'Nasci aqui e vou morrer aqui': moradores do Donbass se recusam a deixar a região, apesar da guerra
A ofensiva russa é cada vez mais intensa no leste da Ucrânia. As autoridades de Kiev denunciaram nesta terça-feira (21) uma "destruição catastrófica" em Lysychansk, localidade vizinha de Severodonetsk, onde quase 570 pessoas estão refugiadas na fábrica de produtos químicos Azot. Mesmo assim, muitos moradores do Donbass resistem e, quando podem, se recusam a deixar essa região estratégica na ofensiva de Moscou.
Após quase quatro meses de guerra, o dia a dia dos moradores do Donbass é extremamente difícil. Além dos tiros russos cada vez mais próximos, falta tudo na região. No vilarejo de Starodubivka, a apenas algumas centenas de metros da frente de batalha, a população não tem mais água. "Temos apenas um poço para todo o vilarejo", conta Kateryna, uma moradora de cerca de 60 anos que fazia compras em uma mercearia às escuras.
"Também não temos eletricidade. Então, para conservar a comida, guardamos tudo no porão, onde é mais fresco. Vivemos sem energia elétrica", repete. "Mas não podemos fazer nada. O que eu mais temo é a chegada do inverno. Mas eu nasci aqui e vou morrer aqui", insiste.
O testemunho de Kateryna é frequente em várias cidades do Donbass, onde apesar dos combates cada vez mais próximas das residências, uma parte da população prefere permanecer em suas casas. "Nós trabalhamos com ajuda humanitária a sabemos que é perigoso, pois somos os alvos das forças russas. Mas [como nós], muita gente ficou em Kramatorsk", explica Aleksander Ivanov, um voluntário que atua na região.
"Quando começamos, distribuíamos ajuda para cerca de 100 pessoas por dia", relata diante de sua caminhonete cheia de pacotes para serem entregues. "Atualmente, distribuímos sacos de comida para 500 pessoas, diariamente. Muita gente até tentou ir embora, mas voltou, pois não tinha mais dinheiro e não tinha onde dormir. Então retornaram para suas casas", conta.
Os moradores se reúnem diante do centro de ajuda humanitária logo pela manhã. Para muitos, esse é o único meio de obter alimentos e outros produtos essenciais.
"Vocês viram os preços nos mercadinhos ou na feira?", lança Zoya, que espera na fila com algumas amigas. "E não podemos nem plantar algo nos nossos jardins, pois não temos água", conta. "Como sobreviver nessas condições? Passamos nossa vida nessas filas de ajuda. Todos estão nervosos, alguns estão doentes e não têm acesso a remédios. Até nossas aposentadorias deixaram de ser mais pagas", desabafa.
"Era bala para todos os lados"
Muitos dos moradores só fogem quando não mais têm mais escolha e que os bombardeiros estão muito próximos. "Casas foram incendiadas e pessoas morreram. Por isso nós fomos embora", relata Valentina, uma idosa que abandonou Avdiivka, no sul do Donbass. "Não era mais possível ficar lá. Não tinha mais água, não tinha mais eletricidade, não tinha mais nada", relata, aos prantos, ao desembarcar do trem.
"Não havia mais ninguém nas ruas. Era bala para todos os lados. Horrível... Não desejo isso para ninguém", diz, antes de se recompor: "Mas esperamos poder voltar um dia, pois deixamos tudo para trás".
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