EUA rejeitam exigências da Rússia, mas esperam evitar conflito com a Ucrânia
O governo ucraniano anunciou, nesta quarta-feira (26), que disponibilizaria armas para 130 mil soldados de milícias para lutar contra uma eventual invasão da Rússia, que já tem mais de 100 mil soldados posicionados na fronteira. Os EUA também entregaram uma resposta por escrito às exigências do governo russo para colocar um fim à atual crise.
O Pentágono diz que, até agora, não tem indicações concretas de que a Rússia recuará suas tropas da fronteira com a Ucrânia. O Departamento de Estado americano diz que as exigências russas são "inaceitáveis", principalmente a garantia de que a Ucrânia nunca se tornará membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).
Alguns analistas militares acreditam que, a menos que algo significativo aconteça, a Rússia irá invadir a Ucrânia nas próximas semanas e o conflito não poderá ser resolvido apenas com diplomacia. Mas é possível que os recentes diálogos entre Moscou e Washington possam se revelar mais positivos do que parecem.
O principal motivo de tensão é que a OTAN sinaliza há anos que a Ucrânia pode vir a ser membro da organização. Isso garante que a organização defenderá o país em caso de agressão de Moscou. A questão, entretanto, é mais complexa: a população de uma grande parte da Ucrânia fala russo e muitos inclusive se consideram russos, transformando o conflito em uma questão mais complexa do que parece.
Já nos círculos políticos de Washington a preferência parece mesmo ser por um conflito armado com a Rússia. Quando o assunto é guerra, o partidarismo é posto de lado e há quase um consenso em Washington: o complexo industrial-militar tem enorme influência na capital americana, mas isso não reflete a opinião da população americana, que prefere não se envolver em guerras e quer apenas resolver os problemas domésticos.
Na semana passada, Joe Biden chegou a dizer que uma "pequena incursão" russa na Ucrânia provavelmente não resultaria necessariamente em uma forte reação por parte dos EUA e dos membros da OTAN. Desde então, a situação ficou mais complicada. Biden provavelmente estava sendo honesto: nenhum aliado parece realmente ter interesse em entrar em um conflito armado com a Rússia por causa da Ucrânia.
Mesmo assim, o comentário do presidente não foi bem recebido em Washington, e muito menos em Kiev, e foi visto como praticamente um convite para Vladimir Putin invadir a Ucrânia.
Logo depois, a Casa Branca já estava tentando controlar o dano causado pelo presidente e enviava mensagens duras a Moscou. Putin já invadiu a Ucrânia, além de ter anexado a Crimeia enquanto Biden era vice de Barack Obama, em 2014.
Na época, segundo a imprensa americana, o próprio Obama chegou a dizer a um colega democrata, ao discutir a candidatura de Biden nas eleições presidenciais de 2020, que não dava para "subestimar a capacidade de Biden de estragar tudo".
Apoio incondicional?
A Turquia, que conta com a segunda maior força militar entre os membros da organização, já indicou que não está disposta a comprar essa briga com a Rússia. A Alemanha deixou claro que não está interessada em dar apoio incondicional à Ucrânia em um confronto com o Kremlin, especialmente porque cerca de 50% do seu gás natural agora vem da Rússia.
A França também se sentiu traída com a negociação dos EUA com a Austrália para a compra de submarinos. A imagem dos EUA perante os aliados tem sofrido nos últimos anos, e mais ainda depois da retirada conturbada do Afeganistão.
Putin pode aproveitar a divisão entre os membros da OTAN para avançar suas ambições de expansionismo ou pelo menos conter os avanços dos países ocidentais. Essa disputa entre Washington e Moscou pode servir como um teste da solidez dos velhos aliados ocidentais - ou mesmo definir o novo cenário geopolítico global, com novas alianças sendo formadas, resultando, inclusive, em uma China mais dominadora.
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