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Expectativa mundial com governo Lula não se restringe à pauta ambiental

09.nov.22 - O presidente eleito Lula durante entrevista concedida sobre transição de governo, realizada na cidade de Brasília, DF - FÁTIMA MEIRA/ESTADÃO CONTEÚDO
09.nov.22 - O presidente eleito Lula durante entrevista concedida sobre transição de governo, realizada na cidade de Brasília, DF Imagem: FÁTIMA MEIRA/ESTADÃO CONTEÚDO

Flávio Aguiar, analista político

14/11/2022 08h18Atualizada em 14/11/2022 10h12

Alívio: esta é a palavra que melhor descreve a sensação amplamente majoritária entre governantes, políticos e também na mídia europeia e de outras partes do mundo diante do resultado da eleição presidencial brasileira, com a vitória de Luís Inácio Lula da Silva e a derrota de Jair Messias Bolsonaro.

A vitória foi apertada, mas o alívio foi imenso. Ele se expressou no imediato reconhecimento internacional da vitória de Lula, com manifestações vindas de todos os quadrantes políticos, de Emmanuel Macron, da França, a Joe Biden, dos Estados Unidos, do esquerdista Alberto Hernandez, da Argentina, a ultradireitista Giorgia Meloni, da Itália, passando pelo conservador Rishi Sunak, do Reino Unido e os socialistas António Costa e Pedro Sánchez, de Portugal e Espanha, respectivamente, além de Josep Borrell, o encarregado das Relações Exteriores na União Europeia.

Do Canadá à Patagônia, das margens do Atlântico às ilhas e costas do Pacífico, do Oceano Ártico à ponta sul da África, acorreram mensagens entusiasmadas com o feito de Lula, que alguns anos atrás parecia condenado ao ostracismo e agora prepara a saída triunfal do Brasil do isolamento geopolítico a que foi condenado pela política externa desastrosa do governo Bolsonaro.

A Noruega e a Alemanha anunciaram sua disposição de retomar sua participação no financiamento do Fundo Amazônico, que fora suspensa desde o desmonte dos controles sobre o desmatamento da floresta e de outros biomas brasileiros, promovido pelo atual governo.

Agenda cheia na COP27

Lula nem tomou posse, e já é estrela convidada da COP27, que se realiza na cidade de Sharm el-Sheikh, na ponta sul da península do Sinai, no Egito. Lula desembarca na conferência do clima nesta semana acompanhado de sua esposa, a socióloga Rosângela Lula da Silva, a Janja, do ex-chanceler Celso Amorim, cotado para ser assessor especial da presidência da República, e pelo ex-ministro da Educação Fernando Haddad, pressentido como novo ministro de Relações Exteriores.

A agenda de Lula será pesada e apertada. Dela já constam a participação em pelo menos três fóruns públicos e dez encontros bilaterais com mandatários ou representantes de países ou líderes de organismos internacionais, entre eles o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, o presidente egípcio, general Abdul Fatah al-Sisi, o presidente do Banco Mundial, David Malpass, e o enviado especial da China, Xien Zhenhua.

Há forte expectativa de que Lula lidere a articulação mundial para uma ajuda financeira por parte dos países mais ricos às nações mais vulneráveis do ponto de vista climático, além da formação de uma frente de proteção às florestas tropicais com a Indonésia e a República Democrática do Congo, detentores, como Brasil, de mais da metade destas florestas no mundo.

No entanto, as expectativas positivas em relação ao futuro governo não se restringem apenas à essencial pauta ambiental. A política externa do governo que se encerra, que pode ser descrita como "errática e convulsiva", comprometeu seriamente o renomado prestígio da diplomacia brasileira. Espera-se que o futuro governo Lula restabeleça este prestígio, reconduzindo o Brasil à posição de liderança do Terceiro Mundo em fóruns internacionais, como o G-20 e a Comissão de Direitos Humanos da ONU.

Destaque na mídia europeia

Por fim, deve-se assinalar que, embora a mídia dominante na Europa costume olhar para os governantes de esquerda na América Latina com um certo ceticismo, a vitória de Lula repercutiu intensamente nos veículos de comunicação europeus. Dou um exemplo: no dia seguinte à eleição do ex-presidente, o seu retrato ocupava as capas dos mais diferentes jornais em todas as bancas de Berlim.

Trata-se, no fundo, de uma questão de credibilidade e de decoro do cargo. Espera-se que Lula restabeleça a confiança no comportamento governamental, mesmo com quem tenha discordâncias em relação a ele. Ao mesmo tempo, ele deve constituir um ponto de equilíbrio no Brasil, assim como em relação à toda a América Latina, à África e demais continentes, além de evitar vexames protagonizados pelo atual presidente Jair Bolsonaro, como os de pisar no pé da então chanceler alemã, Angela Merkel, ou distribuir sorrisos e tapinhas amistosos no funeral de uma rainha, ocorrido recentemente no Reino Unido.