Sob ameaça de repetição de bombardeio a Kramatorsk, civis se apressam para deixar leste da Ucrânia
Um dia depois de uma estação de trem lotada de civis ter sido bombardeada em Kramatorsk, no leste da Ucrânia, causando a morte de pelo menos 52 pessoas, a retirada das famílias continua neste sábado (9). Em toda a região, ucranianos se apressam para encontrar um refúgio mais a oeste, apesar dos riscos da viagem.
O temor é que se repita o mesmo que ocorreu em Kramatorsk - um ataque a qualquer momento, em qualquer lugar do leste do país, onde a Rússia concentra suas operações militares. "Muita gente ainda não deixou os seus vilarejos porque dá muito medo agora. Nós estávamos bem perto de Izium, ocupada pelas forças russas. Ouvimos explosões todos os dias, há mais de um mês", conta Olga à reportagem da RFI, logo depois de finalmente conseguir uma vaga em um carro rumo ao oeste. "Nesta manhã mesmo, ouvimos bombardeios em Kramatorsk. É aterrorizador. Não tenho nem palavras para descrever o que sinto depois do que aconteceu lá", disse a mulher aos enviados especiais Marie Normand e Julien Boileau.
Nas estradas engarrafadas, falta combustível para seguir em frente - refinarias de petróleo também estão entre os alvos russos. Em um posto perto de Pokrovsk, Serguei fica aliviado por finalmente encontrar gasolina para o seu veículo, em que viaja com a mãe "há muitas horas", relata. Mas, para abastecer, era preciso esperar pelo menos uma hora na fila.
"Estou a levando para algum lugar seguro. Ela não queria partir", afirma o homem, enquanto a idosa confirma com um sinal com a cabeça. "Estávamos a 20 quilômetros do front e os mísseis passavam o tempo inteiro sobre as nossas cabeças - tão perto que podíamos ler o que estava escrito neles", comenta.
Saída de Kramatorsk
Em Kramatorsk, ônibus e vans buscam dezenas de sobreviventes do bombardeio à estação. Cerca de 80 pessoas passaram a noite em uma igreja no centro da cidade, dormindo em colchões improvisados no chão.
"Ontem, entre 300 e 400 pessoas correram para cá logo depois do disparo, para se abrigar", conta Yevguen, membro da igreja protestante, à AFP. "Eles estavam traumatizados. Alguns correram para o subsolo, outros queriam ir embora o mais rápido possível. Levei sete para a minha casa", explica o voluntário.
Neste sábado, voluntários preparam refeições para os refugiados que continuam à espera de um transporte. A estação de trem permanece fechada, interditada pela polícia, mas trens podem partir da vizinha Sloviansk.
Não foram ouvidas novas explosões, porém trocas de tiros de artilharia pesada soavam na direção das linhas do front ao norte e noroeste da cidade, a cerca de 20 quilômetros de Kramatorsk. A suspeita é que, a exemplo do que ocorreu em Mariupol, porto estratégico do sudoeste, os russos planejem uma operação de envergadura a qualquer momento para tomar o controle de toda a região, majoritariamente russófona.
População russófona
Discretamente, a movimentação também acontece no sentido inverso, de pessoas se dirigindo de carro para territórios pró-russos. Os veículos avançam todos os dias para o norte, sob o controle do exército russo e com o acordo tácito dos soldados ucranianos nos últimos postos de controle, observou um jornalista da AFP.
"Vamos porque temos família lá, temos comida. É tranquilo, não há problema", disse um homem de 30 anos à AFP, preparando-se para a viagem com sua esposa. "Existem mocinhos e bandidos por todos os lados", acrescentou ele, trocando a moeda ucraniana por rublos russos na beira da estrada.
A bacia de mineração de Donbass, agora arruinada e dividida pela guerra desde 2014, é historicamente voltada para a Rússia. Muitos moradores não têm intenção de fugir das tropas russas, incluindo mulheres e crianças.
(Com informações da AFP)
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