Por que a Moldávia tem medo de ser o próximo alvo de Putin?
Situada às portas da Ucrânia, a Moldávia, como outros países vizinhos, recebe os ucranianos que fogem dos bombardeios russos. Mas esta antiga república do período soviético - e o país mais pobre da Europa - também vive com medo de ser o próximo a ser invadido na lista de Vladimir Putin.
"Se desaparecermos, a Letônia, a Lituânia e a Estônia serão as próximas. Em seguida, Moldávia, Geórgia e Polônia. E eles [os russos] chegarão ao Muro de Berlim", advertiu o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, há alguns dias.
O medo do avanço da Rússia está crescendo, especialmente na Moldávia. Neste pequeno país de 2,8 milhões de habitantes, localizado entre a Romênia e a Ucrânia, o exército russo está presente há 30 anos.
Medo da guerra
Desde o início da guerra na Ucrânia, mais de 300 mil ucranianos encontraram refúgio na Moldávia. Alguns estão apenas de passagem, outros ficam. Como explica o enviado especial da RFI, Oriane Verdier, há muita ajuda mútua entre moldavos e ucranianos, "como um calor de solidariedade".
Enquanto o país acolhe refugiados, muitos residentes estão se preparando para partir. Com a ofensiva russa na Ucrânia, o medo cresceu, e alguns dizem já ter feito as malas.
Os moldavos com mais de 30 anos já passaram pela guerra, com o conflito de 1992 entre a região separatista pró-russa da Transnístria, no leste do país, e o resto da Moldávia. Muitos têm lembranças de amigos que morreram, e o medo da guerra ainda está muito presente em suas mentes.
Às portas da Transnístria, a atmosfera é estranha, diz Oriane Verdier.
"Fiquei em um vilarejo que está em um posto fronteiriço das forças russas. Os habitantes desta aldeia só têm acesso à mídia russa e quando você fala com eles sobre a guerra na Ucrânia, eles falam de uma guerra civil liderada por nacionalistas nazistas ucranianos que atacam sua própria população", relatou o correspondente.
Uma posição delicada
Se desde o início da guerra os ucranianos mostraram sua unidade e resistiram às forças russas, os moldavos provavelmente não farão o mesmo no caso de um ataque.
Há 1.500 soldados russos na Transnístria e 10 mil paramilitares pró-russos, e no lado moldavo, apenas 6 mil soldados. No entanto, algumas pessoas dizem com lágrimas.
"Vou pegar em armas novamente porque lutei em 1992". Quanto a saber se a Transnístria é usada como base para as forças armadas russas, é muito difícil ter certeza.
Algumas fontes afirmam que, na época do início da guerra na Ucrânia, foram disparados tiros a partir da Transnístria, mas o território é muito fechado, por isso é difícil saber se isso é verdade. A região é sem saída para o mar e tem dificuldade para conseguir receber suprimentos. Porém, ainda há 22 mil toneladas de munição que foram estocadas desde 1992, embora não esteja claro em que condições elas se encontram.
Um Estado neutro
Segundo Florent Parmentier, professor do centro de pesquisa política da Sciences Po (Cevipof), não há necessidade de temer uma invasão russa agora.
"A Moldávia é um estado neutro de acordo com o artigo 11 de sua Constituição. Não parece muito, mas a Rússia reivindicou a neutralidade para a Ucrânia e, portanto, vir a atacar o único Estado que escolheu a neutralidade arruinaria um pouco mais os argumentos da Rússia", disse o pesquisador ao jornal Le Progrès.
Philippe Migault do Centro Europeu de Análise Estratégica também considera altamente improvável uma invasão da Moldávia.
"A Moldávia tem o tamanho da Bélgica e é o país mais pobre da Europa. De que adianta ir mais longe nessa guerra e invadir a Moldávia? Não teria nenhum interesse estratégico ou econômico", argumenta ele.
Contudo, Parmentier observa que "isso não significa que a Moldávia esteja protegida porque tudo depende de outro fator: o destino de Odessa", uma importante cidade portuária ucraniana, no Mar Negro, que fica perto da fronteira moldava.
"Se Odessa cair, a Rússia pode se perguntar o que acontecerá com a Transnístria e querer levá-la de volta para o campo russo, numa tentativa de ligar este território ao Mar Negro", explicou.
Assim como a Ucrânia e a Geórgia, a Moldávia solicitou a adesão à União Europeia. A Transnístria, no entanto, mais uma vez exigiu o reconhecimento de sua independência.
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