Ucranianos chegam ao México para cruzar fronteira com os Estados Unidos em busca de asilo
Dois milhões e meio de pessoas deixaram a Ucrânia desde o início do conflito com a Rússia, no dia 24 de fevereiro, segundo informações da Organização das Nações Unidas. Entre os principais destinos estão a Polônia, a Romênia e a Alemanha. No entanto, países fora do continente europeu, como o México, se tornam uma esperança no caminho de quem foge da guerra.
Mais de dez mil quilômetros dividem México e Ucrânia. No entanto, a distância entre os dois países não parece ser uma barreira para os ucranianos que saem do seu país em busca de um futuro de paz. O México não é, ainda, o destino final escolhido pelas famílias ucranianas que estão chegando ao país, mas uma porta de entrada para quem espera conseguir asilo humanitário nos Estados Unidos.
De acordo com dados da CBP - o serviço de proteção das alfândegas e fronteiras dos Estados Unidos - entre outubro de 2021 e janeiro deste ano, 1.233 ucranianos tentaram cruzar a fronteira entre os dois países por Tijuana, cidade mexicana que faz fronteira com San Diego, na Califórnia. Os números de fevereiro e março ainda não estão disponíveis no site da organização, mas, nas últimas três semanas, autoridades migratórias locais estão reportando a chegada de famílias ucranianas à fronteira que esperam atravessá-la para o país vizinho, em busca de asilo humanitário.
Segundo Giovanni Lepri, representante no México da Acnur, a Agência da ONU para Refugiados, a chegada de imigrantes ucranianos à fronteira norte do México não é um fenômeno recente. "Estamos acompanhando a situação dos ucranianos e de pessoas de outras nacionalidades na fronteira norte, principalmente, por causa do título 42, que é a emergência sanitária imposta nas fronteiras terrestres dos Estados Unidos por causa da pandemia que impede a entrada de imigrantes ao país para pedir asilo. Além disso, em 2021, vimos um grande aumento de imigrantes ucranianos e russos também. E nós estamos atendendo a essas pessoas, oferecendo informações sobre pedidos de asilo e proteção, não apenas nos Estados Unidos, mas também no México".
"Porta abertas" para refugiados
Para entrar no México, cidadãos ucranianos precisam de uma autorização eletrônica, emitida pelo site do Instituto Nacional de Migração (INM). O documento tem vigência de 180 dias e não permite a realização de atividades remuneradas. De acordo com dados do INM, somente em janeiro deste ano, cerca de 10 mil ucranianos entraram no país com a autorização eletrônica. Em fevereiro, foram quase 4 mil.
Quatro dias após o início da guerra entre Rússia e Ucrânia, o presidente Andrés Manuel López Obrador afirmou durante uma coletiva de imprensa que o "México é um país que protege" e que está de portas abertas para receber refugiados de diferentes nacionalidades. Além disso, no último dia 2 de março, o presidente mexicano disse que todas as pessoas que pedirem refúgio no México serão protegidas.Na mesma semana, Francisco Garduño Yáñez, do Instituto Nacional de Migração, anunciou que o México vai oferecer refúgio a todas as pessoas que chegarem ao país fugindo do conflito com a Rússia.
A posição do governo mexicano foi elogiada pelo representante da Acnur no país. "A posição do governo mexicano é muito importante, deveria ser a posição de todos os governos, de aceitar e considerar as pessoas ucranianas como pessoas refugiadas que precisam de asilo e proteção. Nos países da União Europeia, estão oferecendo vistos temporários de até 180 dias. O mesmo ocorre nos Estados Unidos para ucranianos que já estavam no país antes do dia primeiro de março", observa Giovanni Lepri.
"Mas, claramente, o México é muito longe da Ucrânia e muito provavelmente o objetivo dos ucranianos que chegam ao México é ir para os Estados Unidos, encontrar familiares que já vivem por lá. Além disso, tem a questão do idioma. Mas, mesmo sendo difícil, acredito que, sim, vamos receber famílias ucranianas buscando asilo no México, podem não ser números altos, mas não duvido que teremos, e nós faremos o possível para ajudar a essas pessoas nos seus processos de se estabelecerem no país", acrescentou.
Tijuana: fronteira e violência
A fronteira entre México e Estados unidos tem 3.142 quilômetros. Um dos principais trechos fica na região de Tijuana, no estado de Baja Califórnia. É lá que está localizada a guarita de San Isidro, a fronteira terrestre mais utilizada no mundo. Todos os anos, milhões de mexicanos e estadunidenses atravessam de Tijuana para San Diego,ou vice-versa, de carro ou a pé, para trabalhar, estudar, fazer compras, ou, simplesmente, visitar a família.
Além disso, a cidade é uma das rotas mais utilizada por imigrantes indocumentados, na maioria centro-americanos, que enfrentam perigos como as mudanças bruscas de temperatura, a fome e a violência de grupos de narcotraficantes, para alcançar o sonho americano.
No entanto, além da questão migratória, Tijuana é marcada também pela violência. Segundo dados do Inegi, o Instituto Nacional de Estatística e Geografia do México, em 2021, foram registrados 2.368 assassinatos em Baja Califórnia, um dos estados mais violentos do país. Já entre janeiro e março deste ano, 300 pessoas foram assassinadas na cidade de Tijuana. Sete delas entre os dias 11 e 12 de março.
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