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Partygate: premiê britânico diz que durante lockdown era difícil "definir a fronteira entre trabalhar e socializar"

Boris Johnson não conseguiu convencer a Arábia Saudita e outros países a aumentar sua produção de petróleo - Getty Images
Boris Johnson não conseguiu convencer a Arábia Saudita e outros países a aumentar sua produção de petróleo Imagem: Getty Images

25/05/2022 12h29

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, assumiu nesta quarta-feira (24) "total responsabilidade" pelas festas realizadas em Downing Street durante os lockdowns decretados para conter a Covid-19 no Reino Unido, em 2020 e 2021. Ele insistiu que sua participação nos eventos "infringiu as regras".

"Assumo total responsabilidade de tudo que aconteceu na minha presença", afirmou Boris Johnson diante do Parlamento britânico. A declaração foi feita após a publicação de um relatório interno, de acordo com o qual líderes políticos e altos funcionários britânicos envolvidos no escândalo, conhecido como "partygate", devem "assumir a responsabilidade".

As declarações acontecem depois que fotos de Johnson em festas realizadas em sua residência oficial, bebendo com colaboradores, durante o lockdown, foram divulgadas por um canal de tevê britânico, na segunda-feira (23).

"Não deveria ter sido permitido que estes eventos acontecessem", conclui o informe da alta funcionária Sue Gray, sem citar diretamente o primeiro-ministro britânico.

Johnson se justificou dizendo que, em plena pandemia, seus colaboradores trabalharam muitas horas e era difícil "definir a fronteira entre trabalhar e socializar". Mas reconheceu que "muitas destas reuniões se prolongaram mais do que o necessário, infringindo as normas". Ele também se declarou "surpreso" pelas revelações de Gray sobre eventos nos quais ele afirma que "simplesmente não estava presente".

"Não foi determinado que minha presença infrigiu regras", sublinhou, insistindo que, quando garantiu, há alguns meses, que as normas tinham sido respeitadas, era "o que achava ser verdade". Segundo ele, desde então, foram realizadas importantes mudanças na gestão de seu gabinete.

Mas os argumentos do premiê não convenceram a oposição. O nacionalista escocês Ian Blackford acusou Johnson de ter "perdido a pouca autoridade moral que tinha". Ele voltou a pedir sua demissão, seguido pelo Partido Trabalhista.

Presença de altos cargos

Considerada rigorosa e implacável, Gray começou a investigar há meses várias festas celebradas em Dowing Street quando as regras contra a Covid-19 impediam os britânicos de se reunir, inclusive em funerais. A pandemia causou 178.000 mortes no Reino Unido.

Gray terminou seu relatório em janeiro, mas a polícia decidiu abrir sua própria investigação e foi obrigada a publicar uma versão editada das conclusões, omitindo detalhes, para não não interferir nas investigações.

A Scotland Yard encerrou a investigação na semana passada, com 126 multas a 83 pessoas por oito festas. Pouco depois, Gray publicou suas conclusões completas.

"Alguns colaboradores menos experientes acreditavam que a participação do premiê nos eventos era permitida, já que altos cargos também estavam presentes", destacou. Johnson, sua esposa Carrie e o ministro de Finanças Rishi Sunak receberam uma única sanção da polícia pelo o menos importante dos encontros: a festa de 56 anos do premiê, celebrada em 19 de junho de 2020, na sala de conselho de ministros.

O líder conservador descartou, na época da denúncia, pedir demissão, garantindo que não tinha "pensado no momento, nem depois" que sua participação na festa "poderia constituir "uma infração das normas". Ele reiterou suas desculpas, nesta quarta-feira, por ter participado deste "breve evento".

Enfrentando no começo do ano uma rebelião interna em seu partido conservador, que buscava destituí-lo devido ao escândalo, Johnson conseguiu mudar o foco da atenção com o começo da guerra na Ucrânia, reduzindo a ameaça que pesava sobre ele.

Em um contexto de crise e dado o importante papel do britânico na resposta internacional à invasão russa, muitos membros de sua maioria decidiram esperar o resultado das investigações antes de voltar a contemplar um eventual voto de censura, que deve ser solicitado por ao menos 15% dos 359 deputados do Partido Conservador.

(Com informações da AFP)