de Saúde britânica também divulgou uma pesquisa nesta quinta-feira reforçando essa tese: o risco seria entre 50% a 70% mais baixo. O problema é que ômicron infecta tantas pessoas que acaba compensando essa suposta vantagem. O número de doentes, proporcionalmente, desencade muitas formas graves e lota os estabelecimentos.

Jean-François Delfraissy, presidente do Conselho Científico francês, órgão que orienta as decisões do governo sobre a epidemia, alertou para o risco de "desorganização social" dos serviços essenciais a partir de janeiro. Ela poderia ser provocada pela ausência de muitos funcionários contaminados nos setores da educação, transporte, segurança e saúde.

Se os estudos confirmarem que a ômicron gera de fato menos casos graves, as regras de isolamento para conter a propagação do vírus poderiam, desta forma, ser reavaliadas, disse o ministro da Saúde, Olivier Véran, nesta quinta-feira (23). Segundo ele, novas decisões poderão ser tomadas neste sentido a partir da próxima semana. Ele ressaltou que o governo fará o possível para evitar "qualquer fenômeno de paralisia no país."

A SNCF, a companhia metropolitana de trens francesa, já previu o cancelamento de trens regionais para aliviar os efeitos da quinta onda epidêmica, provocada pela variante delta e a chegada da ômicron. A prefeitura de Paris também cancelou o tradicional show de Ano Novo com queima de fogos de artifício na avenida Champs-Elysées.

Prazo do reforço é reduzido para três meses

Contra o avanço da ômicron, o governo francês também aposta na terceira dose da vacina. Os primeiros estudos mostram que a uma terceira dose dos imunizantes a base de RNA mensageiro neutralizam a variante e protegem contra infecções sintomáticas, mesmo leves. O problema é que, por enquanto, ninguém sabe dizer por quanto tempo. Além disso, a contaminação pelas variantes delta e alpha não protegem de uma nova infecção pela ômicron. Apostar na imunidade natural seria um erro grave.

Para evitar um novo lockdown, o Executivo espera que o reforço seja eficaz por, pelo menos, alguns meses. Nesta sexta-feira (24), a HAS (Alta Autoridade de Saúde francesa) anunciou que a terceira dose poderia ser administrada três meses após a segunda nos maiores de 18 anos e autorizou o reforço para adolescentes de 12 a 17 anos com patologias que predispõem a formas graves. Desde o dia 22 de dezembro, as crianças entre 5 e 11 anos também podem ser vacinadas.

Para completar as medidas, o passaporte sanitário deverá se transformar em passaporte vacinal a partir do dia 15 de janeiro no país. Um teste negativo não será mais suficiente para entrar em restaurantes, centros comerciais, museus e cinemas, por exemplo. Na França, cerca de 90% da população maior de 12 anos está vacinada — uma das taxas mais altas da União Europeia.

Países europeus adotam medidas

O diretor da Organização Mundial da Saúde (OMS) para a Europa, Hans Kluge, disse nesta quinta-feira (23) que "a ômicron tornou-se dominante em países como Dinamarca, Portugal e Reino Unido, onde os números dobram entre cada dia e meio ou três dias".

Vários países reforçaram suas medidas: Itália, Espanha e Grécia decretaram o restabelecimento do uso obrigatório da máscara ao ar livre em cinemas, teatros, eventos esportivos e no transporte público da Itália, será exigido o modelo FFP2.

A região espanhola da Catalunha decretou toque de recolher noturno para grande parte de sua população, após receber autorização judicial nesta quinta-feira. Na Grécia, além do uso obrigatório da máscara, as festas públicas de fim de ano foram canceladas.

*Com informações da RFI e AFP