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Rússia culpa Ucrânia por morte de filha de ideólogo russo próximo de Putin; Kiev teme represálias

22/08/2022 09h28

A Rússia acusou a Ucrânia nesta segunda-feira (22) de ser responsável pela morte da jornalista e cientista política russa Daria Dugina. No fim de semana, Kiev já alertava para o risco de represálias após o assassinato da jovem de 29 anos, que é filha de um influente ideólogo ultranacionalista russo, próximo de Vladimir Putin.

Segundo Moscou, o assassinato de Daria Dugina, no sábado (20), foi preparado e executado pelos serviços secretos ucranianos. Em comunicado, o FSB (serviço de inteligência da Rússia) afirma que o responsável pela explosão do carro em que estava a jornalista fugiu para a Estônia após o ataque. 

Apesar de ter negado qualquer envolvimento no suposto atentado, Kiev teme que a Rússia utilize a morte da jovem como pretexto para retaliações. A Ucrânia celebra o 29° nono aniversário de sua independência da extinta União Soviética na quarta-feira (24). A data vai coincidir com os seis meses da invasão russa, que causou dezenas de milhares de mortes e destruição em massa no país. 

No sábado (20), o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, alertou que Moscou pode estar preparando algo "cruel" contra a Ucrânia nesta semana. Segundo o líder, um dos "objetivos-chave do inimigo" é humilhá-los e "gerar depressão, medo e conflito". "Devemos ser fortes o suficiente para resistir a qualquer provocação" e "fazer os ocupantes pagarem por seu terror", acrescentou.

Um assessor da presidência ucraniana, Mikhaílo Podoliak, também alertou que a Rússia pode intensificar seus bombardeios nos dias 23 e 24 de agosto. "A Rússia é um Estado arcaico que vincula suas ações a certas datas, é uma espécie de obsessão. Eles nos odeiam e vão tentar aumentar o número de bombardeios de nossas cidades, incluindo Kiev, com mísseis de cruzeiro", disse ele, citado pela agência Interfax.

Vingança da morte de Daria Dugina 

Entre os nacionalistas russos, crescem os apelos à vingança pela morte de Daria Dugina. A jornalista de 29 anos era filha do filósofo ultranacionalista Alexander Dugin, que provavelmente era o alvo do ataque. O ideólogo radical era próximo do presidente russo, Vladimir Putin, e um grande defensor da ruptura da Rússia com o mundo ocidental. 

Segundo o cientista político Cyril Bret, especialista em Rússia no Instituto Jacques Delors, Dugin é defensor de teses raciais e culturais utilizadas por defensores do nazismo. Sua forte popularidade junto aos militantes da dominação de Moscou do espaço euroasiático pode resultar em consequências graves, como a demanda de retaliação pela morte da jornalista. 

"Desde o início da invasão, ele fez apelos pela anexação da totalidade do território e do povo ucraniano. É uma linha muito radical segundo a qual não existe civilização ou povo ucranianos, língua ou cultura ucranianas separadas da Rússia. É uma tese negacionista", afirma Bret, em entrevista à RFI

O especialista destaca que, no início dos anos 2010, Dugin era próximo do Partido Comunista russo e influenciava o discurso da legenda. Também é admirado pelos separatistas ucranianos das repúblicas autoproclamadas de Lugansk e Donetsk. Além disso, tem ligação com o partido de Putin, Rússia Unida.

No entanto, Bret destaca que o filósofo negacionista é uma figura sem partido. "Dugin não é o conselheiro em política estrangeira de Putin. Ele não tem nenhum cargo oficial, seja nos ministérios das Relações Exteriores, Defesa ou qualquer parte do governo. Ele não é uma figura política, mas uma personalidade midiática e intelectual que tem uma forte influência sobre os elementos de linguagem e a maneira como o debate público se articula na Rússia", destaca. 

(Com informações da RFI e da AFP)